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OPINIÃO

A política de Inhumas como ela é

A cidade de Inhumas sempre teve destaque na política goiana. Afinal de contas, grandes nomes no cenário político – a exemplo do senador João Abraão – representaram nossa goiabeira com respeito e evidência no cenário regional e nacional. Outros nomes, como Sebastião Guerra, Aparecido de Paula, Jamil Miguel, Elpídio Brandão, Nelo Egidio Balestra, Getulio Vaz, Luiz Soyer, Irondes de Morais, José Essado e tantos outros também orgulham o nosso povo. Nos dias de hoje, o deputado federal Roberto Balestra é o político com maior tempo em exercício político de Inhumas, com 29 anos de atuação parlamentar. Neste período, sempre exerceu influência na nossa cidade. Empresário e deputado federal, Balestra tem poder sobre nossa cidade. Muitas vezes contestado por muitos e aclamado por outros. No entanto, nos últimos anos, seu grupo político vem sofrendo desgastes e perdas na cidade e no Estado.

No passado o deputado escolhia quem eram os ungidos para representar seu grupo, seu clã ou ter seu “apadrinhamento” político na cidade. Por sua força econômica, muitos não se rebelavam com sua truculência que “atropelava” aqueles que se opunham aos seus ordenamentos políticos. Prova disto é Olício Villa Verde, que quis ser candidato e não teve apoio do Balestra, o que o levou a perder a eleição para deputado em 1990 e depois abandonado. O ex-prefeito Domingos Garcia e o ex-presidente da Câmara Municipal, Antonio Braga, foram outros que tiveram seus nomes vetados por Balestra.

Antonio Braga, atual presidente do PSDB de Inhumas, não esconde de ninguém sua frustração de ter sido preterido por duas vezes e teve que se contentar em ficar nos bastidores nas eleições municipais. O ex-deputado Wellington Valim (PSL) foi outro que atravessou o caminho de Balestra e teve seus projetos interrompidos. Mas teve um que quis romper essa mão de ferro imposta pelo deputado, mas não teve voo muito longo: Abelardo Vaz (PP), ex-prefeito de Inhumas, eleito pelo grupo de Balestra. Enquanto o ex-prefeito rezava na cartilha e obedecia as ordens do deputado, tudo era perfeito.

Entretanto, Abelardo, que tem DNA político nas veias – seu pai foi vereador por 40 anos e seu tio, Getúlio Vaz, deputado estadual – sentiu que precisava libertar das amarras impostas por Balestra. Em 2010, Abelardo apoiou e coordenou a campanha de Vanderlan Cardoso ao governo do Estado, o que causou a ira do deputado. Abelardo quis ser coerente com seu partido. Na época, o PP apoiava a candidatura de Vanderlan, e Balestra caminhou em campanha solo com o governador Marconi Perillo (PSDB), contrariando a própria sigla. Por isso, Vaz passou a ser figura não muito querida no grupo. É publico e notório que, daquele dia em diante, Abelardo passaria a ser alvo das artilharias e das fofocas do grupo Balestrista.

A partir daí houve um abismo entre os dois. Balestra, como todos sabem, não aceita ser contrariado. Vieram as eleições de 2012 e o deputado deixou morrer a míngua seu grupo político na cidade. Achava que ao fazer isso mostraria que Abelardo não era o jovem promissor que ele um dia disse ser aos quatro cantos de Inhumas e a derrota seria creditada na conta do Abelardo e não na dele. Rondinelly Carvalhais (PP), jovem humilde, aceitou ser o bom cabrito. Em 2012, fez uma campanha solitária a prefeito de Inhumas. Dava pena vê-lo perambular pelas ruas da cidade como mero coadjuvante. O resultado das urnas foi um recado duro ao grupo político do deputado.

Com a vitória do atual prefeito de Inhumas, Dioji Ikeda (PDT), Balestra acreditou que voltaria a mandar e a reagrupar seus dependentes políticos. O que se viu foi uma rachadura que era um filete na estrutura balestrista. Filete que, após as eleições, passou a ser uma cratera no grupo. Abelardo já não escondia seu descontentamento. A guerra dos ataques era intensa. De um lado os amigos próximos de Roberto Balestra falavam mal do ex-prefeito Abelardo Vaz abertamente e, do outro, os leais ao ex-prefeito não poupavam adjetivos ao deputado.

