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OPINIÃO

Todas as mulheres como pétalas espalhadas na história... (parte I)

Há sempre algo novo nascendo a cada dia. Rompe o sol no horizonte e novas perspectivas se abrem na contraditória caminhada humana. Estamos sempre construindo, ampliando, buscando.

Nesse afã de sempre ampliar, reside o milenar anseio humano pela ocupação e efetivação enquanto ser no/do mundo. Cada qual tem seu lugar nesse cenário conflitante e urge que, agora, saibamos construir um tempo melhor para homens e mulheres no sentido de que, doravante, possa haver um passado melhor no futuro que nos descortina o horizonte; pois na visão de Vinicius de Morais (1913-1980): “A felicidade é como a gota de orvalho/numa pétala de flor/brilha tranqüila/depois de leve oscila/e cai como uma lágrima de amor.”

Haverá, sim, desde o tempo perdido no pretérito, no hoje e no provável amanhã, alguém que esteja construindo a igualdade de gênero; juntando as formas geométricas díspares para uma mesma concepção em jogo de cores, que nos faz vislumbrar que até a matemática é um poema.

A discussão busca nortear a importância da plena consciência em relação aos valores humanos que se diluem e que ampliam barreiras quase intransponíveis no que tange à discriminação e segregação. Há que se pensar no ser humano homem e ser humano mulher; ambos grandiosos, mas falíveis.

A luta pela supremacia de um gênero sobre o outro que já e milenar, não tem finalidade nesses dias de agora. Vivenciamos o ápice tecnológico, o desenvolvimento acelerado, a quantidade e o conforto inimagináveis e nunca houve tanta frustração.

Quanto mais o homem avança, percebe-se um afastamento gradativo de sua essência e dos valores que trazem a tranquilidade e paz autênticas. Onde encontrar os anseios e crenças de nossos antepassados num mundo em constante competitividade? Homens competem com homens, mulheres com mulheres, homens com mulheres. Há que se ter um lugar ao sol a todo custo, inclusive o da perda do sossego.

E redundante equacionar, em pleno século XXI, a extensão da luta pela igualdade de gênero que se efetivou ao longo da jornada humana e que teve seu pleno apogeu nas últimas décadas do século passado. Muito foi feito e hoje, com tantos direitos garantidos por lei, ainda o que se verifica é a ausência de uma consciência; que acima das leis, fica a convicção de cada um no seu papel social.

Imaginando esta caminhada como uma grande sinfonia, entrelaçamos o discurso, num arranjo polifônico; buscando as diversas vozes, na música e na literatura, na poesia e no pensamento artístico, a verdadeira busca – pelo conhecimento e pela sensibilidade – de um despertar humano, no sentido de alcançar a beleza silente na canção de esperança que há, mesmo veladamente, no coração de homens e mulheres, pois, na grandeza perene do verso de Marcos Valle: “Quem tem de noite a companheira/ sabe que a paz é passageira/ pra defendê-la se levanta/ e grita, eu vou!”

É preciso, antes de tudo, falar do ser humano e de todas as suas fragilidades. É preciso pensar que, na humana caminhada, homens e mulheres se completam e se fundem, originando a eternidade. Nessa briga milenar pelo primeiro lugar, muito se perdeu ao longo do tempo e muitas vidas deixaram de ser completas e profundas, buscando a verdadeira essência poética que habita, mesmo que desapercebidamente, cada coração.

Somos todos similares a uma canção. Às vezes doce, às vezes áspera, às vezes fremente, tantas e tantas vezes triste e profunda; de uma imensidão que o tempo não pode dimensionar. Há tanto infinito dentro do ser humano para que possamos medir em meras e simples palavras. Há abismos que também separam gerações e transformam a luta pela vida e pela dignidade humana a mais necessária corrente que neste mundo podemos verificar.

