Home / Opinião

OPINIÃO

Um antídoto para a crise

O cenário nacional anuncia uma crise econômica de impacto significativo nas contas públicas e na vida de cada cidadão brasileiro. É necessário que o país experimente um forte programa de ajuste fiscal que compreende uma série de ações que passa por cortes profundos em diversas áreas do governo central. Mas, ao mesmo tempo, são imprescindíveis ações para fomentar o aumento de receita, a formação de poupança na perspectiva do equilíbrio fiscal e, essencialmente, a realização de atos de gestão que vão ao encontro das aspirações da sociedade por serviços de qualidade.

As marchas democráticas que levam milhares às ruas trazem a mensagem clara de que os brasileiros querem viver em um país próspero, ético, seguro, onde possam exercer ao máximo a liberdade de pensamento e de ação, mas igualmente onde possam ter oportunidades de demonstrar talentos e assegurar legítimo direito à prosperidade.

Estamos convencidos de que a receita ortodoxa em curso no Brasil, com corte de subsídios e benefícios, aumento de impostos, tarifas públicas, combustíveis e redução de incentivos, aplicada de maneira unilateral, aprofundará o cenário de crise e contração da economia.

Mais: a estagnação da indústria, a queda dos preços das commodities, a deterioração das contas públicas, o aumento da inflação, se não houver imediata correção de rumos, conduzirão à temida recessão que não queremos, nem merecemos, com consequências danosas para o conjunto da sociedade.

As previsões da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizadas no mês de março nos permitem um comparativo sobre as perspectivas entre algumas das maiores potências mundiais. Desta forma, entre 11 economias importantes, o Brasil é o único com a expectativa de resultado negativo no PIB em 2015 (-0,5%).

Surpreendentemente, de acordo com as perspectivas da OCDE, a Índia é o país que terá melhor performance no contexto mundial: expansão de 7,7% em 2015 e de 8% em 2016. Por que a Índia, um dos países que, assim como o Brasil, integram os Brics, trilha por um caminho positivo? Um olhar sobre as políticas locais nos apontará que a via do fomento é muito mais eficaz para a superação de crise do que a visão estritamente financeira na gestão macroeconômica.

A Índia formulou o orçamento nacional integrado como proposta para o desenvolvimento de longo prazo, ampliou investimentos, reduziu a carga tributária sobre a atividade produtiva e colhe como resultado, além da estimativa extraordinária de crescimento, uma inflação projetada na faixa dos 4,5%.

A China, gigante milenar, é referencial em crescimento econômico, justamente por ter conseguido diminuir os abismos de renda em uma sociedade integrada de diversas etnias. Isto se verificou por meio de uma decisão de governo de buscar o desenvolvimento com forte investimento em infraestrutura, com controle intenso do câmbio – às vezes manipulando artificialmente a moeda – e com internacionalização da economia como forma de impactar e ser hoje um dos mais importantes players do planeta. Mesmo que tenha perdido força nos últimos anos, a expectativa é de que a China cresça 7% ao ano em 2015 e 2016.

Aqui na América, os Estados Unidos estão em processo de superação de uma crise profunda tendo como fundamento econômico o caminho inverso àquele sinalizado pela atual equipe econômica brasileira. Lá, o governo ampliou os investimentos, injetou recursos em diversas cadeias produtivas, fez desabar a taxa de juros, dentre outras tantas ações macroeconômicas e o resultado é que a maior economia do planeta, assim como o “day after” do “Big Crash” de 1929, ressurge cada vez mais forte. As perspectivas da OCDE para o crescimento dos EUA é 3,1% este ano e de 3% em 2016

Mercados livres são essenciais para fazer a democracia próspera, mas são pré-condições para seu pleno funcionamento o Estado de Direito, a convivência ética sob regras impessoais, universais e transparentes.

O Brasil permanece a pugnar pela retomada crescimento, o que somente será possível pela recomposição dos investimentos para gerar novas demandas e aquecer o mercado.  É imprescindível reestruturar a indústria nacional, assegurar crédito para o agronegócio, garantir educação de qualidade, impulsionar a ciência, a tecnologia e a inovação.

Uma gestão não tem como apenas cortar, isto é a obviedade da crise, é a ausência de criatividade empreendedora, é o apequenar da dimensão do estado enquanto indutor do desenvolvimento. É preciso que a União tenha a inteligência criativa para elaborar instrumentos que permitem ampliar a base de arrecadação do Estado, sem a óbvia majoração tributária, justamente para que sejam preservados investimentos sociais e em infraestrutura. Ajuste eficiente não pode residir apenas na conta despesa/investimento, ajuste eficiente é aquele que cria mecanismos de aumento de receita, de diminuição de custo com ampliação de serviços, equação difícil, mas perfeitamente possível.

Acreditamos que a economia saudável só pode ser possível quando a política cumpre o papel de escolher ferramentas úteis, viáveis e adequadas para abrir caminhos capazes de garantir novos investimentos produtivos que fortalecem e ampliam a produção, com reflexos diretos no dia a dia das famílias. A aposta será, sempre, o trabalho continuado e intenso para ampliar as conquistas da sociedade.

(José Eliton, vice-governador de Goiás e secretário de Desenvolvimento Econômico)

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias