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OPINIÃO

O centenário de Pedro Celestino da Silva Filho, político e poeta

O poeta Pedro Celestino da Silva Filho também dedicado às lides políticas, foi um cantor do sertão goiano e dos costumes da gente cerradeira e roceira. Em meio a suas atividades políticas, também se dedicou a cantar a terra de Goiás, por meio de versos livres, ou por meio de discursos e estudos históricos.

Pedro Celestino da Silva Filho nasceu em Corumbaíba, Estado de Goiás, na velha rua Miguel Siqueira, em 27 de outubro de 1915 e faleceu em Goiânia em 1996, aos 81 anos de idade. Era filho de Pedro Celestino da Silva e Durvalina Neves da Silva.

Estudos no Rio de Janeiro, no Juvenato Mariano da cidade de Mendes e em Morrinhos. Depois, estudou no Ginásio Anchieta de Bonfim de Goiás. Fez o curso Normal na Escola Normal de Morrinhos. Ali, trabalhou no famoso Grupo Escolar Pedro Nunes, de notável atuação no magistério goiano. Ficou até o ano de 1942, quando ficou a disposição da Prefeitura Municipal de Morrinhos, na administração de Guilherme Xavier de Almeida.

Casou-se em 1942 com Zuleica Borges Pereira Celestino, notável e reconhecida contabilista e professora, advogada brilhante. Desse consórcio vieram três filhos. Mias tarde, já em Goiânia, envereda pelo curso Técnico de Comércio, no Ateneu Dom Bosco, ampliando seus horizontes. Envereda ainda pela área do Direito.

Mas sempre foi um professor, amigo dos livros e das histórias, da poesia e da sensibilidade; embora o meio político fosse a isso adverso. Representou os professores primários, lutou pelo magistério e pela valorização dos mestres. Foi um idealista sobretudo.

Na AGl, foi um acadêmico cônscio de seu dever. No PSD fez história por sua atuação. Como jornalista amou a justiça e seu jornal O Liberal, de Morrinhos, fez história. Foi ainda diretor do Jornal Diário da Tarde.

Professor e jornalista em Morrinhos. Deputado estadual, foi presidente da Assembleia Legislativa de Goiás. Foi, também, deputado federal. Conselheiro do Tribunal de Contas. Membro da Academia Goiana de Letras, entidade que presidiu. Publicou: Rabiscos, Ligeiros traços históricos de Morrinhos, Seara de ideias, Rosas atômicas, Vivendo, Da janela do trem.

Erudito, sua obra é vasta e se define como um homem preocupado com o seu tempo e com o seu meio. No seu poema “O aboio”, Celestino Filho (1992, p. 13), evoca com simplicidade o panorama sertanejo, com o sentido canto da jaó, a tiguera, os campos soltos, as clareiras e meio às matas abundantes, densas e escuras, por meio dos ecos do aboiar, povoando as solidões dos ermos cerradeiros daqueles tempos, coisa que não se ouve mais no presente, nos mesmo lugares ocupados pela expansão das usinas ou industrias.

Geme o jaó na tigüera

Ou dos soitos na clareira,

E responde da tapera

Sua ingênua companheira.

A tarde tudo tempera

De tristeza e de ternura...

A paz se espraia e perdura,

E, apagando a voz do arroio,

Dilui-se na mata escura

O eco plangente do aboio.

Em outro poema do mesmo livro, intitulado “Fogo-pagou”, Silva Filho (1992, p. 26) destaca a rolinha do sertão, do Cerrado, que chora anunciando a tarde; que povoa de sofrimento os vastos sertões, na melancolia dessas horas; faz uma analogia da vida com uma tapera, na destruição de sentimentos,como escombros; desilusão esta cantada pela rolinha. É um belo poema telúrico e evocativo das aves pequeninas e singelas do sertão e do Cerrado goiano.

Fogo-pagou

Fogo-pagou... fogo-pagou...

Chora a rola anunciando a tarde.

E o viço que no sangue lhe arde

Já, melancólico, se apaga...

A vida vira uma tapera,

Coivara de satisfação:

Escombros cobertos pela hera

Do fastio e desilusão...

Chora a rola fogo-pagou...

Bento Fleury 2

Em outro livro intitulado Rosas atômicas, Silva Filho (1977, p. 76) evoca a beleza singular das orquídeas do Cerrado, em que, nas árvores sem vida, afloram e trazem beleza mesmo após a morte vegetal. Numa analogia histórica, alude a Pompeia, sobre a decadência e o renovar, identifica a orquídea do Cerrado como a planta iludida, que se julga sempre viva, a partir da decadência e da morte, das pátinas e mofos do tempo, presa também ao infortúnio alheio, mas florida e sempre viva. Sua beleza, no pensar do poeta, traz alegria ao ancião de face austera e encanecida, na surpresa de ver tanta beleza, em meio à morte de outras árvores.

O sorriso tristonho que floresce,

Do ancião na face austera e encanecida,

É a terna e rara orquídea que aparece

Nos troncos secos de árvores sem vida...

Ao contrario das outras plantas, cresce

Sorvendo a força, o viço, embevecida

Do meio ambiente, do calor que a aquece,

Num esforço centrípeto iludida.

Refletindo o infortúnio da ruína,

Pompéia trêmula, na decadência,

Nas pátinas da vida que declina...

Por entre os musgos da tristeza enflora,

Trescalando suave reverência,

Reminiscências de longínqua aurora...

Celestino Filho é de uma época em que se fazia política por ideal e que os políticos ainda conseguiam ver a flor de Drummond brotando do asfalto negro da insensibilidade. Nesse seu centenário de nascimento; a lembrança de sua atuação como político, como professor, como jornalista e; sobretudo, como poeta, sensível e arguto; amante infinito das belas palavras!

(Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado, graduado em Letras e Linguística pela UFG, pós-graduado em Literatura Comparada pela UFG, mestre em Literatura pela UFG, mestre em Geografia pela UFG, doutorando em Geografia pela UFG, escritor, professor e poeta. [email protected])

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