Antes de tudo, do verbo e da dimensão do mesmo no entrechoque das palavras, nos significados das línguas, os parâmetros entre gêneros masculino e feminino são posteriores ao surgimento do ser humano. Há uma dimensão muito mais profunda no sentido espiritual do que apenas o biológico. Não só os caracteres que definem o que é um macho ou uma fêmea; existe a essência de algo absolutamente maior que nos une sem que disso nos percebamos.

Quando o ser humano descobrir tudo isso, terá acabado a disputa por quem manda mais, por quem tem mais, por quem amealha mais bens; quem faz suas reservas e despensas cheias no egoísmo que é próprio do fadário humano sobre a terra. Muito utópico esse primeiro pensamento, mas carregado de profunda humanidade. Quais são os elos da corrente que nos prendem ou nos separam na trajetória da vida?

Há um ser profundamente humano por trás de cada homem e por trás de cada mulher. Sonhos milenares e imemoriais que se perdem na poeira do tempo. Há gritos e ânsias em nós que pisamos o assoalho gasto desse novo tempo, assoberbado por contradições e desacertos.

Estamos no embate, em tempos difíceis, na época de lutas e de labutas. O que nos poderá salvar é a consciência de que tudo tem sua importância na evolução e no progresso que nos cerca.

Na holística concepção, centra-se o resgate da dignidade humana. É preciso uma uníssona canção. É preciso a parceria. O homem parceiro da mulher. A construção não do gênero masculino ou feminino, mas do gênero humano. Único.

“A porta do barraco era sem trinco/e a lua, furando o nosso zinco/salpicava de estrelas nosso chão/Tu pisavas nos astros distraída/sem saber que a aventura desta vida/é a cabrocha, o luar e o violão.” Nos belíssimos versos de Orestes Barbosa, cantados de forma inesquecível pelo grande seresteiro Silvio Caldas, a junção magnífica das palavras com arte e poesia, conseguiu um feito extraordinário: nunca em toda a literatura, a mulher foi tão exaltada, colocada acima dos astros, acima de tudo. Bons tempos aqueles em que ela não era a “cachorra, popozuda, piriguete, a atoladinha” e tantas outras que rebaixaram a beleza e a poesia do ser humano feminino.

Analisando a condição feminina na ocupação de seu espaço dentro da diversidade dos campos da atividade humana, verificamos, na exumação da história, que sempre houve uma luta desigual, exigindo um esforço hercúleo do “sexo frágil” para a remoção de tabus e preconceitos arcaicos, principalmente em relação à própria mulher que foi deveras submissa, que "às vezes passava fome ao meu lado/e achava bonito não ter o que comer" (terá existido esta mulher?) como nos versos de Mário Lago (1912-2002) e Ataulfo Alves (1909-1969).

Mas, a mulher é a mãe de toda a história. “És láctea estrela, és mãe da realeza/és tudo enfim/que tem o belo em todo o resplendor/em santa natureza.” Que bom seria se Pixinguinha tornasse real essa imagem poética no mundo de hoje...

No princípio, portanto, era o caos. Desse mundo surgiu a mulher que “tem os olhos onde a lua/costuma se embriagar”, conforme a visão plácida de Newton Teixeira. Essa mulher, de plangentes e grandes olhos que enxergam a dor do mundo, é hoje, parceira do homem na construção da eternidade.

Pouco ou quase nada se sabe sobre a participação feminina na chamada literatura oral ou na construção dos mitos e símbolos, já que a eles se confere uma produção coletiva.

No ocidente, pelo que nos refere a Poética de Aristóteles, inicia-se a produção do conhecimento artístico literário com Homero nos séculos IX e XVIII antes de Cristo. Somente dois séculos depois, surge a figura de Safo de Lesbos, que foi poetisa grega do principio do século VI antes de Cristo.

Esta poetisa tinha uma escola de poesia lírica, em que moças formadas por ela, preparavam- se para a execução de suas odes. De fato é o primeiro passo de uma milenar caminhada cheia de tropeços e arestas. E como exortou Tom Jobim, “e um raio de sol/nos teus cabelos/como um brilhantes/que partindo a luz/explode em sete cores/revelando assim os sete mil amores...” Que tantos amores, aceitos ou não, permearam a caminhada terrena da mulher...

