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OPINIÃO

O estúdio da Rádio Clube e o ventilador

Na época dourada do rádio – 1960/1980 –, quando a coqueluche eram as rádios Nacional e Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro e Tupi, em São Paulo, a Rádio Clube de Goiânia, ZYZ-3, a Pioneira (do grupo Diários e Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand, também marcou época. Noticiosos, auditório, música e serviço público. Nessa seção, o locutor funcionava como um 'coviteiro, tentando reaproximar os namorados brigados!

Eu, particularmente, tinha minhas apresentações nos noticiosos, nas reportagens externas e, jovem, galã, falante, era responsável por dois programas populares. Um, no auditório da emissora, ali na Rua 2, com a Avenida Goiás, distribuindo prêmios, descobrindo valores - como as duplas Zezé e Zezinho (depois Cristian e Ralf), Irmãs Galvão e os cantores Lindomar Castilho e Amado Batista. Nomes consagrados como Dircinha Batista, Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Eli Camargo levavam público lotando o auditório e mantendo a liderança da audiência. O outro, diretamente de uma sala do Liceu, chamado 'Os estudantes fazem das suas', incentivava os liceanos ao cultivo do seu lado artística. É que eu era candidato, pela situação, à presidência do Grêmio Literário 'Felix de Bulhões'. Apesar de todo o aparato, perdi para o concorrente Iris Rezende Machado!

Mas o forte, mesmo, da audiência, eram as notícias. De hora em hora, os boletins de cinco minutos. Às 10 da noite, entrava no ar o jornal falado, com as últimas do Brasil, do mundo e de Goiás. A equipe de produção trabalhava na escuta das rádios Nacional, Tupi e BBC de Londres, em língua portuguesa. Não era tarefa fácil, porque os rádios mais xiavam do que falavam!

O famoso Cunha Jr. e eu erámos os apresentadores.

- "Senhoras e senhores ouvintes, são exatamente 10 horas da noite. Está no ar o 'Informativo Folha de Goiás', com as últimas notícias do Brasil, de Goiás e do mundo, o mais completo noticioso goiano", enchia o peito o Cunha, toda noite. Exceto sábado e domingo.

Era uma hora de notícias, entrevistas, comentários, etc.

Um certo dia, fazendo muito calor no estúdio, pois não havia ar-condicionado, o Cunha, após 'pôr no ar' o jornal falado, enquanto eu lia o que me tocava, ele fez sinal, pelo janelão de vidro, para o auxiliar de operador, que estava na sala de controle, para trazer o ventilador. Este, funcionando a todo vapor, lá na técnica, é tirado da tomada e levado, cuidadosa e silenciosamente para o interior do estúdio. Colocado no piso, ajeitado bem para a nossa mesa, Lumumbo liga a tomada!

Não ficou um só papel sobre a mesa, voando 'laudas', num tumulto, até engraçado, pelo inusitado, no  pequeno ambiente. Parei, perplexo, sem saber o que fazer, com as páginas escritas sumidas de minhas mãos. O Cunha, mais experiente do que eu, se refez rápido do susto, tomou a palavra e anunciou:

- "Senhoras e senhores, um 'acidente' interno nos impede de dar continuidade ao Informativo Folha de Goiás. Amanhã, comentaremos o incidente. Boa-noite".

O telefone não parou de tocar, os ouvintes, afinal, querendo saber que acidente foi esse!

(Luiz de Carvalho, jornalista)

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