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OPINIÃO

Os milhões de fiéis que buscam o Divino Pai Eterno

Diariamente, quem transita pela rodovia que demanda de Goiânia a Trindade tem tempo de ver não poucos caminheiros rumo à nossa capital da fé, sendo que durante o período que compreende a última semana do mês de junho e o primeiro final de semana de julho, a pista destinada a pedestres se vê tomada por milhares de pessoas durante todos os nove dias da novena celebrada tanto na antiga Matriz quanto na Basílica, quantidade essa que em sua soma total de fiéis que lá chegam para prestar os seus votos de crença e confiança no Divino Pai Eterno, alcança os dois milhões de pessoas.

Esse costume que remonta, quem sabe, a períodos bem anteriores às cruzadas na Europa quando se iniciou, primeiramente a pretexto de se fazer uma peregrinação , embora embutido nisso estava também, e este era o objetivo principal, o da igreja católica de incentivar o combate aos chamados mouros e hereges, que haviam ocupado a cidade santa de Jerusalém, as romarias foram atravessando séculos, se firmando como uma tradição independentemente de qual religião se professe.

Mundo a fora, muitos são os destinos dos peregrinos ou romeiros, levados pelas suas crenças e fé, alguns deles percorrendo, a pé, distancias enormes para pagar promessas ou mesmo em penitencia, persistindo em nossos dias junto aos católicos, roteiros internacionalmente conhecidos como o Santuário de Fátima, Jerusalém, Vaticano e, por último bastante divulgado, o caminho de Santiago da Compostela cuja extensão para quem quer faze-lo completo, se situa entre Portugal e Espanha, e tantos outros, enquanto que para os muçulmanos existe a obrigação, para os que dispõem de recursos financeiros para tanto de, pelo menos uma vez na vida, se dirigir a Meca em peregrinação, para adoração da pedra negra angular oriental da Kaaba.

No Brasil vários são os costumes e tradições regionais, cumpridas fervorosamente e repassada de pais para filhos e a maior dela, sem dúvidas é a de se deslocar para Aparecida no Norte no Estado de São Paulo, onde se situa sua basílica, para louvar a padroeira do país, Nossa Senhora Aparecida, que diariamente recebe milhares de fiéis de todas as partes do mundo.

No nordeste uma peregrinação que anualmente é noticiada é a do Padre Cicero , grande referencia religiosa dos nordestinos, que tendo sido pároco e prefeito de Juazeiro do Norte, tem ali uma enorme estátua objetivo final dos caminheiros e viajantes que para ali se deslocam em penitencias, cânticos e orações.

Cá no Centro Oeste, mais precisamente no nosso Estado de Goiás, é considerada com mais antiga romaria, datada inicialmente de 1748, em louvor a Nossa Senhora D'Abadia, a que tem como destino a cidade de Muquém, percorrida, na sua forma mais tradicional em trecho de 45 km, muito embora fiéis das mais diversas partes também para lá se dirigem, tem sempre no seu encerramento as figuras mais exponenciais da politica goiana, professem a religião que professem lá estão eles, constritos em frente ao altar, em lugares previamente definidos e privilegiados, assistindo de forma atenta aos sermões do bispo regional e que embora a todo ano sempre aborde em suas homilias questões políticas e a conduta de seus atores, isso não os afugentam ou os intimidam, como se o assunto não lhes dissessem respeito, pois no ano seguinte de novo ali estarão com o mesmo semblante sério como de uma esfinge, como se as diretas ou indiretas do pregador só se encaixassem para políticos que ali não comparecem..

Seguindo se à de Muquém, está a de Trindade em louvor ao Divino Pai Eterno, desde quando a cidade ainda era apenas o povoado de Barro Preto isso no século XIX, cujo encerramento se dá sempre no primeiro final de semana do mês de julho e que atrai, de novo e também os políticos na mesma postura, milhares de fiéis das mais diversas parte do Estado e hoje até mesmo do país pois não raro se tem notícias de peregrinos de muitos outros Estados, percorrendo centenas de quilômetros a pé para alcançar a Basílica construída para abrigar e concentrar os devotos no final de suas caminhadas.

Se sagrando e consagrando como um evento da máxima grandiosidade, sem contudo perder e que isso jamais aconteça, o seu principal objetivo que é o de louvar, bendizer e agradecer ao Pai Eterno, a tradição de se alcançar aquela localidade das mais diversas formas tem feito ressurgir uma modalidade de deslocamento nas romarias, que aliás é mais do que secular, o carro de boi, tendo até mesmo levado a construção de um carreirodromo em Trindade onde desfilam as dezenas desses veículos vindos das mais variados regiões do Estado, sobretudo de Hidrolândia, Mossâmedes, Brazabrantes, Anicuns e outras localidades goianas.

Buscando oferecer uma maior segurança aos romeiros que saem da capital com destino a Trindade, o governo estadual construiu há mais de duas décadas, sob a administração de um administrador mais do sério e honesto, Henrique Santillo, uma via destinada exclusivamente aos caminheiros com dezessete quilometros de extensão, recentemente melhorada e ampliada na administração anterior do atual governo, com a preservação das estações que simbolizam etapas do martírio de Jesus Cristo rumo ao Calvário, representadas por magnificas obras do grande artista plástico goiano Omar Souto.

Fazendo anualmente o percurso a pé, durante os nove dias seguidos, em agradecimento pela cura de um cancer de minha esposa, o que farei enquanto vida e força em tiver, tenho visto que as modificações feitas no ano passado, melhoraram e muito as condições para os caminheiros, entretanto, ficando ainda a desejar a questão dos sanitários que não puderam ser conservados em cada estação, em razão do vandalismo, banditismo de irresponsáveis que arrebentam com as instalações, quase sempre para ser reutilizada em moradias, ou vendida para alguém com essa mesma finalidade.

Sem falar que muitos a tudo fazem para depredar e derrubar obstáculos que lhes impediam de transitar de carro pela via destinada exclusivamente a quem faz o percurso a pé. Infelizmente, as regras da boa convivência social e o respeito a outras pessoas quase não encontram guarida no íntimo da maioria das pessoas que procuram sempre o caminho mais curto mesmo que a diferença no encurtamento de seu percurso seja mínima, ter maiores facilidades e á exemplo da famosa “lei do Gerson”, e assim levar vantagem em tudo.

Pena que o atual estágio de educação da grande maioria, não p   não permite a ela, que tenha respeito e consciência suficiente para o respeito e exercício de cidadania necessários à observância e correta utilização daquela via para o propósito que foi construída, ou seja de uso apenas dos pedestres, pois se isso houvesse, com certeza ficaria mais fácil a sua conservação e que poderia ser feita ocasionalmente e ela nunca ficaria em situação tão precária conforme vem sendo o seu normal, tão logo ela passa por alguma manutenção.

(José Domingos, jornalista, auditor fiscal, professor universitário, escritor e poeta. E-mail- [email protected])

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