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OPINIÃO

A redução da idade penal, o artista e a deputada Magda Mofatto

Roberto Naborfazan ,Especial para Opinião Pública

Carrego na bagagem da vida profissional as orientações de valorosos mestres, que observei e ouvi nos meus primeiros passos no jornalismo.

Na redação do Diário da Manhã, por exemplo, no início dos anos 90, mestre Ferreira Júnior sempre me dizia: “O bom jornalista não precisa de texto rebuscado. Quando mais simples e objetivo, melhor atenção terá do leitor.”

No chamado jornalismo alternativo, onde levamos as notícias que acontecem em Goiás, no Brasil e no mundo, principalmente, para a região nordeste do estado, objetividade e clareza são essenciais para a ampliação do hábito da leitura nas comunidades.

O preambulo acima se faz necessário para que possamos analisar o artigo escrito pelo jornalista Waldemar Rêgo, que também se intitula escritor e artista, publicado na coluna Opinião, aqui no DM, na segunda-feira, 06 de abril.

Para tratar de um tema que volta ao debate e envolve praticamente toda a sociedade brasileira, a questão da redução da idade penal, Waldemar usa da verborragia contra a deputada federal Magda Mofatto e foge do foco central, que é encontrar soluções para a alta criminalidade cometida pelos chamados “de menor”.

Logo no início de seu palavrório, o jornalista diz – As dejeções humanas (No dicionário - dejeções = s.f. Evacuação de excrementos; os próprios excrementos. / Matérias lançadas pelos vulcões.) são produtos de meio social que ele mesmo cria. – daí o odor das palavras usadas na sequencia do artigo.

Habituado a denominar de michês da imprensa os jornalistas que não comungam com suas convicções, que geralmente tem um tanto de pragmatismo partidário, Rêgo usa, gratuitamente, uma metralhadora verbal contra a deputada.

Não o conheço, mas, usando um termo constante em seus textos; a internet me disse.

Como a ele disse, segundo o artigo, que a deputada teve 118.458 votos de confiança da população goiana “apesar” de ter frequentado pouco a escola. Ele não deve viver no País de Luiz de Lindú, conhecido como Lula, o eterno.

Acusa ainda a deputada de, por ser milionária, defender a causa de uma sociedade liberal e alienada, n’uma confusa tese onde mostra um invejável currículo empresarial e político de Magda Mofatto, que, segundo o articulista – fala com a autoridade de quem tem os dedos carregados de anéis de ouro.

Falta ao senhor Rêgo a sensibilidade do artista que ele diz ser, ao desferir tantas grosserias contra a parlamentar, chegando ao topo da deselegância, para dizer o mínimo, ao comparar o discurso da deputada ao idealismo nazista.

Não fica claro, no entanto, se o que incomoda Waldemar é a vida empresarial de sucesso, o invejável currículo político ou o posicionamento da Magda Mofatto em favor da redução da idade penal no Brasil. Para quem acusa jornalistas de oficce boys da imprensa, o artigo de Waldemar do Rêgo tem Rito de missa encomendada.

Em entrevista a nós concedida, há dois anos aproximadamente, Magda Mofatto falou, entre outras coisas, do período difícil em que se viu viúva aos 23 anos, com parcos recursos, mas com muita fibra para vencer. Transformou sua casa simples em uma pensão, que foi o alicerce para o volumoso patrimônio conseguido com muito suor e visão empresarial. Fosse a hoje deputada federal balizada pelo argumento de que o homem é um produto do meio que vive, sabe Deus onde ela andaria hoje. Para o Homem (comum de dois) de caráter firme e espirito elevado, o meio em que vive é fonte para análise e aprendizado, de depuração ou perdição, e é na primeira idade, independente de posição social, que se opta pelo caminho do bem ou do mal.

Ou todos que vivem ou viveram em favelas, periferias e localidades com quase nenhuma assistência social estão fadados ao crime, a promiscuidade, ao barbarismo?

Nada está definido, o debate sobre a redução da idade penal vem de longa data e, só agora, está sendo colocado para a sociedade como um todo. É preciso coerência e respeito entre os que querem e os que não querem; pedantismo e destempero só criam mais entraves na busca de soluções.

A deputada federal Magda Mofatto não está só neste posicionamento e não usa o debate para autopromoção, foi um de seus compromissos de campanha e os 118.458 eleitores que a elegeram e todo o povo goiano a viu dizer isso na televisão por várias vezes.

