Home / Opinião

OPINIÃO

Zilda Levergger, Luziânia e a educação

Nos autos do passado goiano há grandes nomes de educadoras que se lançaram na luta pela consolidação da educação no Estado, num tempo tão adverso ao florescimento da inteligência intelectual e com tantas dificuldades de acesso geográfico e também aos livros, haja vista que o Gabinete Literário Goiano foi uma das únicas bibliotecas do Estado de Goiás até os primeiros decênios do século XX.

Nesse afã pressuroso de ensinar, muitas dedicadas mestras perpetuaram-se na história como Maria Angélica da Costa Brandão (Nhanhá do Couto) verdadeira semeadora de escolas, mestra Inhola, em Goiás, que deixou uma legião de alunos; mestra Silvina Hermelinda Xavier de Britto, em Goiás; mestra Cazuza Hermano, em Itaberaí; mestra Sinhá, em Trindade; Maria das Dores Campos, em Catalão; Maria Emídio Evangelista, em Cumari; Iraci Borges, também em Trindade; Mariquinha Fleury, em Morrinhos; Guiomar de Grammond Machado, em Luziânia; Ricarda Abreu, em Arraias; Graciema Machado, em Jaraguá; Ayda Félix de Souza, em Pires do Rio; as irmãs do Colégio São José de Formosa, do Colégio Santa Clara de Campinas, do Colégio Nossa Senhora Mãe de Deus de Catalão e tantas, tantas outras que lutaram por um ideal superior em nome do conhecimento.

Nascida em Luziânia, antiga Santa Luzia, cidade tradicional, cantada em prosa e verso pelas penas magistrais de Gelmires Reis e José Dillermando Meirelles, a educadora emérita teve por alicerce um tronco de ilustres goianos e brasileiros. É descendente, pelo lado paterno do médico pioneiro de Morrinhos, dr. Ernesto Augusto Ferreira de Lewergger, formado pela Escola Militar do Rio de Janeiro, falecido em 1909 com larga folha de serviços prestados à bela cidade dos pomares e pelo lato materno das distintas famílias de Meirelles e Roriz que habitam o planalto central do Brasil desde o século XVII.

Seus pais foram pioneiros em Luziânia. Sebastião Augusto Ferreira de Lewergger foi o primeiro agente dos correios e telégrafos da cidade e diretor por mais de 30 anos e Lizenor Lizette Meirelles Lewergger foi artista plástica de renome na época, auxiliar do esposo nas lides do correio e moça intelectualizada para seu tempo e para seu meio.

Grande amiga do grande dr. Antonio Americano do Brasil, com ele mantinha permanente contato nas relações familiares e na vida social da cidade das marmeladas  de excepcional sabor.

Nesse ambiente marcado por cultura e relações familiares nasceu e cresceu nossa admirável Zilda Levergger Barbosa. Estudante do Colégio São José de Formosa, a jovem Zilda Leverger perseguia o sonho de tomar-se educadora, reunindo inclusive irmãs e amigas para lecionar na sombra do quintal. Era a sedimentação de um longo ideal que seria acalentado por décadas seguidas e até hoje na consolidação de uma luta que não foi fácil, órfã de mãe aos 12 anos de idade, sentiu profundamente a falta daquela presença inconfundível que avivava a chama do lar.

Fundado a 07 de abril de 1910, o Colégio São José foi inicialmente dirigido pelas irmãs dominicanas a pedido do frei Manuel, Superior da Comunidade dos Religiosos Dominicanos da cidade, na época. Este foi o embrião dessa importante escola no cenário intelectual do antigo planalto goiano.

As dominicanas trabalharam na educação da juventude formosense por 33 anos, ou seja, até 1943. Nesse período eram ministrados o Curso Primário e o Curso Normal. Entre eles havia um estágio preparatório, que durava dois anos, equivalente hoje ao segundo segmento do Ensino Fundamental. Em 1943, com a saída das dominicanas, as Irmãzinhas de Jesus Adolescentes assumiram a administração da escola por dois anos, sob a direção do padre Antônio Marcigaglia.

A Congregação das Religiosas Missionárias de Nossa Senhora das Dores, fundada por madre Maria de Jesus, assumiu em 1945 a direção do São José, a pedido do arcebispo de Goiás, D. Emanuel Gomes de Oliveira. Um sonho guiava os passos da pequena comunidade: educar a criança e o jovem – este era o ideal sonhado.

As missionárias enfrentaram muitas lutas e sacrifícios: uma pequena casa servia para colégio, cuja 1ª diretora foi irmã Isabel do Sagrado Coração; poucas salas, poucas alunas, não havia água... O número de alunas foi crescendo. Em 1956 o colégio foi autorizado pelo Ministério da Educação a ministrar também o Curso Ginasial. Era preciso ampliar os espaços e assim, sob a direção de irmã Maria dos Anjos, em 1965 pela então diretora Irmã Maria da Piedade.