O conjunto das poesias de Safo formou nove livros na Antiguidade, compreendendo epitalârnios, elegias e hinos. Mesmo com o seu pioneirismo, foi trágico o seu fim: precipitou-se no mar do rochedo de Lêucade, num ato de desespero. Aliás, em toda literatura, a morte está a ocupar um espaço trágico no destino feminino. Era preciso que alguém, com doçura de um Chico Buarque (ainda um jovem poeta aos 65 anos) lhe dissesse: “Lá fora amor/uma rosa morreu/uma festa acabou/nosso barco partiu.” Mas, o que havia era o silêncio que se constitui o “discurso” masculino em torno do avanço da mulher. Um silêncio que é mais denso e desmerecedor que uma crítica.

Diferentemente de seus contemporâneos épicos, como Homero e Hesíodo, Safo cantou o amor apaixonado; abrindo caminho para a perquirição psicológica, sem a noção do pecado, do erotismo surgido mais tarde com o advento do Cristianismo. E, com tudo isso, como Edu Lobo (1943) “eu pudesse entrar na sua vida/olha, será que é de louça/será que é de éter/será que é loucura”? Fica, portanto, a indagação: O que é insano na vida de uma mulher com todos os seus inebriantes mistérios?

Porém, nas sociedades patriarcais da antigüidade, a mulher era um ser insignificante e obscuro; sendo tratada com desprezo e sarcasmo. É como se no repto milenar, houvesse a assertiva: “Você não passa de uma mulher”, como no samba de Martinho da Vila, o grande nome da nossa música. Até mesmo no grau do nome, há diferenças e preconceitos. Se se diz “mulherzinha”, ou “mulherão”, há uma brutal diferença.

Platão, filósofo grego (429- 344 a. C.), autor de A República, com sua dialética e teoria das idéias, chegou a dizer: “Os homens covardes, que foram injustos durante sua vida, serão, segundo toda verossimilhança, transformados em mulheres em seu segundo nascimento.” Nascer mulher, portanto, era um fadário eterno.

A discriminação contra a mulher é milenar. Oriente o ocidente se juntam nessa mesma crença. São unânimes nessa concepção.

À mulher era negado qualquer trabalho externo e na vida pública, “és malandrinha/não precisas trabalhar” (Como se o compositor Freire Junior (1881-1956) não soubesse dos afazeres domésticos!) e, na realidade, não passava de uma escrava. Há no Levítico, uma equiparação da mulher com os animais de carga. “Lata d'água na cabeça/lá vai Maria/sobe o morro e não se cansa/pela mão leva a criança” (Jota Junior definitivamente exagerou!) e, também, os textos sagrados hindus privavam-na de sua liberdade e a condenavam a ser enterrada com o marido, mesmo que fosse perfeita a sua saúde. Mas, muitas mulheres se enterram mesmo com o marido vivo...

Também na China, a mulher, nas classes abastadas, sempre foi considerada uma boneca e, entre a plebe, uma mula de carga. Em relação às aristocráticas, como nada faziam dentro dos palácios dos mandarins, nasceu o costume sádico de deformar-lhes os pés, colocando-os desde a mais tenra idade em sapatos de ferro.

Mesmo o amor idolatrado dos poetas era apenas convenção formal. Tal fato foi o suficiente para que florescesse a concepção do amor cortês e a poesia em que ela se traduz e mesmo na música sensual de Custódio Mesquita (1910-1945) é possível perceber tal afirmação: “Não sei/que intensa magia/teu corpo irradia/que me deixa louco assim/mulher.”

