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OPINIÃO

Que tal perguntar para a mãe?

O Ministério da Saúde pretende, por meio de uma Resolução Normativa, corrigir a distorção constatada pela Organização Pan-Americana de Saúde em que o Brasil se posiciona entre os campeões mundiais de cesarianas. Não é para menos: num universo onde são realizados 2,9 milhões de partos no País, 55,6% são conduzidos por meio de procedimentos cirúrgicos.

Nos hospitais particulares, esse índice chega a 88%. Os números estão muito acima da meta de, no máximo, 15% recomendada pela Organização Mundial de Saúde.

É importante ressaltar que, na prática, a resolução não deve proibir a cesárea, mas estimular a ideia de que a cirurgia deve ser uma possibilidade remota, uma necessidade extrema. Isso porque vai exigir da equipe médica o preenchimento do partograma – um documento onde são elencadas as etapas do trabalho do parto, e o detalhamento técnico do motivo pelo qual o médico precisou optar pela cirurgia. Isso vale para todos os médicos, tanto da rede pública quanto privada. A intenção é reduzir o número das cesáreas, em tese, desnecessárias.

Partindo de uma visão global, muitas mulheres preferem a cesárea por receio da dor, de serem atendida por outro médico, não aquele que a acompanhou durante o pré-natal. Outras, inclusive, optam pela cesariana após um parto traumático do primeiro filho, isso quando não são resistentes a engravidar novamente. Elas simplesmente não querem reviver um sofrimento físico e emocional, e para tanto, preferem decidir sobre si. Uma questão muito particular!

Apesar de muito comemorada, a medida tem dividido a opinião de especialistas e rendido preocupação às mulheres. A essa altura, é importante considerar que muitas delas não se veem preparadas para ter um parto normal.

A experiência médica nos mostra que a partir da 38ª semana, um feto com formação natural, está pronto para nascer, mas sabe-se que quanto mais tempo permanecer dentro do útero, no prazo considerado normal, em boas condições de saúde, é melhor para seu desenvolvimento e amadurecimento dos pulmões.

O assunto é mesmo polêmico. Por dois motivos: Ninguém melhor que um profissional para orientar como a criança deve nascer. É ele que conhece a fundo as condições de saúde do bebê. Por outro lado, ninguém melhor do que a mãe para dizer da sua condição física e emocional. É ela que se vê abalada diante da perspectiva da dor, da sensação de fragilidade emocional, e isso inclui, recorrentemente, o medo de que ela e o bebê morram.

Do ponto de vista médico, o pós-parto normal é menos traumático para a mãe do que o pós-cesárea. É menos doloroso e a recuperação é mais rápida. Do ponto de vista emocional, no parto normal, a mãe participa ativamente desse momento, para muitas, sublime, de dar luz, e não simplesmente o assiste.

De fato, são incontestáveis os benefícios do parto normal. Mas, é preciso que a mudança de pensamento sobre ele, ocorra de forma gradual. É preciso preparar nossas futuras mamães para o parto normal, sem tirar delas o direito de se manifestar.

Ciente da importância da discussão desse tema em conjunto, a Câmara dos Deputados aprovou requerimento que apresentei à Comissão de Seguridade Social e Família, em que prioriza a realização de audiência pública sobre o parto normal no Brasil. Dia 14, ouvimos o Ministério da Saúde, os setores ligados à área médica especializada e as mães, principais interessadas em serem ouvidas.

A escolha sobre o parto é, sobretudo, uma questão cultural. E como se sabe, as mudanças culturais não se fazem da noite para o dia. Se há mesmo que priorizar o parto normal, que isso seja feito de forma gradual e consciente. Mas primeiro, que tal perguntar para a mãe?

(Flávia Morais, deputada federal pelo PDT e coordenadora adjunta da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados

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