Para aproveitar o tema, sem correr o rico de ser taxado de psicopata, assim o senhor Rêgo se referiu a jornalista Rachel Sheherazade, busquemos alguns episódios violentos envolvendo menores:

- A estudante Liana Friedenbach, 16, e o namorado, Felipe Caffé, 19, foram sequestrados e mortos em novembro de 2003 quando se preparavam para acampar em Embu-Guaçu, na Grande São Paulo. O grupo que os sequestrou era liderado por Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha, então com 16 anos. Felipe foi executado com um tiro na nuca horas depois do sequestro; Liana foi estuprada pelos integrantes do grupo durante cinco dias até ser morta por Champinha com 16 facadas.

- Em fevereiro de 2007, o menino João Hélio, de 6, que foi arrastado por 7 quilômetros em ruas movimentadas de quatro bairros no Rio de Janeiro depois que bandidos tomaram o carro de assalto. O bandido que dirigiu o carro era um menor, que deu risadas na cara dos policiais que o prenderam, sabia que em menos de três anos estaria matando outros meninos. Sobre o assunto, o jornalista Marcelo Bortoloti, da revista Veja, escreveu “O martírio público do menino João Hélio” está destravando a língua de dezenas de explicadores. São os mesmos que passaram a mão na cabeça dos “meus guris” que desciam ao asfalto para subtrair um pouco do muito que os ricos tinham e, assim, sustentar a mãe no morro. Chega de romancear o criminoso, de culpar abstrações como a “violência”, o “neoliberalismo”, o “descaso da classe média”...

Para os que dizem que a culpa é do meio miserável, vejamos estes dois casos:

- Em abri de 1997, em Brasília, 5 (cinco) jovens de classe média alta, dentre eles um menor de idade, assassinaram o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos de 45 (quarenta e cinco) anos, que dormia em uma parada de ônibus após ter participado de uma festa em comemoração ao dia do índio, ateando fogo ao seu cobertor, por terem confundido o mesmo com um mendigo. Aos 4 (quatro) maiores de idade: condenação em 2001, a 14 (quatorze) anos de prisão, com direito a regalias como banho quente, cortinas e posse das chaves das próprias celas, autorização para exercerem funções administrativas em órgãos públicos, sendo 3 (três) deles flagrados dirigindo seus próprios carros, em encontros amorosos em bares, regados a bebidas alcoólicas. Em 2004 os a 04 (quatro) receberam livramento condicional. Ao menor de idade, foi imposta a pena de 1 (um) ano de internação, sanção prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo encaminhado ao Centro de Reabilitação Juvenil do Distrito Federal, mas, cumpriu apenas 3 (três) meses.

- O corpo da adolescente Shayda Munielle, 17, foi encontrado no Parque Ecológico Serra de Jaraguá, na região central de Goiás,  no sábado passado (4) morta pelo ex-namorado, um menor de 16 anos. O menor vai responder pelos atos infracionais de ocultação de cadáver, homicídio e aborto.

Frase, em tom de desânimo, do delegado responsável pelo caso. “Infelizmente, pelas nossas leis, ele não passará mais do que três anos apreendido. Apesar da crueldade do crime que cometeu, ele estará de volta à sociedade em pouco tempo”.

Então, caro jornalista, escritor e artista, não é o meio, e sim a índole, o vírus do mal ou do bem que o indivíduo carrega, que pode ou não influenciar em suas boas ou más ações. Provocar o debate e defender suas posições independe de curso primário ou doutorado.

Disse à um amigo recentemente e volto a citar uma frase atribuída a Voltaire “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”

Graças ao jornalista que devora livros e respira liberdade de expressão, Batista Custódio, temos em Goiás espaço nobre para debater ideias e opiniões, geralmente, em alto nível. Espero não ter que ocupar este valoroso espaço com tréplica, mas se é para fazer o bom combate, em defesa da liberdade de opinar, pronto estarei.

Para reflexão dos pseudointelectuais, citemos Rui Barbosa: “O escritor curto em ideias e fatos será, naturalmente, um autor de ideias curtas, assim como de um sujeito de escasso miolo na cachola, de uma cabeça de coco velado, não se poderá esperar senão breves análises e chochas tolices.”

(Roberto Naborfazan é jornalista e radialista)

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