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OPINIÃO

O policial, a convicção e a conveniência

Edwin Louis Cole é um renomado escritor Cristão americano. Segundo ele, o que diferencia o soldado do politico é que o soldado age por convicção e o politico, por conveniência. Esta é, segundo a sua percepção no livro Homens de Verdade, o motivo pelo qual os americanos perderam a guerra do Vietnã, tendo vencido guerras muito mais ácidas. Diz Edwin que, no Vietnã, os soldados não estavam convencidos dos motivos da guerra, tão pouco a sociedade apoiava aquele conflito. Noutros eventos em que os EUA estiveram envolvidos, os soldados estavam convencidos que lutavam em defesa de seu país ou por um ideal libertário.

A segurança pública tornou-se um assunto preocupante no Brasil. Todos querem falar dela. Todos se preocupam de falar, embora poucos estejam dispostos a ouvir o que se tem dito a este respeito. O desabafo é mais forte que a dialética, o aprendizado e a humildade. Cada um tem uma solução milagrosa para o problema, ao tempo em que ninguém esteja absolutamente certo no que vai dar. É como no futebol, em que até pernas de pau como eu se arvoram a dar palpites. Esse é o Brasil, onde todos entendem daquilo que incomoda, embora ninguém coopere para solução de forma verdadeiramente efetiva. Recentemente, com a discussão sobre a redução da maioridade penal, parecia haver um alento. Mas sem medidas complementares, nada acontecerá de bom. Mas sobre isto, já falei aqui num texto recente.

A solução para a segurança pública não está na conveniência, mas na convicção. Todos agem por conveniência neste assunto, mas não há o menor sinal de convicção de que minhas ideias são realmente saneadoras. Assim, o presidente de bairro quer um quartel no seu bairro para chamar de seu; o comerciante quer uma viatura em sua porta, não importa de onde venha; o policial quer mais efetivo e, ao mesmo tempo, quer um ótimo salário; o governo quer participação federal e o governo federal quer que a bomba exploda no colo do adversário, fazendo cara de paisagem claro. Mas o que fazer para ter uma solução que seja definitiva? Isto não importa já que solução definitiva implica em preocupar com os outros e com as instituições. O que querem é saciar desejos, isto é, conveniência.

Viajando de carro pelos Estados Unidos, onde todos imaginam num devaneio tolo de que há policial em cada esquina, deparei com três ou quatro viaturas de policia pelo caminho. E olha que foram 15 dias de caminhada. No entanto, a sensação de segurança é presente em cada quarteirão em que, com minha família, eu visitava. O que estou querendo dizer?

A pressão de políticos locais, desde o presidente de associação de bairros até o vereador e o prefeito, tem levado a policia a instalar um quartel em cada distrito. Isto não ocorre só em Goiás, mas em todo o território nacional já que a questão da segurança é endêmica em todo o Brasil. E esta é, sem dúvida, uma decisão de conveniência. Não há convicção nem técnica. Obviamente que também não dará resultados efetivos. Todos aqueles atores que mencionei antes forçam um pouquinho para que seu objetivo pessoal seja alcançado embora não esteja certo, e às vezes até tem certeza, que não será a melhor solução. Não é de admirar se alguém se corrompe neste caminho.

A polícia não é um ente feito necessariamente de soldados, mas a assertiva de Edwin Cole cabe perfeitamente ao assunto: Segurança pública precisa ser tratada com convicção. Por politico, policia, povo e pelo judiciário que queira ou não, é responsável pela área.

Ao estacionar o carro sobre uma faixa nos EUA, fui advertido por uma senhora que me fez estacionar direito. Um único policial fazia a ronda num grande centro comercial que visitei. Não é, pois, a presença de uma viatura ou quartel que dá tranquilidade e segurança ao americano, ou ao Brasileiro que visita a terra do tio Sam. É a convicção de que, sendo pego, pagará pelo erro. Ainda que a polícia não esteja presente, o cidadão se sente também responsável pela segurança. E eles desconhecem a lei de Gerson, onde você não levará vantagem por ser fulano ou filho de beltrano.

Todos querem segurança no Brasil, e todos creem que segurança é ter policia. Não é. Jogar papel no chão, furar sinal de trânsito, burlar o sistema de fornecimento de energia é tão ruim como roubar, matar e depredar. Se quero segurança, tenho que fazer minha parte. O cidadão, o policial, o juiz e o administrador: todos são responsáveis. Ter um quartel no meu bairro, uma viatura na minha porta, mais efetivo, etc. funciona por um momento mas é pura conveniência. Não funcionará para sempre. Por isto precisamos começar a agir com convicção e técnica.

(Coronel Avelar Lopes de Viveiros, comandante do policiamento ambiental de Goiás)

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