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OPINIÃO

Jesus cura a filha de Jairo

Tendo Jesus regressado, atravessando de barco para o outro lado, foi bem recebido por numerosa multidão, pois todos o esperavam; e ele se deteve à beira-mar. Enquanto Jesus assim lhes falava, aproximou-se um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo, o qual, logo que o viu, prostrou-se aos seus pés, adorando-o e suplicando-lhe com insistência que entrasse em sua casa, porque sua filha única, de cerca de doze anos, estava à morte. E rogou-lhe, dizendo:

“Minha filhinha está à morte. Suplico-te que venhas por as mãos sobre ela, para que ela sare e viva”.

E Jesus, levantando-se, o acompanhou, seguido dos seus discípulos e de uma numerosa multidão que o comprimia. (Evangelhos de: Mateus, cap. 9, vv. 18 e 19 – Marcos, cap. 5, vv. 21 a 24 – Lucas, cap. 8, vv. 40 a 42).

Jesus ainda falava, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, dizendo: “Tua filha já está morta. Por que incomodas ainda o Mestre? Não incomodes mais o Mestre”.

Jesus, porém, tendo ouvido essas palavras, disse ao chefe da sinagoga: “Não temas; crê somente, e ela será salva”.

E não permitiu que ninguém o acompanhasse, exceto Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus os tocadores de flauta e um grande alvoroço. Muita gente chorando, e pranteando, lamentando muito e clamando em alta voz.

Ao entrar, Jesus lhes disse: “Por que estais em alvoroço e chorais? Retirai-vos, pois a criança não está morta, mas sim dormindo”.

E caçoavam dele, porque sabiam que ela estava morta. Ele, porém, tendo feito sair a todos, tomou consigo o pai e a mãe da criança e os que o acompanhavam, e entrou onde ela estava. Tomando a mão da criança, disse-lhe em voz alta:

“Talítha Kum”, que quer dizer: “Menina, eu te digo, levanta-te”.

E o espírito dela voltou e, no mesmo instante, ela se levantou e começou a andar, pois já tinha doze anos. Todos ficaram extremamente espantados.

Jesus recomendou-lhes expressamente que ninguém o soubesse, advertindo aos pais que a ninguém contassem o que acontecera. E mandou que dessem de comer à menina. Mas a notícia deste acontecimento espalhou-se por toda aquela região. (Evangelhos de: Mateus, cap. 9, vv. 23 a 26 – Marcos, cap. 5, vv. 35 a 43 – Lucas, cap. 8, vv. 49 a 56).

Algum tempo depois de regressar da região dos gerasenos, em uma de suas costumeiras aparições ao público, o querido e esperado Messias “foi bem recebido por numerosa multidão”. Como fazia habitualmente, falou à beira-mar. Os santuários da Natureza, e não as sinagogas, eram os únicos lugares que poderiam comportar as multidões que buscavam o divino Rabi. Depois de sua prédica, um homem chamado Jairo prostrou-se diante do Mestre, suplicando pela cura de sua filha única de doze anos de idade.

Jairo é um nome grego oriundo do hebraico Jair, que significa Yahweh ilumina.

Jesus nunca deixou de atender a um pedido de cura. O ‘sim’ era o lema do Cristo quando se tratava de curar os enfermos. Por isso, ele também anuiu à súplica de um dos chefes da sinagoga. Embora cada sinagoga tivesse único representante, aqueles que assessoravam ou assistiam esse chefe eram também denominados “chefes”. Por isso, Jairo era um dos chefes da sinagoga de Cafarnaum.

Jairo demonstrou conhecer o poder de cura do Messias, elucidando que Jesus tinha por hábito por as mãos sobre os doentes para curá-los. Diante do pedido do pai aflito, a resposta de Jesus foi prática porquanto “levantou-se, o acompanhou, seguido dos seus discípulos e de uma numerosa multidão que o comprimia”.

A caminho da casa de Jairo, Jesus curou uma mulher que sofria de uma hemorragia havia doze anos. A única filha de Jairo também tinha doze anos de idade. Como já foi visto, a energia do número doze, presente nos dois episódios porquanto também se trata de um número que representa um ciclo completo. Por isso, nos dois episódios das curas das duas mulheres, sendo uma adulta e outra criança, verifica-se que elas completaram um ciclo de evolução espiritual.

Enquanto o Mestre ainda falava durante o episódio da cura da hemorroíssa, alguns indivíduos próximos a Jairo, que saíram de sua casa, disseram que a sua filha já se encontrava morta e por isso não adiantaria a presença de Jesus. No entanto, ao ouvir o relato, o Rabi disse palavras de consolo e de fé ao pai emocionado: “Não temas; crê somente, e ela será salva”.

