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OPINIÃO

A capacidade de investimentos da Celg há muito se exauriu

Salatiel Soares Correia ,Especial para Opinião Pública

A secretária da Fazenda de Goiás, Ana Carla Abrão, afirmou, numa das últimas edições de O Estado de São Paulo (29/07), uma grande verdade a respeito da Celg: a de que a falta de investimentos na empresa restringe o crescimento econômico do estado.

Rememoremos fatos para entender como se chegou a essa situação. Os anos de 1980 foram de fantasia no setor energético goiano, especificamente, devido a dois programas que sinalizavam uma ilusão de desenvolvimento em Goiás. Falo da eletrificação rural e da irrigação. Esses dois programas, da maneira irresponsável como foram tocados, muito contribuíram para essa euforia em torno do desenvolvimento fácil. Fomentavam isso as elevadas taxas de inflação então existentes no País.

Nos subterrâneos do poder celgueano, atuavam personagens nada republicanos, hoje, muito conhecidos no País. Falo dos empreiteiros. Eles e seus agentes internos, com anuência de sucessivos governos, impuseram decisões que se mostraram altamente predadoras ao patrimônio da então maior estatal goiana.

O suporte elétrico, propositalmente, sobredimensionado se constituiu na face mais visível dos superfaturamentos que fizeram fortunas da noite para o dia. Sustentava essa irrealidade um mecanismo que contabilizava essa ineficiência: a Conta de Resultados a Compensar (CRC).

Vejamos um exemplo de como funcionava a planilha de custos que eram remunerados pelas tarifas. Se uma região necessitasse de 100 quilowatts no suporte elétrico, colocava-se 10 vezes mais do que necessário. Resultado: o investimento adicional de 900 quilowatts, que era remunerado pela tarifa, não gerava receita para a empresa. Ao contrário: minava a capacidade de investimentos da empresa, assim, enriquecendo empreiteiros e seus agentes internos plantados dentro da Celg. Dessa maneira, plantaram-se milhares de esqueletos pelo Goiás afora. Obras improdutivas que em nada contribuíram para o desenvolvimento do estado, a não ser para corroer paulatinamente o patrimônio daquela que um dia foi o orgulho de todos os goianos.

Da contestada construção da Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada, aos programas de Eletrificação Rural, Irrigação às terceirizações e consultorias foi-se criando um castelo de irrealidades que paulatinamente minou a capacidade de investimentos da empresa.

A Conta de Resultados a Compensar premiava, na verdade, a ineficiência dos investimentos e os eternos construtores de obras improdutivas. Dito de outro modo, os “investimentos ‘legitimados pela falácia do discurso político’ em nome do desenvolvimento de Goiás” nada mais eram do que instrumentos de dominação política.

Veio a década de 1990 e junto com ela algo de muito importante: o Plano Real. Esse extinguiu de imediato a ilha de ilusões chamada CRC. Resultado: em nome do combate à inflação, o governo Maguito privatizou a Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada. Sem a usina, que gerava 50% da energia que atendia o estado, a empresa teve de comprar a preços majorados energia para abastecer o mercado goiano.

Assim, com custos crescentes, receitas decrescentes e vultosos prejuízos em seu balanço, a Celg entrou no ano de 2000. É bem verdade que o novo governo recebeu a empresa em frangalhos, como também é verdade que ele poderia, com o capital político que dispunha, enfrentar os problemas e recuperar a empresa. Não o fez. Desconheço o porquê dessa decisão, mas os fatos mostraram falta absoluta de vontade política no sentido de recuperar a Celg. Até hoje, não entendo a natureza dos pacotes tecnológicos que vieram nessa época e que asfixiaram mais ainda a capacidade de investimentos de nossa querida estatal.

Energia é um sustentáculo indispensável para o crescimento econômico. Com a capacidade de investimentos exaurida, a Celg não tem condições de atender ao crescimento econômico de Goiás. Os bancos e suas taxas exorbitantes passaram a financiar os investimentos, fato que tem levado a nocaute a estrutura de capitais da empresa. Com a Celg “na lona”, Goiás vem crescendo bem aquém do que poderia crescer. É o preço que hoje se paga pelo passado predador. As turbulências estão, logo ali, para todo mundo ver. Coisas do subdesenvolvimento.

(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético, autor, entre outras obras, do livro Tarifas e a Demanda de Energia Elétrica)

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