Esse tipo de amor cortês propiciou ênfase à mulher e favoreceu um modelo de relacionamento entre os sexos, alternando, de certas maneiras, as diversas classes sociais. E, na realidade, o amor cortês era uma negação à sexualidade feminina, pois os ditosos cavaleiros apreciavam mais as suas montarias do que “o outro sexo”, cabendo aos trovadores a inventiva de um amor romântico inexistente. A Laura de Petrarca não é uma mulher, é uma abstração. E mesmo o “corpo dourado/da cor do pecado” cantado por Bororó (1898-1986) era, em súmula, um altar de devoção, contemplação, adoração anímica.

Com o Renascimento, teve início, timidamente, a revolta, Os pensadores progressistas passaram a criticar aqueles que haviam criado o século das luzes, mas que não propiciavam liberdade à mulher. Foram somente ecos isolados que não surtiram efetivo efeito, como a própria história registrou naqueles tempos.

O máximo da imposição e da tirania da sociedade machista sobre a mulher ocorreu em 1431, quando Joana D'Arc foi queimada viva numa fogueira, aos 19 anos de idade, acusada de heresia por ouvir vozes que a orientavam a ajudar o Rei Carlos VII da França a combater os ingleses na guerra dos Cem Anos.

Nesse período, também, o franciscano Francisco Ximenes escreveu o Libre de las dopes, com sermões sobre os perigos dos vícios e a necessidade de se adotar um modelo de virtude próprio para a alma feminina. Também, a inquisição, iniciada em 1560, em Essex, na Inglaterra, também não poupou as mulheres.

Foi no século XIV que surgiu a primeira escritora profissional que defendeu os direitos da mulher e sobreviveu com a venda de seus livros de poemas amorosos. Christine de Pisano (1364-1429) deixou ainda crônicas sobre os costumes sociais da velha França.

Surgem, numa sequência de tempo, Margarida, rainha de Navarra, contista; Vittória Coloina, com temática espiritualista na velha Itália do neoplatonismo renascentista; Louise Labé, contista francesa com versos pejados de sensibilidade

Diferentemente, Santa Catarina de Siena não aprendeu a escrever, mas ditou cartas e diálogos carregados de densa política da Itália do século XIV. Mais tarde, na Espanha, Santa Tereza de Ávila consegue sucesso com seus escritos místicos e linguagem amorosa.

Nesse período também, 1558, Elisabeth Tudor assume o trono da Inglaterra e consegue impor o protestantismo num país dividido por questões religiosas e foi alcunhada de “Rainha Virgem”, por ter-se mantido solteira durante os 45 anos em que exerceu o poder.

Foi esta rainha que promoveu o Renascimento inglês e reforçou a posição do país no Atlântico, derrotando a Armada Espanhola. Essas mulheres conseguiram grande feito, mesmo num período em que a própria medicina repudiava o talento feminino, pois o clínico espanhol Huan Huarte (1526-1588) garantiu que a mulher era inferior intelectualmente, por causa de sua natureza úmida, e por isso não teria sucesso nas letras, política ou artes.

No final do século XVII, precisamente em 1691, as mulheres do Estado de Massachusetts conseguiram o direito de voto, que perderam em 1780. Anos antes, 1678, Madame de La Fayette publica a pioneira novela francesa A princesa de Deves, mostrando as intrigas da Corte.

Mas, no século XVIII, em 1792, surge o primeiro eco clamando sozinho no deserto do indiferentismo, por meio de uma modesta governanta britânica, Mary Woolstonecraft que, audaciosa e injustiçada, trouxe a lume Vindications of the rights of women (Reivindicações dos direitos da mulher), inspirado em Rousseau, antecedida por Olympe de Gourges, em 1789, ano da Revolução Francesa, que propôs uma declaração feminina análoga a dos homens, o que foi claramente negado, já que a Revolução Francesa reconheceu apenas a necessidade de ensino para as meninas.

Em 1793, esse pedido é novamente negado pela Constituinte que tirava da mulher o direito de cidadania, permitindo sua entrada em trabalhos fora do lar apenas na criação do bicho da seda e nas manufaturas de tabaco, mesmo que o labor intelectual feminino já tivesse sido reconhecido, em 1788, pelo filósofo e político Condorcet.

