"O Centro de Cultura da Região Centro-Oeste / Ceculco, ao celebrar seus 37 Anos de História, está cumprindo uma significativa programação cultural no Brasil Central, de que fazem parte atividades comemorativas em Brasília-DF, Goiânia-GO e Luziânia-GO.
Na qualidade de presidente do Ceculco, queremos ressaltar o significado da imprensa na divulgação da literatura, das artes plásticas, da música, de todas as opções artístico-culturais do Centro-Oeste Brasileiro. Reverenciamos e aplaudimos o trabalho de corajosos e dedicados educadores na Universidade do Brasil, homenageando Dom Antônio Ribeiro de Oliveira, Arcebispo Emérito de Goiás, Pioneiro da PUC/Goiás e Membro da Academia de Letras, Ciências e Artes de Campo Formoso, Orizona/GO. Registramos também a importância da arte culinária, da roda-de-viola, das manifestações folclóricas no enriquecimento da cultura popular nacional." (Sônia Ferreira, Presidente do Ceculco)
Poemas de autores da Região Centro-Oeste, que compõem o livro "Chuva de poesias, cores e notas no Brasil Central" de autoria
da presidente do Ceculco, escritora Sônia Ferreira (Orizona - GO).
DISTRITO FEDERAL
POEMA II
e este dardo da dúvida
e esta lâmina da dor
e esta noite sem lírio
estou perdido das constelações
e perseguido pelo deserto
dos famintos cascavéis
lenham-me nas nádegas
desequilibra-me a astúcia
do poço das ausências
só uma lua na noite esparramada
esquecida da flor das águas
em mim ferverá uma saúde nova
só um lua fora de estação
perdida de todo planeta
arrancar-me-á dos dentes do martírio.
CASA DA FAZENDA
Casa da fazenda... No fogão
a lenha crepita e as labaredas
quais rubras línguas, quentes e tredas,
são dançarinas em contorção.
Sobre a mesa, leite fresco e pão,
queijo e requeijão. As aves ledas
vão se espalhando pelas veredas,
d flores cobrem o caramanchão.
Lá longe o gado, no chapadão,
completa o painel, tão pitoresco,
mais parecendo belo afresco,
ali perdido, na imensidão.
As nuvens formam um arabesco
nesse quadro lindo e pitoresco.
MATO GROSSO
CÓPIA OU ORIGINAL
Ter teu retrato assim, corpo inteiro, querida,
é para mim, a um tempo, alegria e tortura,
- alegria, pois vejo o sol de minha vida,
que, após tão longa ausência, irradia e fulgura;
mas tortura, também, tantálica, e doída,
pois que te vendo assim, suave criatura,
- cópia viva do que és, uma rubra ferida
se me abre dentro d'alma, em imensa amargura.
Como quisera ter-te aqui sempre ao meu lado,
dia e noite e poder beijar-te como beijo
tua fotografia, o teu corpo adorado!
Cansado de sonhar, eu aspiro ao real,
e, no meu louco amor, o que ora mais desejo
é que me dês, em vez da cópia, o original...
POEMA 5
Será que na escuridão da noite
as casas trocam confidências?
Os edifícios fazem amor
uivando escandalosamente?
Será que no parto do dia
a noite jura que fará laqueadura?
Será?
GOIÁS
POR QUÊ?
Sônia Ferreira
Por quê são tão falsos,
tão hipócritas, tão fingidos
os chefes, os patrões
- MASCARADOS de Pirenópolis?
Touros, leões, cornos,
gostam de aparecer
em dias de festa - Por quê?
Porque não são elegantes,
espontâneos, verdes,
leves, transparentes,
como copas de bambus,
que dançam à hora do vento
e fora da hora do baile?
Por que não são firmes
como as estradas,
que se vestem de lama
e continuam bonitas?
Por que não são especiais
como os vaga-lumes,
que nunca deixaram
de dar sua luz,
na hora da escuridão?
Por que não são simples
como as larvas,
que morrem para deixar voar
as borboletas?
MATO GROSSO DO SUL
RETRATO DO ARTISTA QUANDO COISA
Retrato do artista quando coisa: borboletas
já trocaram as árvores por mim.
Insetos me desempenham.
Já posso amar as moscas, como a mim mesmo.
Os silêncios me praticam.
De tarde um som de latas velhas se atraca
em meu olho,
mas eu tenho predomínio por líricos.
Plantas desejam a minha boca para crescer
por de cima.
Sou livre para o desfrute das aves.
Dou meiguice aos urubus.
Sapos desejam ser-me.
Quero cristianizar as águas.
Já enxergo o cheiro do sol.
AS GARÇAS
Morre a tarde de rosas na planura,
No Pantanal desce e tristeza agora,
Brancas, tão brancas como a neve pura,
Ao pouso as graças voltam. Céu em fora.
Quando refulgem os vitrais da aurora,
Na beleza sem par da iluminura,
O bando, que nas frondes se alcandora,
Parte em revoada, sobre vasa impura.
Aves hecrálicas de verdes naves,
Dos silêncios profundos e suaves,
No sonho azul das íbis enlevadas...
Lírios alados das regiões serenas,
Trazeis na alvura imácula das penas
A pureza das virgens impecadas!
ENCONTRO
Elizabeth Caldeira Brito
Saí à procura de mim,
andei, rodei, varei mundo.
Só me encontrei, mergulhando
no fundo da alma
e no silêncio da palavra.
A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritora, acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã.Esta é a 174ª edição (desde 8/01/2012). [email protected]