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OPINIÃO

Aos inimigos tudo, aos amigos a lei (parte 1)

Uma das coisas preciosas que Deus nos concede é o tempo. E é com ele que conto, na tranquilidade da minha consciência, um pouco do que vi e vivi e aprendi. Histórias das quais fui testemunha ocular e auditiva, das quais faço parte.

Neste período constatei que, ao contrário da vontade das personagens principais, preponderavam como verdadeiras as versões “fabricadas” pelas forças que gravitavam aos seus redores.

O dr. Henrique, por exemplo, foi vítima da trama de uma delas: a que o levou a refluir da candidatura ao governo goiano em 1982, dando a vez a Íris, postergando tal pleito para 1986. Por conta de tal pessoa, conhecido escriba, tantas foram as intrigas e tramas que o dr. Henrique cedeu a vez, o que considerou ter sido o seu maior erro político.

Já o erro do tal tecelão de diatribes foi tramar, logo em seguida, a derrubada de Onofre Quinan da condição de vice de Íris. Foi desmascarado.

Nesta ciranda de ambições envolvendo tais figuras, acompanhei de perto este e outros fatos políticos que tanto o prejudicaram. Fatos que foram desvendados e pessoas partícipes reveladas!

Quando, por exemplo, Iris Rezende foi eleito governador, continuaram as artimanhas de bastidores por parte de alguns antigos “amigos”, como também por novos amigos do poder. Eram os interesses pessoais desses tais falando mais alto, ainda que sabedores do inevitável estremecimento das relações Iris-Santillo.

De fato, nunca foram inimigos, mas os “satélites” fizeram parecer que sim. Repelindo a farsa, publicamente e à época, o dr. Henrique expressou a sua opinião sobre o ocorrido:

“Não tenho nada pessoal contra o Iris. Não analiso os fatos sob este prisma. Meu problema não é meramente pessoal, é uma questão mais profunda. É preciso conciliar programas desenvolvimentistas com os princípios democráticos. Ele tem alguns objetivos e uma prática política diferente da minha e está procurando exercê-la” (Henrique Santillo)

Aliás, o dr. Henrique já havia identificado a ação dos circundantes, no caso de Íris, localizando a vulnerabilidade do companheiro de partido. Cassado pela ditadura, em 1969, ele estava de volta, esquecendo-se de que a bajulação em excesso acaba por nos afastar da realidade. Na euforia das vitórias, muitos se esquecem da cautela e se deixam embalar pelas loas.

“O maior problema do Iris era o controle do seu ego, porque pessoas que adoram o poder estavam massageando o seu ego desde as eleições e isso aumentou muito mais, depois que ele ganhou as eleições.” (Henrique Santillo)

Disso tiraram proveito os bajuladores e tal prática ganhou novos adeptos e seguidores. Todos os que testemunharam aquele momento e, mais tarde, assistiram à primeira vitória de Marconi Perillo, notaram, com preocupação, que o jovem governador eleito, ainda antes da posse, já não era o mesmo da campanha. A ele não bastava nada daquilo.

A sua mudança de personalidade foi sentida de imediato, com muitas pompas e seguranças, como se a essência de um governo fosse o cerimonial, as colunas sociais, as vestimentas, as viagens, os almoços e jantares palacianos etc.

Visível a diferença da conduta do dr. Henrique em relação a ambos. Bem mais que Íris, Marconi se vê acima do fato, com os seu ego em êxtase, enquanto o Dr. Henrique via as coisas pelo viés do interesse coletivo:

“Sempre achei que o governador de um Estado como o nosso, considerado periférico, mas com riquíssimas potencialidades, deveria ser um puxador de carroça, alguém voltado para os reais interesses de Goiás e distante de qualquer interesse pessoal, qualquer esquema que venha centrar-se apenas no carisma de um governante ou na publicidade pessoal. Isso acaba prejudicando todo o Estado e impedindo mais ações coletivas em benefício do desenvolvimento.” (Henrique Santillo)

Os gastos com publicidade ocorridos no passado, dos quais discordava Santillo, foram adotados no presente, só que de maneira abusiva, perdulária, exorbitante. Qualquer discípulo do dr. Henrique jamais se daria a tal, pois, com certeza, teria absorvido os seus ensinamentos.

