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OPINIÃO

Saga da família Rassi – centenário de Alberto Rassi

“A terra do sonho é distante

e seu nome é Brasil

plantarei a minha vida

debaixo de céu anil”.

Milton Nascimento

Imigração é o movimento de entrada, com ânimo permanente ou temporário e com a intenção de trabalho ou residência, de pessoas ou populações, de um país para outro, definição encontrada na Wikipédia

As guerras e perseguições políticas e religiosas foram o principal motivo dos grandes movimentos migratórios que aconteceram para as Américas entre os séculos  XIX e XX, embora o desejo pessoal por mudanças também tenha um peso significativo neste processo. No caso de muitos países das Américas, houve ainda o incentivo governamental para que ocorressem os movimentos migratórios, como é o caso do Brasil.

O Brasil do século XIX caracteriza-se pelo intenso processo imigratório, que viria atender a uma grande demanda de mão de obra que surgiria após as transformações políticas e econômicas pelo qual o recente criado país republicano passava. Foram centenas e centenas de pessoas, de todas as nacionalidades, que na busca por uma qualidade de vida melhor aportaram no território brasileiro trazendo na bagagem seus tesouros e no coração os mais caros sonhos.

Dentre as nacionalidades que aqui vieram se estabelecer temos a libanesa. Oficialmente, a Imigração Libanesa no Brasil começou em 1880, quatro anos após o imperador Dom Pedro II ter visitado o Líbano. Segundo o historiador Antônio Gasparetto Júnior, “os libaneses constituem um grupo entre a grande imigração dos árabes no Brasil(...) o fluxo migratório dos libaneses pode ser descrito em  quatro fases ou períodos: de 1850 a 1900, marcando o início do processo imigratório; de 1900 a 1918, quando a imigração já se encontra em processo avançado e é possível falar em colônias árabes no Brasil; e de 1918 a 1950, período que associa as duas fases finais e leva os libaneses mais para a região Sul do País em decorrência do notório crescimento econômico.

Segundo a doutora em História Heliane Prudente Nunes, em seu livro A imigração árabe em Goiás, “Os conflitos vividos no mundo árabe levaram e ainda levam muitos a procurar outras terras na Europa, na Oceania e nas Américas. Tendo como causas da emigração fatores políticos, religiosos e pressões demográficas e socioeconômicas, as primeiras correntes migratórias árabes chegaram ao Brasil a partir das três ou duas últimas décadas do século XIX. Em sua maioria, os imigrantes eram sírios e libaneses que, a princípio, eram registrados como turcos por terem passaportes emitidos pelo império turco-otomano que os dominava.”

Ainda nos fala Heliane Nunes que  “a vinda dos árabes para Goiás se deu a partir da última década do século XIX, com um afluxo maior na década de 1920. Os árabes que chegavam a Goiás nessa década procuravam se estabelecer nas cidades ao longo da Estrada de Ferro e, muitos se mudavam quando a estrada avançava adiante para outras localidades. O potencial econômico do Estado ou os laços de parentesco, ou seja, a presença de familiares no Estado são as duas razões mais mencionadas pelos imigrantes pela escolha de Goiás(...), manter-se perto de familiares e patrícios facilitava a estadia no novo mundo, e por isso, procuravam se estabelecer onde os seus se encontravam”.

Dentre os grandes lutadores e sonhadores que imigraram, primeiro para Cuba e depois para o Brasil, posteriormente fixando-se em Goiás, na cidade de Vianópolis e de forma definitiva em Goiânia, estavam  Abrão Rassi e Dona Mariana. E é desse tronco, do mais puro cedro, que nasceram os filhos Leonardo, Alberto, Salvador, Glória, Luiz e Aurora, que iniciariam aqui um registro de contribuição inegável para o desenvolvimento do Estado de Goiás e de forma mais especifica na área da Medicina.

As grandes dificuldades que o casal Abrão Rassi e Dona Mariana passaria, iniciaram-se quando aportaram no Rio de Janeiro e estavam sendo esperados por familiares em Santos. Assim, um pai com mulher, seis filhos, pouco dinheiro e num país estranho, viu-se frente a frente com a primeira grande adversidade em sua nova pátria. Foram para Vianópolis-GO,  última estação da Estrada de Ferro, que abrigava uma comunidade vinda de Cheikn-Taba, no Líbano. Em Goiás nasceriam os  novos filhos:  João, Fued, Raul, Anis e Afif. Depois de um acidente que ceifou, de forma prematura, a vida do filho Salvador, Abrãao resolve vir para a nascente Capital do Estado, no ano do seu Batismo Cultural e aqui fixar residência.

Dentre as grandes contribuições que a Família Rassi legou para os goianos e goianienses, sem dúvida foi a dedicação sem limites aos cuidados com a saúde e bem-estar do povo goiano através do exercício da honrosa profissão de médico. Hoje, os Rassi se destacam no nosso Estado e fora dele, sendo reconhecida como a Família Medicina. O pioneiro na área foi Alberto, que, apesar das grandes dificuldades, formou-se em Medicina em 1940, no Rio de Janeiro. Um ano depois, estava em Goiânia atendendo na Avenida Bahia, em Campinas. Mais um ano e abriu o Instituto Médico-Cirúrgico, depois chamada de Casa de Saúde Dr. Rassi.

