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OPINIÃO

Macaco que põe a mão em cumbuca...

Tive uma professora, no último ano de ginásio (1961), que ensinava Geografia. É bem provável que eu tenha escolhido essa matéria, quando decidi que deveria ser professor, por influência dela – Dona Umbelina, uma jovem preta e linda, puro sorriso e autoridade! Envolvia-nos com sua presença, sua fala e seus conceitos, ensinava por mapas e versos, por falar e exemplos – uns citados, outros demonstrados por suas próprias atitudes.

Dona Umbelina é uma linda mulher, ainda. Imagino-a na casa dos 80 anos – visto que eu próprio libero-me do voto obrigatório no próximo setembro – e vivi, há menos de uma década, a felicidade de um reencontro (fui visitá-la em seu apartamento, no Leme). Ouvi – melhor dizendo, re-ouvi – preciosidades de sua lavra, sobretudo no que concerne aos processos educacionais. Ela entende profundamente de pedagogia, viaja por conhecimentos fartos fora de sua formação universitária (é capaz de ensinar Português e Matemática, Química e Física e outras disciplinas), como fazia, ainda, no velho casarão do Grajaú (região da Tijuca), herdade do pai, o marechal João Batista de Mattos, que conheci por indicação dela, nesse mesmo casarão. Nesse casarão histórico, a mestre de milhares de alunos saudosos, espalhados pelo Brasil todo e alguns pontos esparsos do mundo reunia estudantes carentes, preparando-os para exames regulares, para concursos e vestibulares etc.

São vários os conceitos lapidares que Dona Umbelina espalhava, todos os dias, nas muitas aulas que ministrava no Colégio Pedro II e outros estabelecimentos de ensino da Cidade Maravilhosa. Hoje, estou com um deles martelando-me a memória: “Aluno precisa aprender a decorar. Sabe por quê? A decoreba é a mãe da inteligência!”. Já vi e ouvi incontáveis educadores contestar essa máxima, eu mesmo entre estes; mas o tempo e a razão ensinam-me que Umbelina está certa. Decorar é o exercício da memória, e sem memória não exercitamos bem o cérebro. Sem memória não evoluímos – marcamos passo incansavelmente, porque sempre nos esqueceremos que o passo de agora não é o primeiro...

Por que evoco tudo isso, agora?

Acho que por causa do movimento dos professores de São Paulo, Ou de uma advertência dos professores municipais de Goiânia. Ou do choro generalizado em todo o território brasileiro, nos três níveis de ensino, nos três níveis de governo. Ou por causa da dramática situação a que chegaram os profissionais de Saúde da prefeitura de Goiânia, drama igualmente vivido pelos mestres, ante a decisão antipática, antidemocrática, inconstitucional e agressiva do Executivo que manda reduzir os quinquênios, por exemplo, de 10% para 5%. Ou da cínica declaração do secretário de Finanças que critica os grevistas, acusando-os de colocar em primeiro plano seus propósitos corporativistas em prejuízo da população.

Jeitinho esfarrapado para jogar a população contra os profissionais, hem, siô? Há uns dez anos, lembro-me bem, eu o elogiei numa das minhas crônicas – ao tempo em que, no governo do Estado, esse Sr. ocupava a Pasta da Administração. A mudança, parece-me, não é de ideologia, mas de chefe, hem?

A empáfia do secretário na tevê durou pouco – o tempo bastante para uma declaração do promotor que acompanha o caso, que foi claro: o dinheiro da Saúde há de ser gerido pelo titular dessa Pasta, e não pelo de Finanças, por ser verba específica, de origem federal – e criticou que se usem tais recursos em controle financeiro.

Bem! Creio que minha memória – que foi treinada pela minha inesquecível Umbelina Professora – me provocou. E sobre a Saúde de Goiânia, nada mais tenho a dizer (nem o tal secretário dos dinheiros, claro).

(Luiz de Aquino, jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras)

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