“Não fiz propaganda do meu governo. Toda a minha vida tem sido de pregação contra o uso de dinheiro público para a autopromoção.” (Henrique Santillo)

Ele disse isso não uma, mas reiteradas vezes:

“Sou acusado de não fazer publicidade. Eu não fiz um governo baseado num programa apenas de obras físicas. Eu fiz um governo baseado, especialmente, num programa que previa a mudança de método, a mudança de comportamento de governo. Isso eu tentei fazer. Eu prefiro ser acusado permanentemente de anunciar pouco, do que ser um governo oba-oba, que anuncia muito e gasta fortunas do dinheiro do povo com publicidade. As coisas estão aí para todo mundo ver.” (Henrique Santillo)

O que vemos hoje, em Goiás, é a antítese absoluta a tais ensinamentos. De acordo com as  publicações a respeito, todas fundadas em dados da Agecom e Tribunal de Contas do Estado, o montante dos gastos do governo com propaganda, de 2011 a 2014, ultrapassa o valor de R$ 590,9 milhões – gastos somados das empresas públicas, autarquias, fundações, administrações diretas e fundos especiais, numa média anual de R$ 147,7 milhões.

Se vivo, o dr. Henrique não deixaria jamais tal gastança passar batida. Aliás, há hoje coisas que ele abominava. Dizia que ao homem público não é dado o direito de se servir do poder para a promoção pessoal e muito menos de recorrer ao abuso do poder político para fazer calar as vozes discordantes.

A régua da História

Vi e vivi em Goiás três governos com dois tipos de comportamentos: Santillo, Marconi e Alcides. Dois deles me marcaram profundamente, por conta das ações e das pessoas dos seus ocupantes. Por coincidência, dois médicos: Henrique Santillo e Alcides Rodrigues, homens simples, íntegros, dignos, merecedores de respeito e consideração.

Não conhecia de perto o dr. Alcides. Sei que sempre teve por mim, durante todo o seu governo, respeito e consideração. Com a mesma distinção ele tratou todas as pessoas ligadas ao dr. Henrique e todas as que vi em contato com ele. Só ficaram de fora os poucos que abusaram em suas condutas.

Lembro-me de que, quando assumiu, ele manteve em seu governo não só as pessoas ligadas ao dr. Henrique, bem como vários dos “novos amigos” do então “amigo” Marconi. Assim como fez o dr. Henrique!, abrigou lobos em pele de cordeiro, mas ambos, ainda que tivessem os seus governos minados, nunca perseguiram ninguém.

Santillo já advertia quanto aos rapinas e aos amantes do poder:

“A política não é uma questão de amizade. É principalmente jogo de interesses.” (Henrique Santillo)

As suas reflexões decorriam da amplitude da “leitura” que fazia do comportamento humano:

“Quando se está no poder, há muitas pessoas próximas, porque há uma conjugação de interesses. Quando você não está, as pessoas estão com  o outro que está no poder. Isto é compreensível, desde que o mundo é mundo. Os chefes de tribo também devem ter passado por isso.” (Henrique Santillo)

Até mercenários da fé eu vi neste jogo sujo, como vi pessoas ditas importantes correndo atrás, fazendo de tudo para tentar cair na graça do governante eleito. Vi parentela de todo lado almejando um lugar aqui ou ali, não sem antes dizer o parentesco com quem!

Tal qual aconteceu com o dr. Henrique, vi ali no governo Alcides vigias ávidos por dominar a presa. Achavam que iriam mandar e desmandar no mandato alheio.

De sua vez, jagunços midiáticos encetaram uma campanha difamatória contra o dr. Alcides. Paralelamente, assessores dos mais variados calibres cuidavam do trabalho sujo de minar o governo. Sem falar nos “duas caras”, aqueles que, tais quais os ratos temerosos de naufrágio, abandonam os seus cargos, após se servirem deles. Muitos deles, nomeados no novo governo que entrava, posteriormente foram promovidos.

A Alcides, levianamente, caluniaram, difamaram, tentaram desacreditar, inclusive na questão das contas de seu último ano. No final do governo, os próximos ao dr. Henrique já haviam assistido e sofrido com este deprimente filme! Haviam feito a mesma coisa com ele.

Sobre isto, da lição deixada pelo dr. Henrique, só não a aprendeu quem não quis:

“Tentar enlamear o nome de uma pessoa não é uma atitude de uma pessoa séria, responsável. Os interesses reais do Estado precisam sempre estar acima de quaisquer questiúnculas pessoais ou de grupos.” (Henrique Santillo)

O mesmo respeito e gratidão que tive e sempre terei pelo dr. Henrique eu também os tive e tenho pelo dr. Alcides Rodrigues. Aprendi com meu pai e com meu amigo e sogro Henrique Santillo que não se cospe no prato em que se come.

