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OPINIÃO

Reprogramação bioquímica contra o câncer

Vírus estão sendo projetados em laboratório, programados para matar células cancerígenas.

A guerra contra as doenças está próxima de ser vencida pela matemática da bioquímica.

Em 1904 uma mulher na Itália, que sofria de câncer e havia sido mordida por um cachorro foi vacinada contra a raiva canina e curiosamente também se curou do câncer que a acometia. Logo após, várias outras pacientes com câncer também receberam a vacina, que era um composto contendo o vírus da raiva vivo e atenuado, e também obtiveram cura ou encolhimento substancial de seus tumores cancerígenos, o que abriu o precedente para uma nova abordagem sobre o combate ao câncer, livre de fármacos, drogas, venenos, quimioterapia e substâncias que destroem tanto o câncer quanto os tecidos normais do corpo.

O conceito de tratamento do câncer por meio de vírus está sendo estudado há mais de cem anos, tanto em animais de laboratórios como em humanos, que se voluntariam no fim da vida para fazer testes, que, para eles, é a última esperança, e que tem atingido resultados surpreendentes, já chegando a 11% de sucesso dos casos em cura total do câncer.

O processo de “aprendizado” que as células cancerígenas passam, adquirindo resistência às novas drogas é um dos obstáculos a serem vencidos pelos programadores genéticos que criam as máquinas biológicas programáveis de extermínio de células cancerígenas, que são os vírus modificados geneticamente.

O alto índice de aproveitamento desse estudo, realizado em sincronia por renomados cientistas de dezenas de universidades ao redor do mundo é animador devido ao estágio avançado de câncer melanoma metastático crônico em que os pacientes do teste se submeteram e em todos os casos houve uma substancial diminuição da metástase, sendo que 11% deles obtiveram a cura do câncer.

Enquanto as pesquisas para o aprimoramento dos vírus destruidores de células cancerígenas continua há outra frente de batalha no campo jurídico tentando aprovar na U.S. Food and Drug Administration (agência reguladora de alimentos e drogas dos Estados Unidos), a autorização para que a os médicos já possam receitar a viroterapia em conjunto com os tratamentos convencionais contra o câncer em seus pacientes, visto que a viroterapia se vale do fato de que as células cancerígenas têm seu metabilismo modificado inexplicavelmente, para agirem de forma totalmente fora de lógica para um organismo vivo e assim perdem parte de suas defesas contra o ataque microbiano, perdem a capacidade de produzir a substância antiviral chamada “interferon”. Essa debilidade das células cancerígenas são a verdadeira porta de entrada para os vírus criados geneticamente e programados para atacar apenas células que não tenham o “interferon” como defesa básica.

Essas máquinas biológicas programáveis de extermínio de células cancerígenas, os vírus, oferecem uma série de características atraentes para a terapia contra o câncer, e cientistas tentam melhorar várias delas para aumentar a potência e a segurança.

Por um lado, certos vírus - por conta própria ou com algum estímulo - infectarão células cancerosas seletivamente, ignorando as normais, ou crescerão apenas nas células cancerosas, deixando as saudáveis relativamente incólumes. Essa seletividade é importante para minimizar efeitos colaterais provocados principalmente por um dano a tecidos normais.

Uma vez dentro de uma célula cancerosa, os vírus podem ser poderosas máquinas de matar. Nenhum vírus pode se reproduzir por conta própria, mas se encontrar condições adequadas em uma célula, ele pode sequestrar essa máquina de copiar genes e de sintetizar proteína para produzir novas cópias de si mesmo. Se tudo correr bem, no caso do tratamento do câncer, um vírus vai gerar um exército de clones que se lançam para fora da célula infectada pelo tumor e procuram e infectam células cancerosas vizinhas ou até mesmo distantes. Às vezes, os vírus que escapam literalmente explodem uma célula invectada ao saírem, processo conhecido como lise celular, daí o nome “viroterapia oncolítica”. Em outros casos, os vírus matam mais furtivamente, programando sutilmente uma célula tumoral para iniciar uma sequência de autodestruição, denominada suicídio celular, ou apoptose.

Além de destruir células tumorais, quando um vírus infecta uma célula, traz à tona diversos mecanismos “espectadores” que podem matar células cancerosas que resistiram à infecção, inclusive o chamado colapso vascular. Considerando que os vírus oncolíticos são predominantemente seletivos para células tumorais, algumas cepas também infectam vasos sanguíneos do tumor. Essa infecção secundária atrai células do sistema imunológico que danificam vasos sanguíneos, bloqueando o fluxo de sangue para o tumor e causando sua morte por “asfixia”, literalmente, deixando a célula cancerígena sem nutrientes e sem oxigênio.

Outro recurso é o rápido recrutamento de células do sistema imunológico para se programarem para detectar e eliminar células cancerígenas pelo organismo, aumentando a eficiência do combate às células malignas no corpo.

Trabalhos mais recentes mostram que essas células do sistema imunológico às vezes são redirecionadas para o câncer em si e são, em muitos casos, fundamentais para o sucesso terapêutico. Apesar do desconhecimento de todos os detalhes de como, quando e porque essa transição ocorre, é sabido que o processo de infectar e matar células tumorais gera resíduos celulares que induzem a produção de pequenas moléculas imunoestimulantes denominadas citocinas e também ativam as células dendríticas do sistema imunológico. Células dendríticas normalmente monitoram o organismo buscando quaisquer entidades estranhas ao corpo e alertam as células T assassinas do sistema imunológico para montar uma resposta contra o invasora aparente. Neste caso, acredita-se que as células dendríticas tratem componentes do tumor como “estranhos” e despertem o sistema imunológico para a presença de um tumor em crescimento.

Além de todos os benefícios potenciais os vírus podem ser programados para se comportar de maneiras diversas dos vírus naturais: podem ser geneticamente modificados para, por exemplo, diminuir sua capacidade de se reproduzir em células saudáveis e aumentar a sua replicação seletiva em células cancerosas. O genoma do vírus também pode ser modificado para proporcionar outras características de combate ao câncer, como a capacidade de o vírus estimular o ataque do sistema imunológico do organismo contra o câncer, simulando os efeitos da presença de uma célula cancerígena e ensinando o sistema imunológico a caçar e matar as células cancerígenas do corpo.

Pesquisadores estão explorando todo esse conhecimento para melhorar a viroterapia de várias maneiras, algumas delas sendo testadas em estudos clínicos em curso.

A produção em larga escala laboratorial para uso comercial dessas verdadeiras máquinas de caçar e matar o câncer é só uma questão de tempo. Os resultados de todos os testes sempre são favoráveis e as soluções para as atuais resistências que as células cancerígenas ainda tem contra os vírus já foram superadas teoricamente e já se sabe como manipular os vírus para vencer essas defesas.

Mais uma vez a matemática impregnada nas leis físicas do universo se mostra eficaz ao demonstrar que cálculos e fórmulas matemáticas são sempre a resposta para tudo o que existe no universo. A ciência sempre vence o desconhecimento.

(André Luís Neto da Silva Menezes, pseudônimo: Tiranossaurus Rex – publicitário, inventor, filósofo, músico, integrante da Royal Society Group e vice-presidente da Associação Canedense de Imprensa - [email protected])

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