O talento feminino, apesar de tudo, no século XVIII, teve raros lampejos de sucesso. Em 1740, a francesa Gabriele Emilie Du Châtelet publicou Lës Institutions de Physique, um fato raro entre o belo sexo, porque a fisica e a matemática eram quase exclusivas do homem. Essa marquesa também traduziu para o francês o tratado de Newton, elogiado por Voltaire.

No século XIX, vários nomes se consagraram nas letras, mostrando o empenho feminino em mostrar o seu talento, como Madame de Stael, que introduziu as idéias românticas na França, Mary Shelley (filha da pioneira Marv Woolstonecraft). que escreveu o famoso romance gótico Frankensteim, George Sand, Louise Mary Alcott, escritora norte- americana que estreou nas artes em 1854, com Flowers Fables, um livro de contos e, em 1860, iniciou colaboração na Atlantic Monthly, enveredando-se mais tarde na literatura infantil. Também Collete (1873-1954) deixou obras que revolucionaram a literatura francesa, abrangendo os transtornos políticos do seu tempo. No Anuário das Senhoras, de 1954, aparece artigo sobre essa famosa escritora.

Surge em seguida, a Sociedade Nacional para o Sufrágio Feminino, em 1868, no Reino Unido, e Associação Nacional para o Sufrágio Feminino, em 1869, nos Estados Unidos, havendo mesmo aceitação do voto feminino no Estado de Wyoming, para aumentar o número de eleitores do local.

Já em 1870, na Suécia, foi permitido o ingresso do sexo feminino na carreira médica, e na Turquia e Japão, de 1870 a 1874, surgem colégios exclusivamente femininos, na formação de professoras, o que culmina em 1878, na Rússia, a fundação da primeira universidade feminina em São Petersburgo (Universidade de Bestuzher).

Outros fatos importantes no século XIX podem ser enumerados no que concerne à emancipação da mulher: a criação da União dos Direitos Femininos, que teve o patrocínio de Víctor Hugo na França de 1882; a fundação do Conselho Nacional Feminino nos Estados Unidos, em 1884; o ingresso da matemática Sofya Kovalevskaya na Academia Russa de Ciências, em 1889 e a obtenção dos direitos de voto das mulheres da Nova Zelândia, em 1893.

A imprensa feminina no século XIX, além do trabalho literário, servia de propaganda do ideário feminino. Marie Deraisme fundou, em 1869, Le droit femmes, semanário que perdurou por vinte anos.

Essa audaciosa jornalista foi a primeira mulher a entrar na Maçonaria. Também no século XIX, Eleanor Marx, chamada Tussy, a filha predileta do filósofo alemão Karl Marx, inteligente e idealista, entregou-se à propagação dos ideais revolucionários do pai. Porém, sua vida particular foi desastrosa: apaixonou-se por um homem depravado e cínico – Edward Aveling – e por ele acabou cometendo suicídio.

Em 1900, o horário de trabalho feminino foi reduzido para dez horas, mas o repouso dominical não lhes era assegurado. Somente em 1900, no adentrar do século XX, novas reivindicações ou progressos na luta feminina foram sendo paulatinamente assegurados: França e Noruega, em 1901, aprovam o direito das mulheres ao voto.

No Reino Unido, em 1903, Emmeline Pankhurst fUnda a União Social e Política das Mulheres e, nesse mesmo ano, a polonesa Marie Curie ganha o Prêmio Nobel de Física, juntamente com o seu esposo Pierre e o colega Henri Becquerel. Em 1911, Marie Curie ganha o seu segundo Nobel, de Química.

