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OPINIÃO

Por que só música sertaneja?

Está sendo promovido pela maior rede de televisão do Estado um concurso com o intuito de se revelar novas duplas sertanejas. Agora, imaginemos se na lista de inscrição deste festival houvesse as canções:

A Banda, de Chico Buarque, com interpretação de Nara Leão – 1º lugar no II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1966.

Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, com interpretação de Jair Rodrigues – 1º lugar no II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1966.

Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, com interpretação de Elis Regina – 1º lugar no I Festival de Música Popular Brasileira em 1965.

Travessia, de Milton Nascimento e Fernando Brant, com interpretação de Milton Nascimento – 2º lugar no II Festival Internacional da Canção da TV Globo em 1967.

Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, com interpretação de Caetano Veloso e Beat Boys – 4º lugar no III Festival de Música Popular da TV Record em 1967.

Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim, com interpretação de Cynara e Cybele – 1º lugar no III Festival Internacional da Canção da TV Globo em 1968.

Roda Viva, de Chico Buarque ,com interpretação de Chico Buarque e MPB – 4 – 3º lugar no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1967.

Domingo no Parque, de Gilberto Gil, com interpretação de Gilberto Gil e Os Mutantes – 2º lugar no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1967.

Pra não Dizer que eu não Falei das Flores, de Geraldo Vandré, com interpretação de Geraldo Vandré – 2º lugar no III Festival Internacional da Canção da TV Globo em 1968.

Universo do Teu Corpo, de Taiguara, com interpretação de Taiguara – 3º lugar no V Festival Internacional da Canção da Rede Globo em 1970.

Dois Mil e Um, de Rita Lee e Tom Zé, com interpretação de Os Mutantes – 4º lugar no IV Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1968.

Planeta Água, de Guilherme Arantes, com interpretação de Guilherme Arantes – 2º lugar no MPB Shell 81 da Rede Globo em 1981.

Todo Amor que Houver Nessa Vida, de Roberto Frejat e Cazuza, com interpretação da banda Barão Vermelho (Cazuza, Roberto Frejat, Guto Goffi, Dé e Maurício Barros)

Tempo Perdido, de Renato Russo, com interpretação da banda Legião Urbana (Renato Russo, Dado Villa – Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha)

O Trenzinho do Caipira, de Heitor Villa-Lobos, com interpretação da Orquestra Sinfônica de Goiânia.

As canções citadas acima representam o que há de melhor em nossa música no último século e certamente todas elas seriam desclassificadas por não se enquadrarem nos “critérios” de duplas sertanejas e por não serem de Goiás, caracterizando um bairrismo sem sentido. Até mesmo Disparada e O Trenzinho do Caipira que possuem temática sertaneja não sobreviveriam. Ambas não teriam apelo comercial e no caso de Disparada, seria agressiva demais para tocar nas rádios. Isto não é saudosismo. Música de qualidade é atemporal e não é à toa que nossa música é reverenciada no exterior, vide Mutantes e Tom Jobim. Não se trata de retirar o direito de duplas sertanejas de participarem de festivais, afinal o art. 5º de nossa Constituição Federal é bem claro em seu inciso IV: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.” Trata- se de questionar o porquê de um privilégio exclusivo para a música sertaneja, sendo que também nossa Constituição é bem clara em seu art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...” e que a mesma desfruta de um poderio econômico e prestígio que outros gêneros musicais não possuem em Goiás. Basta observarmos nossa FM onde ecletismo e pluralidade são palavras inexistentes em seu vocabulário.

Redes de televisão como Globo, Record, SBT, Bandeirantes assim como suas afiliadas, prestam o serviço de radiodifusão em regime de concessão pública, que é concedido pelo Governo Federal. O que lhes pertence é tão somente equipamentos e funcionários. Os canais em si devem atender os interesses gerais da população e por isso é que não se deve distorcer o que é chamado “Função Social da Mídia”. Sofremos 20 anos de Ditadura Militar que destruiu a nossa Escola e fragmentou nossa identidade. É dever dos meios de comunicação promover e divulgar a cultura, como ocorreu nos Festivais Musicais da década de 60 e não manipular convenientemente esse dever, promovendo um contra senso no papel histórico da imprensa e da televisão que com erros e acertos, contribuíram na construção de nossa história. Estamos em uma crise não apenas monetária, mas também cultural e de valores. Se antes nosso povo respirava Festivais e a esperança de mudar o Brasil, hoje nosso povo respira a futilidade do consumo e a degradação da cidadania em todos os sentidos. Por isso, temos que buscar uma saída que liberte todos e construa uma verdadeira identidade cultural em Goiás e não um atalho que beneficiará pouquíssimas e como sempre as mesmas pessoas.

(Yuri Brandão, presidente da Juventude Socialista do PDT Goiás, membro da Direção Nacional da Juventude Socialista do PDT, fundador dos grupos PDT e JS – PDT no Facebook, membro da Direção Executiva Estadual do PDT Goiás, filiado ao Partido Democrático Trabalhista e bacharel em Direito pela PUC/GO. E – mail: [email protected])

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