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OPINIÃO

Por que ultimamente tem havido altos funcionários do governo dispostos a atacar o próprio patrão? Uma análise psiquiátrica

Tanto o procurador da República em Santa Catarina, Davy Lincoln, aí abaixo, quanto o juiz federal Sérgio Moro estão fazendo uma coisa que seus congêneres geralmente não fazem, ou então fazem mas não é divulgado: atacando as “estruturas do poder”, ou estatais ou empresariais ligadas ao Estado. Sabemos que, de modo geral, o Estado brasileiro não  visa o desenvolvimento da nação, mas sim o privilégio de alguns, ou melhor, de muitos. Mas todos estão notando que alguma coisa está mudando. O quê está mudando? E por quê? O objetivo deste artigo é analisar esta questão.

Abaixo transcrevo o artigo de Dacy Lincoln, “Tomara que Deus não existe”, onde ele ataca os próprios privilégios, ou seja, os  privilégios de “casta” tão disseminados no Brasil. Depois começarei a tentar analisar estes fatos psiquiatricamente.

“Brasil, um País onde não apenas o rei está nu. Todos os poderes e instituições estão nus, e o pior é que todos perderam a vergonha de andarem nus. E nós, procuradores da República, e eles, os magistrados, teremos o vergonhoso privilégio de recebermos R$ 4.300,00 de “auxílio moradia”, num País onde a Constituição Federal determina que o salário mínimo deva ser suficiente para uma vida digna, incluindo alimentação, transporte, moradia e até lazer.

A partir de agora, no serviço público, nós, procuradores da República dos procuradores, e eles, os magistrados, teremos a exclusividade de poder conjugar nas primeiras pessoas o verbo morar.

Fica combinado que, doravante, o resto da choldra do funcionalismo não vai mais “morar”. Eles irão apenas se “esconder” em algum buraco, pois morar passou a ser privilégio de uma casta superior. Tomara que Deus não exista…

Penso como seria complicado, depois de minha morte (e mesmo eu sendo um ser superior, um procurador da República, estou certo que a morte virá para todos), ter que explicar a Deus que esse vergonhoso auxílio-moradia era justo e moral.

Como seria difícil tentar convencê-Lo (a ele, Deus) que eu, defensor da Constituição e das Leis, guardião do princípio da igualdade e baluarte da moralidade, como é que eu, vestal do templo da Justiça, cheguei a tal ponto, a esse ponto de me deliciar nesse deslavado jabá chamado auxílio-moradia.

Tomara, mas tomara mesmo que Deus não exista, porque Ele sabe que eu tenho casa própria, como de resto têm quase todos os procuradores e magistrados e que, no fundo de nossas consciências, todos nós sabemos, e muito bem, o que estamos prestes a fazer.

Mas, pensando bem, o inferno não haverá de ser assim tão desagradável com dizem, pois lá, estarei na agradável companhia de meus amigos procuradores, promotores e magistrados.

Poderemos passar a eternidade debatendo intrincadas teses jurídicas sobre igualdade, fraternidade, justiça, moralidade e quejandos.

Como dizia Nelson Rodrigues, toda nudez será castigada!”

Nunca, em meus 52 anos de vida, vi nada parecido, um alto funcionário público com vergonha de suas benesses, colocando o orgulho da profissão (“defender a Constituição”) acima dos privilégios que o Estado lhe concede. De fato,  penso que sempre existiram uns poucos que colocam a eficiência profissional acima dos privilégios do cargo. São raros e sempre foram silenciados ou atacados pelos pares, pelo governo, pela estrutura. No caso dos inúmeros “auxílio isto e aquilo” que cabem à magistratura, promotores, procuradores, defensores, advogados da União, etc, este é o único caso que vi até agora. Ele está fazendo isto porque o “espírito dos tempos” permite e estimula? Ou é uma característica pessoal, tipo: “É um “louco”? Um incendiário”? Como tenho recebido muitas críticas em relação a meus artigos longos (“o povo já tem preguiça de ler e estes artigos seus, tão longos, aí é que ninguém lê mesmo”) vou deixar esta discussão para o próximo artigo, na sexta-feira.

(Marcelo Caixeta, médico psi-quiatra)

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