Ocorrem manifestações femininas, desde 1904, em Copenhague, na Dinamarca, e no Japão, escolhendo em 1910 a data de 08 de março para comemorar o Dia internacional da Mulher. No Japão, em 1911, em 1913, na Noruega, as mulheres conseguem seu direito ao voto; 1913, Alemanha, Áustria, Suíça e Dinamarca – as mulheres celebram o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher e exigem seu direito a votar e serem eleitas; 1914, Turquia - é criada a primeira faculdade para moças na Universidade de Istambul; 1915, Suécia – a escritora Rilen Key pede informações sobre o controle da natalidade e exige que seja prestada ajuda econômica às mães solteiras; 1917, Holanda e Rússia – as mulheres conseguem o direito ao voto; 1917, Rússia – a revolução de outubro proclama a primeira Constituição Soviética (1918) e confirma a igualdade política, econômica e cultural das mulheres; 1918, Reino Unido – as mulheres de mais de 30 anos de idade ganham o direito de votar e serem eleitas para o Parlamento; 1919, Alemanha e Tchecoslováquia – as mulheres conseguem direito ao voto; 1920, Estados Unidos – as mulheres obtêm o direito a votar em todos os Estados do pais; 1923, América Latina – no dia 26 de abril é aprovada uma resolução histórica sobre os direitos da mulher na Quinta Conferência Internacional de Estados Americanos, realizada em Santiago do Chile; 1923, Turquia – com a eleição de Kemal Ataturk para presidente, as mulheres dão um grande passo em direção à emancipação; 1925, Japão – o Parlamento aprova, no dia 30 de março, uma lei pela qual se aparta as mulheres do sufrágio universal. Isto apagou a chama do movimento feminino japonês, 1925, Índia – a poetisa Sarojini Niadu, valente defensora do movimento feminino, é eleita presidente do Congresso Nacional; 1928, América Latina – é criada a Comissão Interamericana cki Mulher, durante a Sexta Conferência dos Estados Americanos, realizada em Havana, Cuba; 1929, Equador – as mulheres obtêm o direito ao voto.

No ano de 1930, Amy Johson, uma secretária inglesa, tornou-se a primeira mulher a voar sozinha de Londres até a Austrália e, em 1932, na Espanha, a Constituição Republicana outorga o direito do voto às mulheres; 1934, França - celebra-se em Paris o Congresso Internacional das Mulheres, que se manifesta contra o fascismo e contra a guerra; 1936, três mulheres, incluindo Iréne Joliot-C.urie, Prêmio Nobel de Física (1903) e de Química (1911), formam parte da Frente Popular de Leon BIum, embora as mulheres não pudessem votar; 1945, França e Itália – estende-se o direito do voto às mulheres; 1946, Japão – seis mulheres são eleitas para a Dieta (Parlamento); 1951, Organização Internacional do Trabalho – é aprovado o documento sobre o pagamento igual para trabalho igual, para homens e mulheres que realizam o mesmo serviço; 1952, Nações Unidas – é aprovada, por maioria de votos, a convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher.

As cientistas Gregory Pincus e John Rock Quee, em 1954, criam um preparado hormonal que inibe a ovulação, Assim, a pílula anticoncepcional, que transfere o controle da natalidade do homem para a mulher, é lançada no mercado e, em 1957, na Tunisia, uma nova lei afirma a igualdade civil das mulheres e dos homens; 1959, Ceilão – a senhora Sirimavo Bandaranaike converte-se na primeira mulher, em todo o mundo, a ocupar o cargo de Primeiro-Ministro; 1961 Paraguai – é dado o direito do voto à mulher, que passa, assim, a tê-lo em toda a América Latina; 1962, Argélia – 13 mulheres são eleitas deputadas à Assembleia Nacional.

