Home / Opinião

OPINIÃO

Chega de blá-blá-blá (Governo e oposição no mesmo balaio)

Não estou aqui para defender governo. Mas também cassandra nenhuma receberá meu salvo-conduto.Ah, não sabe o que é cassandra. É uma pessoa que prediz com insistência desgraças ou situações indesejáveis, nas palavras do Houaiss. E como existem!Ser governo

Não estou aqui para defender governo. Mas também cassandra nenhuma receberá meu salvo-conduto.

Ah, não sabe o que é cassandra. É uma pessoa que prediz com insistência desgraças ou situações indesejáveis, nas palavras do Houaiss. E como existem!

Ser governo não é fácil. Digo mais. É muito difícil. Dificílimo. A primeira característica para ser governo está resumida no preparo daquele que pretende governar. Não se trata de ofício para qualquer cidadão. Embora, aos olhos da democracia e da Constituição -com o que concordo, qualquer um pode ser candidato a governar. Mas aí mora o perigo.

Dirigir é uma arte. Não basta querer. O conhecimento é tudo para o seu exercício. E passa necessariamente pela intuição, pelo pressentimento que, se precedidos de preparo cultural, mais conteúdo agrega ao postulante. Fato raro em governos. Via de regra, sujeitos assumem administrações para depois aprenderem. Quando aprendem. Não há outra forma de explicar os desastres espalhados por todos os cantos.

Com a incompetência invadindo os espaços de governo a gestão virou indigestão, a primeira das desonestidades que acamparam e dominaram o hoje estreito limite governamental.

Então, com o que acabo de afirmar, estou inocentando o descaminho porque ele surge unicamente pela falta de preparo dos dirigentes. De forma alguma. A má-fé tem presença marcante, e grande parte das vezes ela se disfarça de despreparada para abrandar a sua responsabilidade. Nesse caso, pior ainda. São muitos os exemplos.

Resumo a minha análise (teórica, mas que me espelhei na prática do que vejo) na falta do tripé que antecipa e impede qualquer erro: planejamento, fiscalização e controle. Fácil entender o porquê de onde fomos parar.

Muito bem. Aí entram os agoureiros (cassandras).

Duas são as maneiras que operam os que estão do outro do balcão do governo. Aqueles que apenas apontam as insatisfações, a crítica pela crítica, hoje, graças a Deus, com espaços maiores, imprensa e redes sociais, aos quais denomino de boca do protesto.

Quais os outros? A oposição. Tão despreparada quanto o próprio governo. Mostram as desgraças, mas não indicam uma única fonte de solução. Imagine essa gente no governo. Há casos de causar riso. Entre eles, até quem já foi governo. Nem ficam vermelhos de vergonha.

Que a recessão já chegou ninguém desconhece; que o índice de desemprego subiu para a casa de mais de 50% é visto a olho nu; que indústria, comércio e serviços são setores em falência está na rua pela quantidade de portas fechadas; que escolas e hospitais funcionam precariamente vem de longe. E por aí vai.

O que não vai mais é o blá, blá, blá de governo e oposição prometendo soluções. Antes das promessas, que são mentirosas, que apontem as fontes de recursos. Como financiar. E que não seja aumentar impostos.

Pelo visto, nenhuma credibilidade à vista.

(Iram Saraiva, ministro emérito do Tribunal de Contas da União)