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OPINIÃO

Mortes e psicoses causadas pelo chá do Santo Daime

Uma técnica de enfermagem de Goiânia, que estava sob tratamento médico-psiquiátrico e frequentava a religião do Santo Daime, está misteriosamente desaparecida após uma sessão de ingestão do chá alucinógeno do cipó da Ayahuasca. Suas roupas ensanguentadas foram encontradas nas proximidades do local dos rituais.

Ela estava com problemas psiquiátricos graves, mas, segundo a imprensa, teria sido instada por um religioso a suspender o tratamento médico e entregar-se ao “vegetal”. No curso de uma sessão vegetal teria entrado em grave e incontrolável surto psicótico.

O chá  psicodisléptico (que causa sintomas psicóticos, alucinatório-delirantes, segundo a classificação farmacológica de Delay e Deniker) é liberado no Brasil sob a alegação de motivos de liberdade cultural e religiosa.

Casos de mortes, psicoses, assassinatos, são relativamente comuns sob o uso da droga. Mais famoso foi o caso de Cadú, rapaz que,  após uma sessão de uso da substância psicoativa alcalóide, matou o cartunista Glauco e seu filho, também cultuadores do chá. Depois teve, aqui mesmo em Goiânia, o caso do universitário que, em 2009, também morreu após o uso da ayahuasca, provavelmente por causa de seus efeitos cardiológicos (infarto miocárdico, arritmia, hipertensão?) ou neurológicos (efeito “estricnínico” causando convulsões?).

Tanto Cadú quanto a técnica de enfermagem tinham problemas psiquiátricos e por este motivo não deveriam fazer uso de substâncias psicoativas, pois estas podem interagir com a medicação em uso assim como piorar a psicopatologia já subjacente.

No caso do universitário de 2009, parece haver tido causas cardiológicas envolvidas, uma vez que a substância também possui propriedades cardiovasculares: hipertensão arterial, vasoconstricção coronariana. A técnica de enfermagem mesmo, segundo informações da família, teria passado a ficar hipertensão após a ingestão regular da substância.

Há também aquela situação psiquiátrica na qual pessoas doentes (ansiosas, depressivas, psicóticas, maníacas, hiperativas, epilépticas, toxicomaníacas, alcoolistas, etc) tendem a buscar experiências neuro-psico-dislépticas para tentar melhorar sua situação mental, ou então  “novas experiências”. É o mesmo mecanismo pelo qual, por exemplo, doentes hiperativos buscam a nicotina, cocaína, para se “auto-tratarem” de sua hiperatividade. Então, muitas pessoas que procuram estas experiências “transcendentais” já estão susceptíveis , fragilizadas, e aí as experiências alucinatórias vivenciadas podem piorar a doença ou precipitar surtos.

Portanto, assim como muitas outras liberadas entre nós – inclusive nicotina e álcool – a ayahuasca deveria ter controle restringido pelas autoridades.

Pessoas adultas e saudáveis são livres para prejudicarem-se a si próprias, mas isto não se aplicam a muitos doentes que procuram o chá do Santo Daime. Isto não se aplica a adolescentes, pessoas fragilizadas, que buscam a substância como alívio imaturo de suas pressões internas. Aceitar a livre distribuição, acesso, uso, de tais substâncias é o mesmo que aceitar o costume de deixar uma arma carregada ao alcance de crianças. Nada mais do que mais um outro sintoma da loucura de nossos tempos...

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra - Artigos às terças, sextas, domingos)

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