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OPINIÃO

Afogado em água boa

Água de beber

Água de beber camará

Água de beber

Água de beber camará

Tom Jobim e Vinicius

Eu penso que a crise hídrica ocorrida em São Paulo e Belo Horizonte não foi um azar, foi uma sorte. Período de crise é um período de oportunidade para repensar, debater, encontrar caminhos e buscar alternativas. E isso, está acontecendo agora, no Senado Federal, no Parlamento, estamos debatendo. Em meu discurso de posse já pautei essa questão, como um tema que precisava estar na agenda. Nascido e criado em Minas Gerais, depois de formado, vim para meio-norte goiano, e sempre convivi com a questão da chuva, da terra, da agricultura, enfim, da natureza. Então... e aprendi desde sempre a importância desse tema.

Desde moço, filho de “meieiro”, técnico agrícola, convivi com a agricultura de subsistência e com o agronegócio, e aprendi que nós não vamos interferir no tempo de chuva e tempo de estio. Na ação direta do homem na natureza a gente desequilibra o meio ambiente e o clima, Naquele tempo, meados dos anos 70, convivi com a expansão desordenada da agricultura no cerrado, com a utilização das novas tecnologias da Embrapa, a gente já começou a ter esse problema do veranico, um fenômeno natural e com outro provocado pelo homem chamado “pé de grade”, que forma uma camada dura e impermeável, que não percola e aí a água da chuva  leva a fertilidade da terra e açoria os riacho e os rios. Então, uma das alternativas para combater esse mal era o plantio em nível. Recentemente, em uma feira, em Não me Toque, no Rio Grande, eu vi que a questão do plantio em nível foi abandonada.

Trago para o debate dois projetos de minha autoria que tratam da água. Um que institui a inclusão no projeto de construção de residências, comerciais, ou industriais, obrigatoriedade de item para a captação de água da chuva e o seu reuso não potável, e outro que modifica a Lei de Política Nacional de Recursos Hídricos para incluir o aproveitamento de águas pluviais como um dos seus objetivos. Também provocamos, na Comissão de Meio Ambiente, a realização de Audiência Pública – em parceria com a Senadora Regina Souza, do Piauí, estado vizinho que compõe o Matopiba, para debater a crise, com gestores, pesquisadores e ambientalistas.

Na verdade, eu penso que o problema da crise hídrica é de gestão, porque nós não vamos resolver o problema da estiagem. Não temos tecnologia para isso. Aquela experiência de bombear nuvens não deu certo. No máximo vamos amenizar. Estou convencido, vejo que se a gente não tiver uma gestão melhor dos recursos hídricos, nós não vamos resolver o problema da água.Afogado em água, como diria a senadora do semiárido, Regina de Souza, do PT, São Paulo chamou a atenção para um problema histórico e secular que é a “Seca do Nordeste”, e agora a ”crise”, em São Paulo, onde chovee causa enchentes, mas falta água nas torneiras. Era preciso que fosse assim. A crise de São Paulo é a sorte do nordeste.

É possível afirmar, sem medo de errar, que o problema do Cantareira, não é a torneira de São Paulo. Apesar do desperdício do paulistano, o problema do Cantareira é, sem dúvida, a natureza, as agressões, o expansionismo. O problema do Cantareira se resolve com o cuidado das veredas, das nascentes, dos riachos e rios. Se harmonizarmos a natureza, com programas e projetos de recuperação e a gestão, resolveremos não só o problema dos reservatórios, mas o das torneiras de São Paulo, e das grandes metrópoles do sul.

Sendo assim, vamos ter que melhorar a gestão dos recursos hídricos, esse bem tão preciso que nós temos na natureza e no planeta: a água.

(Donizeti Nogueira, senador da República, pelo Partido dos Trabalhadores, Tocantins)

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