Ao entrar na casa de Jairo, Jesus solicitou silêncio e revelou que a criança não estava morta e sim dormindo. Diante dessa afirmativa, o Mestre foi ironizado por alguns incrédulos e por isso providenciou que todos saíssem do quarto da menina, inclusive as carpideiras e tocadores de flautas, que, segundo o costume israelita, eram contratados para os velórios. Esses profissionais se apresentaram espontaneamente na esperança da recompensa ou foram requisitados por familiares ou amigos de Jairo.

As carpideiras são mulheres contratadas para recitar orações e prantear pelos mortos. Isso, com o objetivo de afastar da pessoa “morta” as influências espirituais perniciosas e afastar das pessoas “vivas” o espírito, cujo corpo está sendo velado.

Sob a autorização de Jesus, somente ficaram com ele no aposento da criança,  os pais da menina, Pedro, Tiago e João, que eram os seus três discípulos mais próximos.

Se a filha única de Jairo foi identificada como morta, provavelmente por algum especialista da Saúde, por que Jesus afirmara “a criança não está morta, mas sim dormindo”? Isso também ocorreu com Lázaro de Betânia e com o filho da viúva da cidade de Naim. Esses três enfermos que foram curados por Jesus, sofreram de uma enfermidade atualmente denominada Catalepsia Patológica, doença que leva o indivíduo parecer que está morto.  A cientista da Saúde, a doutora Marislei Espíndula Brasileiro, explica a respeito dessa patologia:

“A Ciência explica esse fenômeno de morte aparente como sendo Catalepsia Patológica, mas não elucida, com exatidão, a origem dessa enfermidade. Alguns pesquisadores defendem que a Catalepsia Patológica pode ter sua origem num traumatismo craniano, numa má formação congênita do cérebro ou ser psicogenética. Também ela pode se manifestar em determinadas doenças nervosas, por exemplos: debilidade mental, histeria, mal de Parkinson, síndrome neuroléptica maligna, epilepsia, esquizofrenia, distúrbios do sono etc. Além disso, essa patologia é caracterizada por um distúrbio neurológico que enrijece os músculos do paciente, à semelhança do rigor mortis. Por isso, o enfermo é confundido com um cadáver.”

A doutora Marislei Brasileiro prossegue:

“O cataléptico, mesmo com essa imobilidade total, transitória ou duradoura, e tendo as suas funções vitais reduzidas, tem consciência do que se passa ao seu derredor, mas não consegue manifestar qualquer reação, o que gera agonia. Esse estado mórbido pode durar alguns minutos, vários dias e até semanas. Dependendo das características e do tempo de duração dessa paralisia mórbida, podem algumas partes do corpo entrar em decomposição. O tratamento imediato consiste no uso de medicação que relaxe o sistema muscular. Em alguns casos, são utilizados medicamentos benzodiazepínicos, mas em casos mais graves é utilizado o eletroconvulsoterapia (ECT), dentre outros recursos terapêuticos e farmacológicos.”

Nas eras remotas, no tempo de Jesus, na Idade Média e na Idade Moderna, a catalepsia não era bem conhecida pela Medicina e por isso muitos catalépticos eram cremados ou enterrados vivos. Na atualidade, enfermeiros e médicos utilizam aparelhos ou equipamentos capazes de identificar os mais sutis sinais vitais, além de seguirem protocolos de ressuscitação, antes da confirmação do óbito. O eletroencefalograma e o eletrocardiograma são dois métodos que podem assegurar a morte ou a existência do processo cataléptico.

Ainda hoje, no entanto, em regiões inóspitas, onde não existem atendimentos satisfatórios na Área da Saúde, é possível se considerar morto alguém que sofre de catalepsia. Quando isso acontece, vêem-se pacientes mortos em suas covas, vítimas de sufocamento. Também quando os catalépticos conseguem se libertar desses túmulos sofrem de preconceitos e de superstições de toda ordem. Por isso, não raras vezes, os catalépticos que ressurgem são inicialmente considerados aparições fantasmagóricas.

No que tange à Ciência Espírita, o conceito de catalepsia patológica adotada pela Ciência Médica atual é o mesmo que Allan Kardec adotou para conceituar letargia. Para Kardec, catalepsia seria um tipo de letargia parcial, que atinge somente alguns órgãos do corpo e, em alguns casos, sem prejuízos para a comunicação do enfermo. A Ciência atual considera Catalepsia o mesmo que Letargia porquanto apresentam os mesmos sintomas. No entanto, independentemente da nomenclatura que se adote, o importante é que se conheça e entenda a existência dessa patologia, por meio da qual o corpo parece morto, com sinais vitais quase imperceptíveis.

