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OPINIÃO

O quarto poder da República

A operação Lava Jato tem dado visibilidade a um poder que, sob o manto da invisibilidade, sempre, mandou no Brasil moderno: o dos empreiteiros. Os empreiteiros passaram a ser o quarto poder da República a partir do momento em que começaram a financiar as campanhas políticas.

Uma relação de troca assim estabelecida: de um lado, o poder econômico irrigava com vultosos numerários as campanhas políticas e os bolsos de inúmeros “representantes do povo” (sic!); de outro, estes constituíam uma espécie de representantes não da população que os elegera, mas sim dos personagens que financiavam suas campanhas políticas. Contribuía-se com X para depois cobrar 10 vezes o valor pago, com isso,  inflando a planilha de custos das obras e outras coisas mais.

O Estado passava a ter donos invisíveis, e os políticos, na voracidade de seus discursos e ações nos bastidores, defendiam os interesses do quarto poder da República, interesses esses que, na verdade, não eram nada republicanos. Inflavam-se assim negociações na calada dos gabinetes, na ambiência luxuosa dos hotéis, dos resorts e restaurantes léguas distantes do interesse público.

O Manto que encobria tudo isso no discurso político era o do “desenvolvimento”. Em nome do desenvolvimento, foram cometidos, por muitos e muitos anos, verdadeiros atentados contra o patrimônio público, que enriqueceram não só os membros do quarto poder, mas também de seus agentes políticos.

A face mais visível dessa “relação simbiótica” o Brasil hoje começa a conhecer. Bilhões que saíram da Petrobras, do Banco Nacional de Desenvolvimento Social, dos fundos de pensão disfarçados das mais diferentes formas: consultorias, superfaturamento de obras públicas, empréstimos a juros subsidiados e por aí vai.

Os ventos do quarto poder também sopraram bem forte aqui na terra do Anhanguera. Quebras de bancos, privatização da Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada, dificuldades financeiras da Saneago e a privatização da Celg são mostras mais que suficientes do poder destruidor da coisa pública. O quarto poder materializou inúmeras fortunas feitas do dia para a noite por estas e outras bandas do Brasil de Cabral. Não deixa de ser esperançoso presenciar o alto clero,  esse poder sempre invisível, materializar-se ante o avivar das instituições. Só assim poderemos voltar a ser uma nação de verdade.

(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento, autor, entre outras obras, do livro Cheiro de Biblioteca. Obras e Personagens que fazem nossa época)

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