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OPINIÃO

Manifestações culturais populares e tradicionais em Goiás

Um conjunto de elementos culturais específicos da grande teia cultural do estado de Goiás se fez presente no grande momento de aglutinação das culturas populares tradicionais, no lançamento do livro/mapeamento Manifestações Culturais de Goiás, do escritor Antônio Almeida, organizado por Marcos Gomes. O livro é uma síntese do que somos em símbolos, ritos, ritmos...

“A grande maioria da cultura popular é transmitida oralmente, dos elementos mais velhos da sociedade para os mais novos.” Goiás está se inserindo no Movimento Nacional de protagonização do mestre(a): aquele “velho” ou aquela “velha” a quem os novos consultam, copiam saberes e os mantém à sua maneira, acrescentando novos elementos de acordo com a vivência, época, tendências.

A necessidade do ser humano de se enquadrar a um ambiente envolvente fortalece o vínculo entre indivíduos, formando grupos, fortalecendo raízes. Há inúmeras manifestações baseadas em pesquisas, alicerçadas no desejo de, apenas, brincar sem fazer uma ligação com a ancestralidade. Mas, ainda, há quem olha o passado para organizar o presente de acordo com ensinamentos recebidos.

“A sociologia e etnologia, que estudam a cultura popular, não têm como objetivo fazer juízos de valor, mas identificar as manifestações permanentes e coerentes dentro de uma nação ou comunidade.” Mesmo com a melhor das intenções, estudiosos podem tratar a cultura popular, apenas, como a recorrente “cereja do bolo”.

Os mestres das culturas populares tradicionais são pessoas sensíveis; dotados de simplicidade, querem que tudo continue. Não aceitam a ideia de morrer consigo aquilo que um dia apreendeu e, no decorrer de sua vida, ensinou. Feliz aquele que tem a oportunidade de sentar ao lado de um mestre ou mestra e ouvir tantas histórias que têm para contar. Brinda-nos com expressões guardadas na memória. Devemos aproveitar esse ensinamento!

“Alguns estudiosos indicam que cada pessoa tem no seu interior a noção do que é popular, que é definido pela vertente de tradição e comunidade”. Por intermédio de estudos, investigação teórica e dados empíricos formam-se bancos de dados sobre essa intrigante colcha de retalhos cultural que movimenta a sociedade.  Cada identidade local indica o sentimento de pertencer a uma determinada cultura, por isso, como sinaliza Brandão, podemos dizer “Culturas Populares e Tradicionais”, por estarmos inseridos, cada um em sua comunidade, com hábitos distintos; “singularidades que particularizam e particularidades que singularizam”. Assim é a contradança de Santa Cruz de Goiás, única com esse sotaque no País. Em nenhum outro lugar encontramos registro de manifestação cultural idêntica a essa, porém, é um elo que liga de norte a sul, leste a oeste a grande Diversidade Cultural Brasileira.

“Em um indivíduo, o nível de identidade nacional vai depender da sua participação ou exclusão relativamente à cultura que o envolve.” Se for convidado a participar de um determinado momento, tenha certeza, participará com alegria e desprendimento, mas é preciso tratá-lo com carinho, dando-lhe atenção; único pagamento passível de alcançar o valor inafiançável de toada a sua contribuição para a formação da tão falada identidade coletiva.

Além da carteira de identidade onde estão registrados os dados pessoais, como nome, data de nascimento, sexo, filiação, impressão digital, foto e assinatura, para sermos reconhecidos como cidadãos; carregamos na alma a impressão cultural dos mestres das culturas populares e tradicionais de Santa Cruz, de Goiás, do Brasil.

Uma noite, de terça-feira, repleta de energia! Uma junção de paz, poesia preencheu todos os poros da sala dona Gercina, Palácio das Esmeraldas. Vários municípios, várias culturas. A goianidade desfilando! O sentido de pertencimento fazendo brilhar os olhos de quem faz cultura. Foi magnifico o protagonismo dado aos verdadeiros brincantes. Um tiquim de cada lugar.

O Livro Manifestações Culturais em Goiás, do escritor Antônio Almeida, organizado por Marcos Gomes, é um Mapeamento por todos desejado, discutido, dificultado e agora realizado. As tradições, a cultura, a religião, a música, a culinária, o modo de vestir, de falar, entre outros, que representam os hábitos de um estado estão nele registrados formando uma nova identidade: A Visual! Cada página remete imediatamente ao produto, ao povo, ao lugar...

Juntos, o governador Marconi Perillo, o eterno mestre Bariani Ortêncio, secretária estadual de Educação e Cultura, Raquel Teixeira, superintendente da Cultura em Goiás, Aguinaldo Coelho, secretário municipal da Cultura de Goiânia, Ivanor Florêncio, IHGG, Academias de Letras, Comissões de Folclore, mestre Jaime e a contradança de Santa Cruz de Goiás, a Associação dos Amigos de Santa Cruz, congada, representantes  municipais, universidades, grupos de culturas populares e tradicionais, estudiosos, meu filho Weverton, meu irmão Tadeu, que se tornou filho de Morro Agudo, sua esposa Hedileza, enfim, uma gama de amigos, conhecidos, em uma grande festa da cultura popular e tradicional  goiana. Um ambiente leve, tranquilo... Rostos sorridentes, amabilidades fluindo..., uma sensação tal e qual provocam as manifestações culturais em seu ambiente natural.

Há o Colegiado Nacional de Culturas Populares e Tradicionais do Conselho Nacional de Politica Cultural cuja Ferramenta é mais uma conquista desse segmento. Há representantes de todas as regiões do País, divididos entre mediadores, mestres e fazedores de Cultura. Representantes da região Centro-Oeste: Marcelo Manzatti (DF) e Fátima Paraguassú (Goiás), mediadores, e Anderson Formiga (DF), fazedor de Cultura. Levantamos as demandas reprimidas e as levamos à apreciação do CNPC. Muito se conquistou e muito retrocedeu. Anda-se um passo e volta dois. O importante é a dinamicidade. Em todo lugar vê-se a participação da criança, do jovem mostrando que as manifestações culturais tradicionais  não se extinguirão, mas sofrerão drásticas significações.

O livro supracitado, importante fonte de pesquisa, convida todos a uma viagem. Uma imersão em várias cores, sabores, cheiros... Como água em cascata: em serenata, em prosa, encenação. O pensamento baila livre como folha solta ao vento, numa aquarela em arco íris pelo céu.

E, no entanto Santa Cruz de Goiás se move. Um dia anexaram Pires do Rio a Santa Cruz e lhe tiraram a sede administrativa alegando estagnação, sendo um de seus períodos mais produtivos. Diagnóstico: perseguição! Atualmente uma disputa acirrada entre Legislativo e Executivo altera a vida dos munícipes. As contendas políticas afastam as pessoas, aí vem a cultura e tenta aproximar! É hora de unirmos em prol do bem estar de todos. Prefeito e vereadores prometem trégua e transparência. Quiçá uma nova época se instala em prol do desenvolvimento local!

(Aparecida Teixeira de Fátima Paraguassú, historiadora, pesquisadora, musicista, presidente da Associação dos Amigos de Santa Cruz - [email protected])

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