Seu irmão Luiz, ajudado por Alberto, também se formara em Medicina, na mesma faculdade. De volta a Goiânia em 1948, marcaria o início de sua trajetória profissional que seria uma das mais brilhantes dentro da Medicina e da sociedade como um todo. Os irmãos  Leonardo e João, também com a colaboração do Dr. Alberto Rassi, se dedicariam à área da saúde através do ramo farmacêutico.

Neste período, trabalhavam na nova Capital menos de 100 médicos que deveriam cuidar de todos os pacientes locais e aqueles vindos do interior. E, mais uma vez, a Família Rassi viria contribuir para a melhoria deste cenário. No ano de 1953 formavam-se Raul e Anis, irmãos do dr. Alberto e dr. Luiz. Por último, Afif, em 1957, totalizando a incrível marca de cinco médicos de mesmos pais.

Não parou por aí a incrível determinação desta família de imigrantes libaneses, quando começaram a se formar os netos de Abrão e Mariana, a Medicina ganhou mais 13 nomes: Alberto Rassi Júnior, Rubens Rassi, Ronaldo Rassi, Luiz Rassi Júnior, Pedro Moura Rassi, Salvador Rassi, João Rassi Filho, Sérgio Gabriel Rassi, Anis Rassi Júnior, Alexandre Gabriel Rassi, Gustavo Gabriel Rassi, Luciana Rassi e Ana Lúcia Rassi. Juntando aos descentes de Abrão, são hoje cerca de 100 médicos e médicas.

Do tronco inicial, para nossa alegria, temos a sorte de conviver com o dr. Luiz Rassi. Ele foi o fundador e presidente da Associação Médica de Goiás, em 1950. Um ano depois realizaria o primeiro evento profissional da saúde em Goiânia, o Congresso Médico do Brasil Central. Foi ainda pioneiro da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás em 1960, e um dos primeiros a atender em Brasília, ainda antes da inauguração oficial da cidade.

A Família Rassi construiu o atual Hospital Geral de Goiânia Alberto Rassi, na década de 50. Não poderíamos deixar de falar um pouco sobre este hospital que, além de imortalizar com justiça um dos nomes mais expressivos da Medicina em Goiás, o de Alberto Rassi, ainda se tornou através das mãos do nosso competentíssimo governador Marconi Perillo um dos grandes hospitais referência em tratamentos humanizados na saúde pública do Brasil. E, ainda, temos o Hospital São Salvador e o Anis Rassi, referência em tratamentos de doenças cardíacas.

Estes seres humanos exemplares, Abraão e Mariana Rassi, construíram sua história e a gravaram em todo o povo goiano através de suas ações, suas lutas e através de seus filhos Alberto, Luiz, Anis, Afif, Leonardo, João, Salvador, Fued, Raul, Glória e Aurora enfim, de todos seus descendentes, filhos e filhas, netos e netas, sobrinhos e sobrinhas. O nome Rassi  está imortalizado em nossa história e gravado fundo na memória dos goianos e especialmente na memória de todos aqueles que por suas mãos generosas obtiveram a cura, a melhora para os males que os afligiam. São milhares de pessoas que reconhecem a importância do trabalho desenvolvido pela Família Rassi na área da Medicina.

A Câmara Municipal de Goiânia não vive apenas de legislar. Leis são fundamentais, mas não mais importantes que os seres humanos que vivem e trabalham em nossa comunidade. E é a estes seres humanos excepcionais que no último dia 27 de abril, às 20h, a Câmara Municipal de Goiânia rendeu homenagens e comemorou o Centenário de Alberto Rassi, o primeiro Rassi a se formar em Medicina.

Nesta honrosa solenidade estiveram presentes muitos médicos e médicas, anjos enviados para cuidar dos nossos sofrimentos com abnegação e amor. A todos, nosso respeito e admiração. Para concluir, utilizo as palavras do dr. Marcos Ávila: “É inegável o papel central desempenhado pela Família Rassi na história da Medicina em Goiás. Com pioneirismo, idealismo e muita dedicação, várias gerações dos Rassi estiveram presentes na trajetória  da Medicina, desde os primeiros passos. Portanto, se hoje Goiás é referência em várias especialidades médicas, devemos, sem dúvida nenhuma, àqueles que abriram caminho e contribuíram para estas conquistas”.

Mais de 100 anos de trabalho e amor dedicados ao povo goiano, fazem de vocês pertencentes à  Família Rassi o foco do nosso carinho, nosso reconhecimento e nossa gratidão.

Felicito a cada um e cada uma que tiveram, têm e terão a honra de carregar este sobrenome: Rassi!

(Anselmo Pereira, advogado, empresário, vereador e presidente da Câmara Municipal de Goiânia)

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