A balada do infiel

A esta altura, dos acontecimentos, as divergências entre o governador Alcides e o senador Marconi ganhavam maiores proporções. O esquema havia sido industriado para desestabilizar, administrativamente, o governo e inviabilizar, politicamente, o governador.

Ao mesmo tempo, o algoz maior de Alcides se revela de vez megalomaníaco. Eleito governador em 2010, estimulado pelos bajuladores ávidos de poder e, principalmente, pelos adesistas e novos e estranhos amigos, conquistou um quarto mandato, entrando para a história como maior do que Iris, o grande., como se a grandeza do político fosse medida pelo número de mandatos, não pelo que ele é.

Que tenha quinhentos mandatos, mas Marconi jamais será um Henrique Santillo.

“Cheguei aqui de cabeça erguida. Não trago comigo  gente que explora o povo praticando corrupção e se enriquecendo à custa de uma população inteira.” (Henrique Santillo)

Este último governo Marconi anunciou que faria dele o maior e melhor de todos. Seria o maior governo da vida dos goianos, como se o desenvolvimento que alcançamos não fosse produto do trabalho de todos os que governaram o nosso Estado. O diz em detrimento do que fizeram todos os outros governadores. Cabe lembrá-lo de que a maioria governou o Goiás inteiro, do Paranaíba ao Bico do Papagaio, e não apenas a metade a que ficou reduzido, com a criação do Tocantins.

Deveria ter ouvido e aprendido, se fosse verdadeiramente seu discípulo, os ensinamentos do dr. Henrique Santillo:

“Estou tentando fazer um governo transparente. Não sou dono da verdade. Eu erro, todos erram. Eu não tenho arrogância, nenhum rancor no coração. O importante é não ser arrogante. A mais importante qualidade num homem público é a humildade.” (Henrique Santillo)

Teria aprendido a ser humilde e verdadeiro:

“Minha principal preocupação foi administrar Goiás naquilo que planejei. Sei que erros existem, todas as pessoas e governos erram, mas tenho procurado acertar, tenho procurado ter humildade suficiente para reconhecer os erros, tentar corrigi-los. Não me animo à arrogância, mas procuro ser humilde.” (Henrique Santillo)

Teria aprendido o que é ser humanista e a governar visando o bem-estar dos cidadãos:

“Não fiz obras para a próxima campanha eleitoral, tudo que realizei foi para as próximas gerações. Minha preocupação não foi com o tijolo, mas com a pessoa humana.” (Henrique Santillo)

Teria aprendido a não culpar o antecessor pelas dificuldades encontradas:

“A ética não me permitiu, sequer, dizer as condições em que recebi o Estado do governo anterior.” (Henrique Santillo)

Teria aprendido a ter conduta ética:

“Eu recebi esse governo arrasado. Não contei antes porque sou ético. E ética é importante na política. Eu não sou maquiavélico. As pessoas de bom senso de Goiás estão sabendo disso. Vocês da imprensa precisam saber disso. Não fiz publicidade do problema porque tenho ética.” (Henrique Santillo)

Não teria cometido e nem permitido leviandades contra o dr. Alcides, fosse mesmo discípulo de Santillo:

“Mas eu não fiz. Isso não é atitude de uma pessoa séria, responsável. Os interesses reais do Estado, precisam sempre estar acima de quaisquer questiúnculas pessoais ou de grupos.” (Henrique Santillo)

Quando o dr. Henrique saiu, também com folhas em atraso, a recíproca  não foi verdadeira. Mas nada tão brutal quanto a tentativa de massacre do dr. Alcides. Os seus caluniadores passaram o ano de 2011 o acusando também o secretário de Fazenda, Jorcelino Braga, de haver deixado um rombo de R$ 2 bilhões e meio nas contas do Estado. Montou-se a farsa de uma CPI que apurou o que o Ipea não constatou.

Contratado para fazer uma auditagem e um parecer a respeito, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada da USP negou que tal existisse e, nacionalmente, os desmentiu. O Parlamento virou um circo!

Mudaram as regras para julgar as contas de Alcides. Pela única e primeira vez elas foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas de Goiás. Mandadas para a Assembleia, elas foram aprovadas (19/11/2014) com seis ressalvas e sem irregularidades. E não podia ser diferente, pois juntas estavam as contas de 2011 a 2013, com o triplo de irregularidades e graves problemas a serem analisados.

“Política é uma coisa muito séria. Deve ser pelo menos.” (Henrique Santillo)

Tempos atrás, aqui nestas páginas, desconhecido e desclassificado  jagunço de caneta, sem deixar dúvida de que estava falando em nome de Carlos, Gino e Carla Santillo, tentou desqualificar-me publicamente e desacreditar os meus depoimentos.

