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Francisco Gomide e os grandes reservatórios de água para geração de energia elétrica

Salatiel Soares Correia Especial para OpiniãopúblicaLi recentemente uma interessante entrevista de um técnico de grande respeito do setor elétrico brasileiro, o doutor Francisco Gomide. Para quem não é do ramo, vai aqui uma sucinta apresentação. Trata-se

Salatiel Soares Correia Especial para Opiniãopública

Li recentemente uma interessante entrevista de um técnico de grande respeito do setor elétrico brasileiro, o doutor Francisco Gomide. Para quem não é do ramo, vai aqui uma sucinta apresentação. Trata-se de um conceituado professor de hidráulica da Universidade Federal do Paraná, com doutoramento em prestigiada universidade norte-americana.
Francisco Gomide foi diretor da Itaipu Binacional e ex-ministro das Minas e Energia. O que mais me chamou atenção na entrevista que ele concedeu à Revista Brasil Energia se refere às consequência de uma decisão que o governo brasileiro tomou anos atrás, creio que devido à enorme pressão de grupos ambientalistas, bastante articulados politicamente, ou seja, a de construir usinas hidroelétricas com grandes reservatórios. A partir de então, optou-se pela construção das usinas a fio d´água, cuja principal característica se centra em dispensar o armazenamento de água. A consequência dessa decisão se fez notar anos mais tarde, na alta dependência das chuvas, em que o setor elétrico tem de gerar eletricidade para atender às demandas da sociedade.
O fato é que o sistema ficaria muito menos dependente das chuvas se ainda predominasse a política de construção de grandes reservatórios. Estes evitariam a entrada excessiva daquelas usinas que tanto impactam o meio ambiente, além de doerem no bolso dos consumidores, pois seu preço e operação são cerca de 10 vezes mais elevados do que das usinas hidroelétricas. Falo das termoelétricas.
Posto isso, voltemos à entrevista concedida pelo doutor Francisco Gomide que originou estas linhas. Pergunta da Brasil Energia: “Não estaria na hora de mudar essa estratégia e voltar a ter usinas com reservatórios?" Eis a resposta de Francisco Gomide: “é gravíssimo o erro que está sendo cometido, de romper o necessário equilíbrio entre estoque de energia-água armazenada nos reservatórios de um sistema predominantemente hidrelétrico — e fluxo de energia — a energia garantida hidráulica, ainda que complementada por energia de outra origem, como térmica, por exemplo. Para cada configuração do sistema hidrotérmico [hidráulico + termoelétricas], a teoria estocástica dos reservatórios ensina a dimensionar o armazenamento necessário para assegurar, a um determinado nível de risco hidrológico, o suprimento de certa quantidade de energia elétrica em certo horizonte de tempo.”.
Em outras palavras, o que Francisco Gomide quer dizer se relaciona à dependência que as usinas sem reservatórios e termoelétricas implicarão no setor elétrico, uma espécie de calcanhar de Aquiles: o de depender excessivamente das chuvas e do uso abusivo de termoelétricas para atender às demandas da sociedade por eletricidade. Que um novo modelo seja repensado, então, considerando o necessário aumento da capacidade de armazenamento dos reservatórios. É o que pensa o doutor Francisco Gomide e o que, modestamente, também, pensa este escriba.

(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. Autor, entre outras obras, do livro Tarifas e a Demanda de Energia Elétrica)