Mais tarde, Zilda Levergger Barbosa fez o Curso Normal na Escola Normal Americano do Brasil de Luziânia, tendo por colegas Cícero de Moura Penteado, Davi Esteves de Azevedo, Delfino Machado de Araújo, Geraldino de Grammond Machado, Geni Maria Ribeiro, Hélio Machado de Araújo, Inácio Netto, Ilca de Jesus Meirelles, João Paulo dos Reis, Laiza Rodrigues dos Reis, Laudimiro Roriz, Maria Rosita de Mello, Miguel de Jesus Salomão, Vera da Aparecida Mello.  No documento abaixo, as notas da aluna Zilda Levergger.

Até os 16 anos de idade viveu em Luziânia e depois de formada normalista Zilda Levergger veio para Goiânia para dar seqüência aos seus estudos em nível superior, residindo com seus padrinhos Joaquim Machado ele Araújo (Chête) que foi Interventor Federal pelo Estado de Goiás e Guiomar de Grammond Machado, grande poeta e farmacêutica pioneira do Estado de Goiás.

Zilda Levergger formou-se na área educacional pela Universidade Católica de Goiás sendo da primeira turma dessa histórica instituição, nos primeiros dias do ensino superior nas terras goianas, conforme mostra o antigo emblema da instituição.

Nessa época casou-se com Nelson Barbosa, filho de Planaltina. Trabalhou Zilda Levergger na Educação Estadual por vários anos em escolas de Goiânia e Trindade. Trabalhou também no município de Goiânia, de forma pioneira. Foi louvada pela grande educadora Elza Baiocchi, na Revista de Educação do Estado de Goiás, então dirigida por Amália Hermano Teixeira (1916-1991).

Aposentada, foi convidada por Walter José Rodrigues, então prefeito municipal de Luziânia para ser Secretária Municipal de Educação.

Ali encontrou uma difícil situação educacional com 87 escolas funcionando irregularmente, sendo apenas duas autorizadas pelo Conselho Estadual de Educação. Com grande dinamismo, protocolou de uma vez só 85 processos de pedido de autorização de funcionamento de todas as escolas rurais e urbanas do município de Luziânia, conseguindo pleno êxito nessa empreitada.

Vencido o seu mandato como secretária municipal de Educação de Luziânia integrou de corpo e alma no Projeto Lumem em 1974 destinado a habilitar professores leigos e não-titulados, a distância, nas cidades onde exerciam o magistério e sem prejuízo para as suas funções docentes. Nisso foi arrojada e destemida baluarte.

Depois, no Projeto Novo Saber que ministra Cursos de Pós-Graduação lato sensu há mais de 20 anos em todo o território nacional, sendo Zilda Levergger sua autora e coordenadora em nível nacional. No ano de 1971, pela Lei 5692 houve abertura de especialização permanente pelo Estatuto do Magistério, passando do nível III para o IV e também de titularidade.

Com a nova LDB que reformulou o ensino de uma maneira geral, há determinação de que os professores que ministram aulas em cursos superiores devem ter no mínimo o curso de pós-graduação e em quase todas as faculdades particulares e estaduais de Goiânia e do interior como em Valparaíso, Luziânia, Goianésia, Formosa, Jaraguá, Quirinópolis, Catalão, Anápolis, Posse, Araguaína, Arraias, Santa Helena, Iporá, Cidade de Goiás, Goiatuba, Mineiros e militas outras possuem professores que passaram pelos cursos da Universo, o que representa um grande serviço prestado à causa educacional e social de Goiás.

A tudo isso se deve o esforço da professora Zilda Levergger Barbosa em parceria com a drª Marlene Salgado de Oliveira e toda a equipe de pós-graduação da Universo. Nesse tempo de se falar em Educação, o êxito da professora de Luziânia é marca perenal de sucesso em todos os campos da atividade humana em que se coloca antes de tudo o ideal e o impulso do coração.

Com o seu desassombro e permanente coragem, rejuvenescida pela consciência tranquila do dever cumprido, Zilda Leverger simbolizou o trabalho educacional feito com alma, coração e sentimento e, sobretudo, como asseverou Cora Coralina “feito com êxito, o que é o mais importante”.

Trabalhou a vida inteira. Nunca teve descanso. Trabalhou até o último dia de vida, cumprindo o seu dever. Foi uma mulher admirável.

(Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado, graduado em Literatura e Linguística pela UFG, pós-graduado em Literatura Comparada pela UFG, mestre em Literatura e Linguística pela UFG, mestre em Geografia pela UFG, doutor em Geografia pela UFG - [email protected])

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias