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OPINIÃO

Itumbiara 2016 e o desafio do amanhã

Compreender os específicos da economia local só é possível se entendermos os movimentos da economia regional e nacional nos relacionados com o capitalismo interestatal que garante a atual paisagem social e política para todas as quadraturas do planeta.

É nesse sentido que os agentes políticos mais à esquerda do arco da política da goiana cidade de Itumbiara devem se situar. É mais ou menos o que nos conta o general Sun Tzu em seu A Arte da Guerra sobre a necessidade de identificação dos territórios. A questão é simples: ou compreendemos os territórios aos quais estamos submetidos ou seremos eliminados.

É que somos, admitamos isso ou não, parte de uma ampla esquemática sócioprodutiva e que opera em todo o mundo, gerando complementaridades e contradições, possibilidades urbanas e formas novas para o rural, fragmentações e apartações da cidade enquanto deslinda formas novas de consumo.

O apelo é por se reinventar, melhor dizendo, por reinventar a economia. Desenvolver criatividades econômicas centradas na gestão da produção pelas classes do trabalho. Essa é, de fato, uma função histórica dos trabalhadores e exclusivamente dos trabalhadores. Não encomendamos esse atributo histórico pelos correios, não existem fórmulas prontas ou lemos seu itinerário nas cartas do tarô. O caminho está em cada um de nós, na capacidade de nos convertemos coletivamente em força política orgânica, inteligente e taticamente situada.

Governos e autarquias podem, no máximo de sua potência, fornecer alguma normatização ou regulamentação acerca das práticas laborais, considerando ainda e, sobretudo, o necessário resguardo dos interesses dos patrões. De outro modo, o invento ou reinvento do trabalho é obra dos próprios trabalhadores. O que afirmo não possui qualquer novidade! Karl Marx será absolutamente claro e clarividente quanto a isso ao afirmar que: "a libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores".

A reflexão a que me permito fazer é que toda política séria e efetivamente profunda precisa tocar no ponto nevrálgico das relações de produção. Não é mais possível que as pessoas que, de fato, produzem diuturnamente, vivam submetidas aos rigores medonhos da vida salarial; não é possível que gerações inteiras de brasileiros sejam perdidas ante a formas produtivas notadamente desumanas, escravocratas e neoescravocratas; não é mais admissível que a vida humana se converta em combustível barato para alimentar estruturas de poder assentadas no privilégio, na ociosidade, na ostentação e na apropriação do Estado.

Não, definitivamente, a igualdade ainda é tema moderno, atual e acima de tudo, necessário porque ou temos a capacidade de orientar nossa vida comum pelas balizas éticas e morais da igualdade que, em se tratando de um País assimétrico como o Brasil é, em si, a Justiça e o melhor da moral se processando e acontecendo ou seguiremos assistindo ao desaparecimento de gerações inteiras sob os rodopios imprevisíveis do capitalismo monopolista, autocrático e contemporâneo.

O papel da governança local é o de se somar aos esforços planetários pelo desenvolvimento de formas novas de consciência a partir do trabalho livre e autogerido. É nesse sentido, garantir centro teórico e sensível para temáticas como a qualidade de vida, o bem-estar, a preservação ambiental e a ecologia. Efetivamente, a lógica empresarial e monotemática de converter tudo o que há em lucro privado perde espaço em um ambiente como esses.

É, portanto, nesse cenário e nessas condições que a goiana Itumbiara tem muito a dizer ao Brasil, ao mundo mas, sobretudo e, principalmente, para sua população trabalhadora que a faz e produz todos os dias por meio do seu trabalho, das suas vivências e das tramas convivais que desenvolve permanentemente.

Estas reflexões iniciais se inserem na antevéspera do período eleitoral que se avizinha onde todos nós sabemos que as velhas oligarquias mandonistas, os “pinóquios velhos”, no dizer do cantador Chico César, alvissareiros e carregados de si mesmos se erguem firmes e vaidosos a fim da continuidade de sua lógica de poder destrutivo, ocioso e parasitário visando, tão somente, privilégios pessoais, a entrega dos miúdos e restantes ativos ambientais para a grande empresa operante na cidade e que não pode prescindir do cerrado, de suas águas, de seus saberes e de seu povo.

(Ângelo Cavalcante, economista, cientista político e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Campus Itumbiara)

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