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OPINIÃO

No inferno todo santo tem chifre

“Nenhuma batalha desenrola-se como preveem aqueles que armam os planos.”(Tolstoi)

Sigamos porque esta ainda não é a última jornada.  Em política, o final da estrada, carpida na luta e diferenças de classes é segredo que nem a mentira do padre afirma se sabe ou não sabe. A burocracia larápia instituída no Brasil é responsável direta por gestores tataranetos do Império, nascidos do coito entre nativos e piratas, mestiços, pobres e ricos os quais se perpetuaram e mataram em nome do poder. Moedas e terras, religiosidade cristã que explora o cidadão no dízimo, fatos históricos e mazelas culturais estruturadas na falácia católica. Deus é brasileiro e seu povo ama e vive em função do futebol, do samba e da bunda, de praia e com muita paz.

Há gerações lutamos pela sobrevivência. Banalizados, correndo atrás dos preços enquanto fugimos da violência institucionalizada. Presos a carnês resultantes da aquisição de produtos e bens não duráveis. Ignoramos a história das leis econômicas – de consumo capitalista – que sempre se apresentaram impregnadas de conveniência, leniência e da jurisdição não do direito, mas da coleta. Vivemos simplesmente. E vivemos muito mal, afunilados pelo baixo poder de compra, o vazio da alma, na solidão existencial enquanto seres sociais cercados de milhares de outros seres – incapazes de superar, extravazar ou desconstruir a moderna miséria da condição (des)humana.

Confundida entre pobres e mal educados, a filosofia cotidiana – apreendida na parede do banheiro – não alimenta o cidadão. Qualquer sabedoria, mercadoria educacional, presencial ou a distância, não ultrapassa nem se supera e não vale mais que R$ 1,99. Ratos do imenso laboratório contemporâneo globalizado, aglomerada aos milhares, a população trabalhadora – sem rumo certo, sequer destino –, se assiste no espelho existencial atolada em lama consumista.

Incapazes de desenvolver, até os dias de hoje, a capacidade intuitiva e entender que a alma não se veste em terno e gravata, os homens tornam-se pequenos a ponto de não entender que a alma, enquanto não for vendida, não é tão pequena que caiba neles. Dotada de asas, a intuição, anjo da guarda ou, alma, voa sem o peso da ilusão, simplesmente o é, sem medidas humanas, razão ou explicações banais assentadas na ignorância humana que entende os homens como pecadores suprimidos de sua condição social.

Quem não peca neste mundo está morto, ou morrendo aos poucos. Fieis, compramos e vendemos bens duráveis através das instituições que negociam milionários habeas corpus, indultos, diplomas, moral, almas e dogmas, enquanto os mais crentes insistem que foi Deus quem deu, gritando e atormentando quem vive na vizinhança dos templos. Sobre mais este “pecado capital”, Nietzsche afirma: “Para que fazer tanto barulho em torno de pequenos defeitos como esses piedosos homens fazem? Ninguém se ocupa disso, e Deus menos ainda. Para terminar ainda querem ter ‘a coroa da vida eterna’, para toda essa gente insignificante da província.” (A Genealogia da Moral). Em uma de suas charges, José Almir de Andrade, neste jornal, resume bem esta parábola: “Foi Deus quem me deu e... a PF tomou.”

A história retrata as ondas bem ou mal vivenciadas e trilhadas pela (des)humanidade. Em nosso quintal, o pós-moderno, por vacilo ou incompetência de gestão chegou ao ponto de ter que se ouvir, do papa, as soluções urbanísticas para a Capital. Hilário se não trágico, o fato remonta ao Império, quando as vilas conviviam sob a opressão e o poder, representados nas figuras ilustres do coronel junto ao padre, o delegado e a prostituta. À época a planta urbana resumia-se à praça da igreja, o prédio da delegacia e a casa do coronel, envoltos pela poeira solta no ar e o barulho de esporas (liberais), as quais rasgaram o chão, escreveram parte da história e assolaram vidas.

Nas últimas horas, manchetes plagiam a indagação de Renato Russo e sua Legião ao mundo lá fora. Na década de 1980, os movimentos sociais indagaram: Que País é este? Hoje, assistimos à mídia, ouvimos e corremos os olhos por suas páginas impressas. Denúncias da zorra administrativa institucionalizada e do prende e solta que atua e lambe as beiradas da sacanagem política, acostumam o País às mazelas da corrupção, subjugam trabalhadores à sanha covarde do neoliberalismo, surrupiam e enfraquecem instituições, os Três Poderes, transformam a vida pública num enorme bordel. Nada contra os bordeis, as prostitutas não mentem.

A conivente ignorância histórica, no Brasil, trilhou e segue caminhando a calçada das verdades perenes. Por aqui, é bom lembrar que, em nome da liberdade democrática, em 16 de abril de 1964, o País pisava a história e milhares de vidas com sapatos e coturnos do pé direito e o general Castelo Branco pedia “ajuda” aos brasileiros. No inferno... todo santo tem chifre.

E o pulso, ainda pulsa!

(Antônio Lopes, assistente social, mestrando em Serviço Social/PUC-GO)

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