Durante o estado cataléptico, o espírito permanece vinculado ao corpo, mas somente por meio de alguns pontos do perispírito. Allan Kardec, em sua obra O Livro dos Espíritos, Edição FEB, define perispírito:

“O laço ou perispírito, que prende ao corpo o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das aparições.”

Jesus, ao tomar a mão da criança, disse em voz alta: “Talítha Kum”, ou seja, “menina, eu te digo, levanta-te”. Alguns tradutores preferem: “Menina, eu te digo, acorda”. “E o espírito dela voltou e, no mesmo instante, ela se levantou e começou a andar, pois já tinha doze anos”. Allan Kardec, em A Gênese, capítulo XV, item 39,   explica o fenômeno ocorrido durante a cura:

“Dado o poder fluídico que ele (Jesus) possuía, nada de antinatural há em que esse fluido vivificante, acionado por uma vontade forte, haja reanimado os sentidos em torpor; que haja mesmo feito voltar ao corpo o Espírito, prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço perispirítico ainda se não rompera definitivamente. Para os homens daquela época, que consideravam morto o indivíduo desde que deixara de respirar, havia ressurreição em casos tais; mas, o que na realidade havia era cura e não ressurreição, na acepção legítima do termo.”

Ainda as leis da Física, da Química e da Biologia poderão explicar a respeito da ação eletromagnética aplicada por Jesus para equilibrar os campos eletromagnéticos de todos os enfermos que ele curou, inclusive nos portadores de catalepsia.

Verifica-se também que Jesus “tomou a mão da criança”. Procedimento que não ocorreu nem com o rapaz de Naim, nem com Lázaro.

Diante dessas explicações, surgem as indagações:

Por que não é possível a ressurreição?

Por que não é possível o retorno do espírito ao seu corpo depois que se rompe definitivamente o laço perispirítico?

Ficamos entre dois paradigmas: a Ciência demonstra a impossibilidade da ressurreição, mas para Deus tudo é possível.

O Pai misericordioso, no entanto, determina sábios princípios que não são revogados, por exemplo: O rompimento definitivo do perispírito sinaliza o fechamento de um ciclo biológico entre o espírito e o seu corpo. Por isso, nem o espírito que habitou o corpo, nem qualquer outro, poderão reanimar esse corpo, muito menos depois da decomposição. Essa é uma lei natural e não será revogada. Por isso, Kardec elucida que o dogma da ressurreição da carne é uma figura simbólica do fenômeno da reencarnação.

Depois que a filha de Jairo despertou e começou a andar, Jesus ordenou que dessem de comer à menina, revelando que o processo cataléptico enfraquece o corpo, ainda que a sua duração seja breve.

Ao afirmar que os enfermos catalépticos dormiam e não estavam mortos, Jesus deixou bem claro que ele não era um “ressuscitador de mortos”. Uma fama que poderia atrair uma multidão de familiares e entes queridos, solicitando-lhe a ressurreição dos seus amados. É provável que tenha sido essa a razão inicial para que o Mestre solicitasse aos pais a não divulgação do que acontecera. O que seria tarefa difícil porquanto todos os presentes já consideravam como certa a desencarnação da criança.

A cura da filha de Jairo representa uma grande mensagem de esperança de Deus para as situações mais difíceis e embaraçosas que possamos atravessar. Nada está perdido. Tudo tem uma causa justa de ser. O Pai tem infinitos recursos para a promoção da nossa felicidade. Ainda que se “perca” um ente querido para o desenlace físico, saibamos que ele poderá reencarnar como um ente muito querido ou que nos acompanhará em espírito. Nunca há separação para os que se amam.

Jesus renovou a fé e a esperança na casa de Jairo, que era um homem de fé, embora não se saiba o nome de sua filha ou se ela se tornou discípula do Cristo.  É bastante provável que muitos passaram a seguir Jesus depois desse episódio. Todavia, o que importa é que a misericórdia de Deus agiu por meio do amor e da compaixão do sublime Messias. Saiamos, portanto, da nossa letargia ou catalepsia espiritual, ou seja, do estacionamento evolutivo no campo da moralidade. Prossigamos, a partir da nossa estrada de Damasco, e veremos o Cristo tomar a nossa mão e dizer ainda hoje uma mensagem semelhante ao “Talítha Kum”: ‘Vamos, tem bom ânimo, levanta-te!’.

(Emídio Silva Falcão Brasileiro, escritor, conferencista, professor universitário, advogado, pesquisador, doutor em Direito, membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia Goianiense de Letras e da Academia Aparecidense de Letras. E-mail: [email protected])

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