Vaz sentiu o peso da mão do deputado: seus aliados políticos passaram a ser perseguidos e  tiveram que se abrigar em outras siglas. O distanciamento foi acontecendo na medida em que as conversas iam se avolumando nas esquinas da Goiabeira. O deputado, que até então era discreto nos comentários, passou a tecer duras criticas ao antigo pupilo. A relação dos dois nunca mais foi a mesma. Foi o cristal que se quebrou e não tem cola que faça juntar. Em 2013, ainda na pré-campanha de deputado, eles até ensaiaram uma reaproximação, mais por vontade de pessoas próximas do que deles.

Abelardo era um candidato competitivo para deputado estadual dentro dos nomes apresentados para disputa. Mas teve seus sonhos tolhidos com a secura gélida de fazer a Sibéria ser o nordeste do estado pelo deputado Balestra. Abelardo chegou a colocar seu nome a disposição do deputado para compor com ele uma “nova aliança”, o que foi colocada em segundo plano pelo próprio Balestra. Ao sentir que seria abandonado na chapada pelo grupo do seu antigo amigo, Vaz retirou seu nome e colocaram o  vereador Pacheco Júnior como alternativa. Era tudo que Balestra queria: o ex-prefeito sendo seu cabo eleitoral e tendo que obedecer aos seus comandos.

Dois grupos se destacaram na cidade: os que queriam Balestra e os que não queriam. Em oito mandatos, 29 anos consecutivos de deputado federal, Balestra viu seu nome ruir eleitoralmente em Inhumas. Ele teve minguada votação nas últimas eleições para a Câmara dos Deputados. O prefeito Dioji Ikeda (PDT), junto com seu grupo, conseguiu dar o mesmo percentual de votos que os dados ao Pacheco Junior. Isso fez a ira do deputado aumentar. Mal sabia Dioji que o sucesso eleitoral do seu grupo, do ponto de vista de votos, para Wellington Valim, era a formação de uma nova ordem conceitual política em Inhumas: A turma do quanto pior melhor.

Balestra se acercou da pior espécie política em nossa cidade: os bajuladores e os adesistas.

Com as rédeas nas mãos novamente e com Abelardo Vaz debaixo de suas asas, o deputado começou a atacar o atual prefeito de Inhumas. Com isso, começou uma boataria jamais  vista em nossa cidade. Tudo de ruim era culpa do Dioji. Emendas parlamentares destinadas para Inhumas e apresentada pelo deputado foram transferida para outros municípios. Retaliações de toda ordem foram direcionadas para a prefeitura. Mas como diz o ditado: “Nada como o dia após o outro e a noite no meio.” Vieram as denuncias de corrupção na Petrobras e eis que o nome do deputado é jogado no olho do furacão. Foi um golpe duro no grupo político do deputado. Com isso o prefeito pode respirar um pouco mais aliviado e os apaniguados do deputado tiveram que sair das fofocas contra o prefeito para “blindar” o padrinho.

A operação Lava Jato – que investiga desvios de dinheiro da Petrobras – da qual Balestra teve o nome citado, atingiu em cheio o PP de Inhumas. O primeiro ato foi a saída do único vereador do partido, Pacheco Junior, e a saída de Abelardo Vaz da diretoria do Detran de Goiás. Pacheco Junior saiu atirando e apontando dedos. Sentiu a fragilidade do antigo padrinho e teve coragem de peitar o então dono do partido na cidade. Outro golpe duro foi a recuperação do prefeito Dioji Ikeda e as várias obras por toda cidade.

Engana-se quem acreditar que Balestra vai parar sua missão hercúlea de destruir aqueles que opõem aos seus comandos. Sua mais nova missão é juntar-se ao seu eterno rival e inimigo político: doutor João Antônio, que durante a vida toda carregou a bandeira do PMDB de Inhumas, teve oportunidade de ser prefeito pelo antigo partido e se juntou à Turma do quanto pior me-lhor. Hoje filiado e presidente do PSD de Inhumas, da base do Governador e do Balestra, doutor João deve alinhar ao discurso balestrista.

Talvez ele não esteja antenado aos novos tempos políticos. Se seguir os passos do novo padrinho, vai ficar a ver navios. Doutor João Antônio deve mirar nos exemplos de Antônio Braga, Olício Villa Verde, Domingos Garcia, Wellington Valim, Abelardo Vaz, Luiz Otávio e tomar cuidado com a máquina de triturar novas lideranças que o deputado tem guardada para aqueles que não rezam em sua cartilha.

(Adenilson Pessoni, advogado, vereador  e presidente do PMDB de Inhumas)

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