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Goianésia, Santa Rita do Sapucaí e o empreendedorismo

Conquanto distantes um município do outro, Goianésia e Santa Rita do Sapucaí têm um ponto em comum quando o assunto é o empreendedorismo. Comparemos essas duas trajetórias.

De ocupação relativamente recente, Goianésia começou a consolidar-se como município a partir da década de 1940, com a chegada dos pioneiros Laurentino Martins Rodrigues e sua esposa Berchiolina Rodrigues. O povoado nasceu como município no dia 21 de agosto de 1948. Localiza-se no estado de Goiás, distante 170 Km da capital desse estado e 200 Km do Distrito Federal.

O desenvolvimento de Goianésia começou de fato a ser impulsionado com o engenheiro Jalles Machado de Siqueira, de notável capacidade empreendedora. Seguindo o dinamismo desse empresário, chegaram ao município a energia elétrica e as estradas e, ainda, alcançou o primeiro lugar na produção de um produto com o qual Goiás se destaca no cenário nacional: o arroz.

De pai para filho, assumiu o comando político da região o também engenheiro Otávio Lage de Siqueira, que era já um líder político e empresarial do município. De prefeito, Otávio se elegeu a governador do estado. Estávamos no fim da década de 1960.

No comando político de Goiás, o filho de Jalles Machado realizou uma gestão planejada e modernizadora. Nessa época, Goiás passou da condição de importador para exportador de energia elétrica, e este fato diretamente influenciou na modernização da agropecuária goiana através dos programas de eletrificação rural.

Concluído seu mandato de governador, Otávio voltou para Goianésia para exercer a outra face de sucesso de sua vida: a de empresário. Engenheiro formado pela Universidade de São Paulo, ele influenciou para que seus filhos – Rodrigo, Otávio e Jalles – fizessem o mesmo curso que ele fizera, coisa que aconteceu numa escola de semelhante prestígio que a do progenitor deles. Todos os filhos desse empreendedor se formaram na Universidade Federal de Minas Gerais. Todos fizeram MBA no Brasil ou no exterior.

Sob o comando político da família Lage de Siqueira – seja na liderança política, seja na empresarial – Goianésia teve um impulso extraordinário. Para que isso viesse a ocorrer muito contribuíram inúmeros empreendimentos dessa família empreendedora, os quais geraram milhares de empregos na região.

Com a implantação de uma destilaria de álcool combustível, a produção de cana-de-açúcar teve considerável desenvolvimento na região comandada pelos Lage de Siqueira. Além disso, os empreendimentos da família foram os pioneiros, por estes lados do Brasil, no uso da cogeração para geração de eletricidade. Suas usinas termoelétricas abastecem não só o complexo empresarial, como também vendem eles o excedente para o sistema elétrico nacional.

Goianésia é hoje um “brinco” de cidade! Lá habitam 65 mil pessoas usufruindo de uma infraestrutura de dar inveja à maioria dos municípios do interior do País, e isso muito se deve a uma elite empreendedora que adotou a mesma mentalidade na administração do município. Aliás, administrações pensadas estratégica e altamente continuadas.

Não necessito falar muito da história de Santa Rita do Sapucaí para os santa-ritenses, pois já a conhecem de cor e salteado. Por essa razão foco nas semelhanças e diferenças entre os dois municípios. Tanto num quanto no outro a influência de suas elites foram funcionais. Por essa razão, o benefício que essas elites trouxerem para suas regiões foram superiores aos custos que causam às sociedades por elas influenciadas. Nesse sentido, a família Moreira, representada por Francisco Moreira da Costa, Sinhá Moreira e o ex-ministro Bilac Pinto, desempenhou papel semelhante ao dos Lage Siqueira em Goianésia. O fato de gerações continuadas desta família comandarem politicamente a prefeitura municipal se tornou decisivo para a notável infraestrutura da qual hoje dispõe Goianésia. Infraestrutura da qual não dispõe Santa Rita no mesmo patamar. Creio que a mentalidade de continuidade administrativa de longo prazo existente no Inatel e em outras instituições não foi de certa forma cooptada pela política local deste outro município. O inverso aconteceu em Goianésia – onde a mentalidade empreendedora da família Lage de Siqueira foi cooptada na administração do município. Lá a razão preponderou.

Entretanto a elite santa-ritense, articulada nacionalmente, teve mais sucesso que a elite de  Goianésia no tocante à qualidade educacional. Nesse sentido, a Escola Técnica Francisco Moreira da Costa, o Instituto Nacional das Telecomunicações e a Escola de Administração foram decisivos não só na sustentabilidade do polo de eletrônica, bem como na difusão de uma educação de qualidade para os filhos da terra. Talvez seja por essa razão que o índice de Desenvolvimento Humano dos santa-ritenses seja um pouco mais elevado do que o do município liderado política e empresarialmente pela família Lage Siqueira. E, assim, Goianésia é hoje um dos polos do agronegócio do País, enquanto que  Santa Rita do Sapucaí é um respeitável polo de eletrônica nesse mesmo País. Duas histórias de empreendedorismo diferentes e com resultados até certo ponto distintos, mas com a mesma ideologia modernizadora de suas elites.

(Salatiel Soares Correia é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outras obras, do livro Goiás, a Globalização e o Futuro)

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