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OPINIÃO

Ursulino Leão: o crixaense

Nos idos de 1962, quando assumi a Comarca de Crixás, como o seu primeiro juiz de Direito, um novo mundo descortinou para mim.

Além da nova função, exercer o cargo que algumas gerações da família passara por este Poder Judiciário, me empolgou bastante e vi aproximar de mim a grande responsabilidade de julgar um semelhante, ser detentor de um poder inimaginável naquele momento.

Comecei batendo cabeça, pois logo deparei com a aproximação de uma eleição (a primeira como diretor da mesma), e por falar a verdade, pouco sabia do movimento eleitoral da parte do Poder Judiciário. Havia prestado serviço em outras eleições, mas do lado político, ajudando o meu tio Alceu na cidade de Goiás, mas dirigir uma eleição, nunca.

Sabe, cara-pálida, um suor frio escorreu pelo meu corpo, mas fui em frente, enfrentando as dificuldades de um juiz iniciante.

Tinha uma amizade séria com o prefeito de Crixás, Jair de Carvalho Feitosa, meu conhecido de algum tempo, irmão do Antônio Feitosa, meu colega de Banco Industrial, e este estava numa expectativa danada pela eleição, pois desejava fazer a maioria na Câmara Municipal e os atuais ocupantes eram quase todos oposicionistas a ele.

Mas a eleição transcorreu bem e me safei dela com certo aperto, confesso, mas com alguns elogios.

Agora, meu querido cara-pálida, vou adentrar nos meados do meu título, no respeitante à figura do Ursulino Leão.

Estava eu em certo dia no gabinete do prefeito quando este me mostrou uma enciclopédia dos municípios goianos, destacando dentre elas os vultos históricos de cada comuna. Assim, por curiosidade peguei o volume destinado ao município de Crixás. Além de ser um dos maiores do Estado de Goiás, pois na época possuía 15.200 quilômetros quebrados, um Estado dentro do Estado. E todo histórico geográfico daquele município. E no destaque, de vulgos históricos de Crixás, figurava ali o nome de Ursulino Leão. Indaguei ao prefeito quem era tal pessoa. E este me descreveu tão bem tal figura, que pela descrição passei a admirá-lo sem conhecê-lo. Mas sempre existe um dia em que devemos confrontar com a “tal fera”. E este momento aconteceu. Foi na cidade de Anápolis. O Jair Feitosa precisava de algumas orientações do Ursulino e convidou-me para ir até Anápolis avistar com tal figura.

E lá fomos nós. Na chegada fomos bem recebidos e a pessoa que nós estávamos procurando mostrou, “de cara”, sua simplicidade e ótimo acolhimento em sua casa. Conversa vai, conversa vem, apareceu aquele cafezinho gostoso, para aumentar ainda mais o prazer da boa prosa.

Fiquei fã do Ursulino desde aquele instante.

Daí a frente sempre encontrávamos em algumas solenidades cívicas e este sempre me distinguia com um dedinho de prosa. Era deputado, mas nem parecia tal a sua simplicidade para com a gente.

Certo dia seu nome foi cogitado para alçar o Tribunal de Justiça, como desembargador, e este figurou como primeiro lugar para a nomeação do governador.

Só sei dizer, caríssimo cara-pálida, Ursulino foi preterido, justamente por um governador que sempre distinguira como “amigo”, nomeando um outro nome, parece o último colocado na lista.

Um primo, muito chegado a mim e ao Ursulino, soltou esta perola que guardo até os dias de hoje:

Fulano entrou de moldura e saiu de “quadro”.

Tal assacação referia que o nomeado não era para ser o desembargador, aparecera na lista para compor nomes, pois o certo era a nomeação de Ursulino.

Este, como gentleman que sempre foi, aceitou com resignação tal “pancada” do “amigo” governador, ensarilhou as armas, nunca mais foi o político que todo mundo admirava.

Ficou desgostoso com a traição do “amigo governador” e afastou de vez do mundo político, adentrando nos meandros de suas escritas, lançando livros e mais livros, encantando a todos nós com seu repertório.

Semana passada, li no jornal um convite de Ursulino para o velório de sua irmã Nazareth, vi a fotografia dos dois. Ursulino parece que está em bom aspecto. Também pudera, todo o crixaenese que se preza tem alto-astral e vigor físico para dar e vender. Ainda bem, meu querido, sou cidadão crixaense.

(Orimar de Bastos, juiz de Direito aposentado, advogado militante em Caldas Novas, membro da Academia Tocantinense de Letras, ocupante da Cadeira n° 33 e membro da Academia de Letras e Artes de Piracanjuba-GO e Cidadão Calda-novense)

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