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OPINIÃO

A imobilidade de Deus é prova maior de sua existência

Ainda na faculdade, pelos idos dos anos 90, levantou-se na sala um questionamento sobre o texto de São Tomás de Aquino sobre a imobilidade de Deus. Curso superior no norte goiano era uma raridade e eis que a Associação Educativa Evangélica resolveu abrir em Ceres, a Faculdade de Filosofia do Vale de São Patrício – Fafisp.

Foi uma novidade na época, porque nós jovens, recém saídos do ensino médio, não tínhamos muitas opções a não ser, principalmente aqueles que tinham condições financeiras favoráveis, ir para Goiânia ou Anápolis, cidades de Goiás que ofereciam o curso superior.

Estávamos eufóricos pela possibilidade de continuar os estudos e as opções na época eram licenciatura em Letras Modernas e Pedagogia. Escolhi a primeira opção pelo gosto desde criança pela escrita e leitura. Naquela época era um assíduo leitor de nossos escritores mais clássicos: Machado de Assis, Aluízio Azevedo, Basílio da Gama, Clarice Lispector, dentre outros muitos que jamais conseguirei listá-los todos aqui.

Dentre as muitas leituras realizadas no tempo de faculdade, chegou-nos às mãos o livro Filosofando, uma clássico da Filosofia, que encantou muita gente, mas também fez com que muitos colegas desacreditassem de Deus, seja pela fé já abalada pelos escritos filosóficos, seja pura e simplesmente pelo amor maior à metafísica.

E o mais interessante foi que a teoria de São Tomás de Aquino não teve e nunca terá a intenção de questionar a existência de Deus, pelo contrário, quando o filósofo propôs que Deus seria imóvel, porque se existisse uma força superior que fizesse Deus mover, então essa força seria maior do que Ele, na verdade, o que Aquino quis dizer é que Deus é esse motor primeiro, a força motriz que coloca tudo em movimento, inclusive a Si mesmo.

Aqui cabe lembrar o texto bíblico, quando afirma que Deus é o alfa e o ômega, o início e o fim, portanto, tudo converge para Ele. Na atribuição de imobilidade de Deus, Aquino simplesmente fala o que a bíblia tentou explicar a nós simples seres humanos: Deus é um movimento em Si, ou seja, Ele apenas move, não necessita de uma força superior para movê-Lo.

Alguns alunos, meus companheiros de jornada acadêmica, nunca entenderam a teoria de São Tomás de Aquino, preferiram parar seus estudos e trilhar por outros caminhos menos filosófico; outros, assumiram o desafio e preferiram acreditar pura e simplesmente na existência de um Deus que move tudo e não necessita de uma força para fazê-Lo em movimento, ou nas palavras de Aquino “Ex quo patet quod impossibile est Deus aliquo moto mutari”, ou seja, Deus está concluso, é imutável por perfeição (São Tomás de Aquino).

(Cleiber Fernandes dos Santos, professor universitário)

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