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OPINIÃO

Líder udenista salva líder pessedista de crime eleitoral

A campanha eleitoral de 1950, em Conceição do Norte, corria célere, a todo vapor, como fogo de morro acima e água de morro abaixo, sem nenhuma intercorrência digna de registro. Naquele ano, no plano federal, eram candidatos ao Palácio do Catete Getúlio Vargas pela coligação PTB - PSP, Eduardo Gomes pela aliança UDN, PRB, PDC e PL, Cristiano Machado pelo PSD, PR, POT, PST, João Mangabeira pelo PSB, tendo como vices, respectivamente, Café Filho, Odilon Braga, Altino Arantes, Alípio C. Neto e como candidato avulso Vitorino Freire pelo PTN.

No âmbito estadual goiano pleiteavam o Palácio das Esmeraldas Pedro Ludovico Teixeira pela coligação PSD - PTB e Altamiro de Moura Pacheco pela UDN/PSP, tendo como companheiros de chapa, respectivamente, Jonas Ferreira Duarte e Aquiles de Pina. Naquele pleito, apurada a votação na esfera federal, verificou-se o seguinte resultado: Getúlio Vargas 3.849.040 votos (48,73%), Eduardo Gomes 2.342.384 votos (29,66%), Cristiano Machado 569.818 votos (9,71%), João Mangabeira 9.466 votos. (0,12%), enquanto os vices, cujas votações não eram casadas, obtiveram esses números de sufrágios cada um: Café Filho 2.520.790 votos (35,76%), Odilon Braga 2.344.841 (33,26%), Altino Arantes 1.649.309 votos (23,40%), Alípio C. Neto 10.800 votos (0,15%) e Vitorino Freire 524.079 votos (7,43%). Votos nominais 7.049.719; votos brancos 1.048.778; votos nulos 156.392; votos apurados 8.254.989. Deixo à perspicácia dos leitores algumas curiosidades nestas votações, de caráter político, que identifiquei.

Em Goiás, Getulio Vargas conquistou 61.228 votos (43,5%), Eduardo Gomes 55.446 votos (39,04%), Cristiano Machado 24.106 votos (17,01%), João Mangabeira 45 votos (0,0%). Votos válidos 140.825, tendo Pedro Ludovico obtido 77.651 votos e Altamiro de Moura Pacheco 50.672 votos. Diferença pro doutor Pedro Ludovico 29.035 votos.

Na época, em Conceição do Norte, era presidente do Diretório do PSD o capitão Lindolfo Rocha Torres, enquanto meu pai, Salvador Francisco de Azevedo, presidia o Diretório da União Democrática Nacional - UDN.

Depois dessa abordagem político-histórica, com intenção pedagógica para conhecimento das gerações que não viveram ou não acompanharam os fatos políticos, a partir do fim da República Velha, em 1930 e até a redemocratização do País, em 1945, vou entrar no mérito deste artigo, conforme o enunciado no seu título.

Antes da cédula única de votação, instituída pela Lei nº 2.582, de 30 de agosto de 1955, as cédulas eram individuais, que os diretórios dos partidos encaminhavam, com antecedência aos lideres políticos municipais para que seus eleitores pudessem votar no dia do pleito. Acontece, porém, que não tendo recebido as cédulas de Getulio Vargas e do dr. Pedro Ludovico, o chefe pessedista conceicionense entendeu por bem e correto mandar fazer algumas, à mão, com os nomes de seus candidatos, distribuindo-as, na noite anterior ao dia do pleito, aos seus eleitores.

Entretanto, tomando conhecimento o líder udenista do fato agiu rápido para evitar o pior, procurando seu opositor dizendo lhe que, de acordo com o Código Eleitoral, as cédulas deveriam ser tipograficamente impressas, o que não foi possível fazê-lo naquele tempo e localidade, com a advertência de que, em caso de materialização do sufrágio, a eleição seria anulada, com a convocação de uma nova, suplementar, com a presença de forca federal, sem prejuízo do respectivo inquérito eleitoral a que deveria responder o cacique ludoviquista, sob as penas da lei. Sensato, como ele era, embora tenha se descuidado na observância das exigências legais, mandou, incontinenti, recolher as cédulas falsas distribuídas. Resultado: apurada a votação, todos os votos foram destinados ao brigadeiro Eduardo Gomes e ao médico Altamiro de Moura Pacheco e nenhum a Getulio Vargas e Pedro Ludovico, ficando o prócer pessedista livre de processo judicial. Fato idêntico ocorreu naquela eleição, no antigo município de Galheiros, no nordeste goiano, onde foi líder absoluto o velho e folclórico deputado João Bernardes Rabelo, porém ao inverso. Todos os votos foram destinados aos candidatos pessedistas e nenhum aos candidatos udenistas.

Por informação de meu pai, eu naquela época com onze anos de idade, tomei conhecimento do fato, de que não me resta nenhuma dúvida de ter sido verdadeiro.

(Sisenando Francisco de Azevedo, advogado, historiador, escritor, articulista do DM e membro da Associação Goiana de Imprensa – AGI)

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