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OPINIÃO

Análise psiquiátrica do por que das manifestações de rua não incomodarem os “psicopatas” na política e no governo

Num artigo anterior (disponível em marcelofcaixeta.wix.com/marcelo) discorremos sobre como o Governo vem transformando “eu” dos brasileiros num “eu” ao mesmo tempo inativo para fazer as coisas e ativo para reclamar, ou seja, um eu asfixiado em sua iniciativa privada a quem só sobra ser um ressentido reclamão. Em julho de 2013 estas  reclamações contra os poderosos , eram difusas, primeiro voltadas aos empresários (“preços dos ônibus”), depois voltadas a “todo tipo de poder”. Foi nosso, como sempre, super-tardio “Maio de 68”, isto é, “somos proletários, somos o 99%, reclamando contra os poderosos, contra os 1%”. Estas “reclamações difusas” não deram em nada e fizeram a alegria dos poderosos : em primeiro lugar porque foram feitas por seres passivos por natureza (“não quebram nada”), os brasileiros. Em segundo lugar, porque foram feitas por indivíduos já “passivizados” por um Governo que os sufoca em sua individualidade de iniciativa privada (“não faça nada diferente da massa”). Em terceiro lugar, porque as reclamações eram difusas e intelectualmente superficiais: os poderosos, no Brasil, frios e calculistas como todos psicopatas, sabem muito bem esconder-se por trás de uma montanha de papel e instituições, quem leva cuspe na cara é o porteiro (sem ler, o brasileiro não entende os mecanismos profundos das hierarquias e instituições). Os que tentaram “radicalizar” a passividade brasileira foram escorraçados (“Black-blockers”), isto é, desarmados por esta “passivização” da sociedade. Os poderosos, mais uma vez, souberam engambelar e deixar a caravana passar.

Agora em 2015  a indignação ficou menos difusa, foi direcionada ao Governo, não só por causa da corrupção generalizada, mas também pela  percepção de que a iniciativa privada do cidadão está sendo sufocada pelo Estado – redundando em  mais arrocho econômico -  e  o pouco de iniciativa privada que sobra está sendo sugada para alimentar as “crias do Estado”  (bolsas, cotas, benesses, funcionários, etc) e seus currais eleitorais.

Os psicopatas poderosos mais uma vez deixam a caravana passar pois sabem que a “passividade brasileira” não vai quebrar nada, sabem que os brasileiros irão se cansar de irem para a rua e não verem nada mudar. Além de “não ver nada mudar”, há outra coisa que paralisa moralmente a classe média : seu governismo escondido (sufocados em suas iniciativas privadas, e acostumados a sugar e a aproveitar-se do Estado, as classes médias ibéricas [“herança de Portugal e Espanha”]  sonham mesmo é com um “concurso público”, é com uma “boquinha no Governo”). No fundo, portanto, a classe média sente que “está reclamando de quem, na verdade, ela adora, isto é, aquele Governo provedor, cujo “cartório-legalista” a ajuda sempre”.

Aí entende-se bem porque as “inócuas manifestações de rua” são até estimuladas pelos poderosos, pois com isto eles posam de bonzinhos, deixam a plebe gastar energia esperneando, achar que está “fazendo alguma coisa”. Os poderosos deixam as “crianças darem birra” porque sabem que não vai dar em nada mesmo, e elas ficarão “satisfeitas” porque “reclamaram” e soltaram sua energia.

Já as “verdadeiras manifestações” (conforme veremos abaixo), aquelas que poderiam mudar alguma coisa, estas são combatidas por todos, até os que se dizem de “direita” (mas na verdade representam mais  o “poder privado” do que uma “direita pública”). Exemplo disto são duas importantes revistas nacionais pretensamente  baluartes da “direita”, Veja e Época, cujos grandes articulistas, Reinaldo Azevêdo, Eugênio Bucci, reclamaram veementemente das vaias que o ex-Ministro da Fazenda Mantega recebeu em uma cafeteria. Este tipo de reclamação – ou seja,  reclamação pró-ativa no varejo – perturba mais os psicopatas poderosos (de esquerda ou direita)  do que as manifestações de rua, difusas, coletivas, inespecíficas, inócuas, inofensivas (“não quebram nada”). Questionar ou criticar um “psicopata poderoso” em público, junto à família, numa festa, num “ambiente íntimo”, etc,  rende muito mais lucro desestabilizador do que as “inofensivas manifestações” de rua. Por isso os poderosos, tanto de direita quanto de esquerda, reclamam tanto dos achaques no varejo e toleram tão bem os achaques no atacado.

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra (marcelofcaixeta.wix.com/marcelo), escreve na Seção Opinião Pública às terças, sextas, domingos (acesso grátis em DM.com.br)

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