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OPINIÃO

A geração “É o Tchan” e seu falso moralismo

Só uma dúvida: não deveríamos (enquanto sociedade) ter discutido o quanto as crianças da década de 90 (minha época) sensualizavam dançando "É o Tchan" e Geração do Samba, Cia do Pagode, Bonde do Tigrão? Tinha até concurso no Programa do Gugu. "Todo mundo" adorava e aplaudia. "Vai descendo na boquinha da garrafa, é na boca da garrafa, sobe e desce na boquinha da garrafa..." "Depois de nove meses você vê o resultado...Joga ela no meio, mete em cima e mete embaixo". Tudo bem. Evoluímos. E por isso percebemos isso. Hoje, "evoluídas", criticamos a Mc Melody, menina que faz menos pior que todas nós fizemos, com exatos oito anos de idade. É lógico que a internet ajuda o debate (quando as pessoas conseguem debater) e antes esse espaço não existia. Mas a TV também está nisso. Sempre esteve. Não fez nada? Ah tá, queria vender. Agora "quem" vende é a internet... Mas isso é obvio. Estou falando do falso moralismo e não do marketing. E por que naquela época era aceitável agachar na boca da garrafa, rebolando sem parar com 5,6,7,8 anos e hoje não pode cantar "recalque" imitando funkeira, que já está incitando a pedofilia.Pelo estilo de roupa? Opa. Peraí. As crianças, aplaudidas em 1994, não iam de calça dançar boquinha na garrafa não. Elas enfiavam um shortinho mais parecido com roupa íntima para rebolarem e serem como a Carla Perez. Do mesmo modo, hoje, as crianças que vivem naquela realidade sócio/cultural também se inspiram na Valesca. O funk é comum na favela. Não estou dizendo que é normal (dentro dos parâmetros familiares ou sociais), mesmo achando que o "normal" de cada lugar é um. Mas é comum. Elas escutam sim, desde pequenas. Só descobriram essa América agora na TV? Cabe aos educadores direcionarem o conhecimento para a criança, que a partir do início da formação da sua Psique aos 7 anos, irá começar a distinguir o que é e o que não é. O que quer, o que não quer. Não tem criança sendo obrigada a dançar funk em lugar algum. As que estão, estão adorando por sinal, assim como nós quando dançávamos "É o Tchan". Será que a nossa sociedade evoluiu mesmo? Ou é tudo uma questão de holofotes e sensacionalismo? Não quero ver minha futura filha dançando "É o tchan" como eu dancei e nem Valesca. Mas será que estão mesmo preocupados com as crianças de amanhã? Não sei. Estou a pensar. Quando eu descobrir algo sobre essa manifestação toda de preocupação com as crianças, eu compartilho. Ou não.

(Ana Paula Viana, jornalista)

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