Conluiaram para agredir-me. Prejuízos e vergonha já haviam me causado com a atitude descrita acima. Até pessoas próximas ao dr. Henrique se deram ao aprendizado rápido de práticas conspiratórias, pois, mal havia baixado o seu caixão, as tais, de forma sorrateira e covarde, também agiram, movidas por ciúmes, contra uma pessoa simples, um amigo que sempre serviu com muita dedicação a toda família.

Eu falo por mim mesmo, como testemunha ocular e auditiva, como partícipe dos fatos por mim narrados. Que esses algozes não se esqueçam de que me conhecem, de que eu os conheço e de que todos nós conhecemos Marconi Perillo e também o escriba de plantão, convenientemente instalado no nono andar do Centro Administrativo.

Censura sem limites

Sua Majestade só quer loas, alimenta-se delas. Não aprendeu com o mestre porque nunca foi discípulo dele.

“A população de Goiás, em sua maioria, tem acompanhado o meu procedimento. Tenho respeitado a todos e isso é coisa que faço questão absoluta de fazer: respeitar o posicionamento de todos quantos queiram fazer política e de todos quantos estão fazendo política.” (Henrique Santillo)

Pelo que vi e vejo, parece ser prazeroso ao governador exercer o poder para oprimir, perseguir, intimidar amigos e amigos dos amigos. Intimidar jornalistas e até mesmo deputados de oposição.

“Promovi mudança de comportamento e de método, no tratamento da questão política dentro do governo, não discriminando, não perseguindo funcionários por motivos políticos, não demitindo por motivo político.” (Henrique Santillo)

Ao contrário de Marconi, o dr. Henrique não retaliava e nem usava terceiros para enfrentar as críticas:

“Às represálias respondi com a abertura de diálogo a todas as correntes políticas.” (Henrique Santillo)

Marconi fala em liberdade, mas da dele. Ele fala em igualdade, mas tudo faz para estabelecer e manter as diferenças. Nega vez e cala vozes, mesmo sabendo das posições do dr. Henrique quanto à democracia.

“O meu relacionamento com os demais partidos foi de alto nível, respeitando da forma mais cabal os demais poderes, tratando os prefeitos de oposição, administrativamente, da mesma forma que os da situação. Isto, sim, é comportamento democrático. Métodos antigos, cheios de rancores, de ressentimentos, aquela coisa  coronelística, isto é retrocesso. O povo está atento, o povo está acordado, o povo não quer isto. A maioria do povo não quer. Só algumas pessoas que se beneficiam. A maioria não se beneficia. Espalhar medo e pavor? O povo não quer esse retrocesso.” (Henrique Santillo)

Pelos seus atos, Marconi vai na contramão dos princípios cultivados pelo dr. Henrique:

“Qualquer governo é efêmero e transitório. O que é importante é o exemplo. Você tenta deixar, porque é isso que vai fazer a história. Não é a obra. O que vai fazer a história é a mudança de comportamento do governo. Tentar pelo menos. Ninguém pode ser arrogante, dono da verdade, e dizer ‘eu estou mudando a história’.” (Henrique Santillo)

Na história da humanidade ninguém conquistou ou vai conquistar a unanimidade. Nem Jesus Cristo a obteve. Como vivemos num mundo maniqueísta, com os caminhos do Mal e do Bem, precisamos saber que lado estamos defendendo.

A justiça não pode e não tem o direito de ficar por conta de ações movidas por homens públicos, sendo instrumento de abusos políticos de tais agentes. A não ser quando lhes for ferida a honra. O Judiciário tem muitos problemas para resolver e não pode ficar por conta de picuinhas políticas.

Todo detentor de cargo público deve satisfação dos seus atos e estão sujeitos a criticas positivas e negativas quando assim o merecer. Isso já faz parte de julgados em instâncias superiores. Daí que ninguém tem o direito de intimidar ninguém! E, de nossa parte, não nos deixemos intimidar pelos jagunços de caneta. Somos livres e devemos agir assim.

Voltarei aqui, pois há quadros outros encobertos e que precisam vir à luz. Espero merecer deste Diário da Manhã, ao qual o dr. Henrique denominava tribuna livre, o espaço democrático para tais exposições.

Antecipo que a jagunços de caneta não darei respostas, o farei apenas a quem de direito.

“Não conseguiram me transformar numa pedra.” (Henrique Santillo)

(Waldemar Curcino de Morais Filho é capelão hospitalar e genro de Henrique Santillo, de quem foi secretário particular por 23 anos)

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