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OPINIÃO

Um editor que se afirma também escritor

Hoje, às vinte horas, no Salão Gercina Borges Teixeira do Palácio das Esmeraldas, ocorrerá o lançamento do livro Manifestações Culturais em Goiás – Tradicionais e Populares, de autoria de Antônio Almeida, presidente da Editora Kelps.

Obra singularmente meritória.  Pesquisa e estudo de notável dimensão. Cerca de duas centenas de eventos que todo ano se realizam em municípios de diversas   regiões goianas, a atestar tradições tradutoras de belas  nuances históricas estaduais e nacionais, têm levantamento e descrição minuciosos e elaboração muita vez revestida de interessante erudição.

São quarenta e cinco capítulos, cujos títulos por si sós sugerem os tipos de manifestação cultural característicos das tradições: Encontros de Muladeiros, Festas dos Carros de Boi, Festivais de Catira, Encontros de Tambores, Caçadas da Rainha, As Pastorinhas, Romarias, Violeiros e Cantadores, Memória do Norte, Mutirões de Fiandeiras, Bandas e Fanfarras, Cavalhadas e Festas do Divino, Culinária Goianas, Congadas e o Rosário, Cavalgadas, Rally do Jegue, Festas de Junho, Paixão de Cristo, Feiras de Artesanato, Folias de Reis, Cultura Kalunga, Encontros de Raizeiras, Festas de Peão, Contadores de Causos, Procissão Fluvial, Santuários da Arte e da Cultura, Feiras da Moagem, Festas do Doce, Feira do Troca, Festas da Produção,  Serenatas, Balé Folclórico, Corridas de Carroça, Festa da Liberdade, Semana do Folclore, Rally de Boias, Festa do Centenário, Festas de Abril, Carnaval das Marchinhas, Festas de Agosto.

Obviamente, o espaço de um artigo jornalístico não comporta enfoque muito plural desses títulos. Mas para que o leitor tenha ideia do lavor literário e da amplitude das informações do livro, são suficientes estes textos dos capítulos referentes aos encontros de muladeiros e às festas dos carros de boi:

“Ser muladeiro é comer comida de tacho, cavalgar na beira da estrada e pela natureza ter paixão. É vir de longe pra encontrar amigos e mostrar que é bom de lida. Ser muladeiro é carregar raízes na garupa e lembranças no coração.” Esta estrofe, estampada na Fantage de uma comunidade de Muladeiros, dá uma ideia do significado dessa paixão. Os amantes dos muares (bardoto, burro e mula), animais considerados grandes companheiros de trilhas realizam anualmente, em Iporá, o Encontro Nacional de Muladeiros. Outras cidades goianas também promovem exposições de muares, como: Porangatu, Mutunópolis, Uruaçu, São Miguel do Araguaia, Campo Alegre de Goiás e Anápolis.

“Esses acontecimentos reúnem famílias sertanejas, homens e mulheres de todas as idades que se encantam pela beleza, força, rusticidade e enorme capacidade dos animais dessa espécie de se adaptarem a situações difíceis, porém, rotineiras nas lidas das fazendas.”

“Diz a história que Cleópatra, rainha do Egito, banhava-se com leite de jumenta para manter a pele jovem. Hipócrates, pai da Medicina, receitava esse líquido precioso para problemas do fígado, doenças infecciosas, febre, edema, sangramento nasal, envenenamento e feridas.”

“Esta espécie teve uma importância fundamental ao longo da História no processo de formação e desenvolvimento de Goiás e do Brasil. Foi graças ao trabalho de burros e mulas que o nosso país experimentou períodos de crescimento e desenvolvimento, durante mais de três séculos. No período colonial, quando o território brasileiro era dominado pelo império ultramarino português, os muares tiveram um papel muito importante. Eles eram utilizados para o transporte de bens pessoais, alimentos, mercadorias, utensílios, armas, munições e grandes riquezas econômicas, como ouro das minas, açúcar dos engenhos e café das fazendas.” (Cascudo, 2002).

Sobre as festas dos carros de bois:

“Essa é uma das tradições mais antigas da humanidade, que integra o calendário cívico e festivo de muitas cidades do interior de Goiás. Há, inclusive, um espaço reservado para suas apresentações: o Carreiródromo, em Trindade.

As suas estruturas são rudimentares, feitas de madeira de lei. Usa-se, principalmente, a aroeira, sucupira e carnaúba. Os carros de boi ecoam um chiado melodioso, chamado baixão, produzido pelo atrito do eixo com a madeira que sustenta a grade. Esse poema vivo da ruralidade tradicional continua presente, resistindo a toda parafernália tecnologia do transporte moderno.”

É muito válida, proveitosa, a leitura do livro de Antônio Almeida.  É como diz Bariani Ortêncio: “Esta obra representa a realização de um plano cultural de alta relevância: a identificação e o mapeamento das manifestações culturais em Goiás.”.

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas & sextas-feiras - E-mail: [email protected])

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