No ano de 1963 a russa Valentina Tereshkova torna-se a primeira mulher astronauta, orbitando 49 vezes em torno da Terra a bordo da nave espacial Vostok 6. Já no ano de 1964, no Paquistão, pela primeira vez urna mulher, Fatimah Jinnah, apresenta-se como candidata às eleições presidenciais; 1966, Índia – Indira Gandhi converte-se em Primeiro-Ministro da Índia; 1967, Irã – a Lei de Proteção Familiar permite às mulheres trabalhar sem autorização do esposo; 1969, Israel – Golda Meir é nomeada Primeiro-Ministro de Israel; 1971, Suíça - A mulher obtém o direito ao voto; 1974, Argentina – Maria Estela Martinez de Perón sucede a seu esposo como presidente da Argentina; 1975 – Nações Unidas – é declarado o Ano Internacional da Mulher.

Depois desse feito, em 1979, a inglesa Margaret Thatcher é eleita a primeira ministra da Grã-Bretanha. Decisivamente antifeminista, essa química, formada em Oxford, transforma-se na dama de ferro, a mulher que mais detém poder no século XX, administrando de forma austera e conservadora.

O século XX é marcado pela emancipação da mulher e, também, pela sua consolidarão no campo literário, expandindo-se por todo o mundo o número de escritoras de reconhecido sucesso. Surgem nomes como Katherine Mansfield, que consagrou-se como uma das mais famosas contistas do século passado. Nasceu em 1888, na Nova Zelândia, e faleceu de tuberculose em 1923, na França, vivendo imensamente os seus 34 anos. Seu livro A Felicidade consta de contos primorosos e tem tradução brasileira de Julieta Cupertino

Nascida na Bélgica, em 1903, Marquerite Youcenar tornou-se famosa escritora e combativa feminista, lançando seu fenomenal livro Memórias de Adriano, e foi a primeira mulher a ingressar na Academia Francesa de Letras, eleita em 1980, rompendo o duro preconceito.

A escritora francesa Simone de Beauvoir (1908-l986) foi uma das precursoras do feminismo no século XX, publicando, em 1949, o livro O segundo sexo, abordando questões polêmicas como o uso do próprio corpo, casamento, aborto, prostituição, parto sem dor e o divórcio. Mesmo em “planetas separados”, com suas individualidades, a crise conjugal adentrou o século XXI, consolidando a eterna busca do ser humano pelo parceiro perfeito.

Outra escritora de sucesso foi Françoise Sagan que publicou, em 1956, Bom dia Tristeza, que revolucionou a crítica através do trabalho de uma mocinha de 18 anos, cujo estilo vivo e fluente fez de sua obra um marco definitivo na intelectualidade da França.

Assim, reflexão sobre a condição feminina inaugurada nas primeiras décadas do século XX pelos textos ficcionais e não-ficcionais da inglesa Virgínia Woolf encontrou eco em todos os quadrantes do mundo ocidental e, com pertinácia e sem esmorecimento, as mulheres foram colhendo o clamor e “tecendo a manhã”, assegurando seu “lugar na sociedade”.

De passivas e confinadas rainhas do lar, passaram a atuar na vida política e produtiva de, seu tempo, tornaram-se eleitoras e profissionais reconhecidas, abandonando a clausura do gineceu doméstico. No Brasil foi notório o papel de Bertha Lutz no empenho do sufrágio feminino.

Passaram a exigir o direito de participar nas decisões em todo nível autorizado pela sua habilitação ou talento – doméstico, empresarial, político – não aceitando mais restrições erigidas apenas pelo sexo. Tudo que for significativo para o ser humano e seu tempo, inclusive os anseios e as lutas das mulheres.

A mulher com suas múltiplas faces: como tema literário, como escritora, como personagem e como ensaísta está marcadamente vinculada à literatura deste começo de século.

“Com o Renascimento, teve início, timidamente, a revolta. Os pensadores progressistas passaram a criticar aqueles que haviam criado o século das luzes, mas que não propiciavam liberdade à mulher. Foram somente ecos isolados que não surtiram efetivo efeito, como a própria história registrou naqueles tempos.”

“Somos todos similares a uma canção. Às vezes doce, às vezes áspera, às vezes fremente, tantas e tantas vezes triste e profunda; de uma imensidão que o tempo não pode dimensionar. Há tanto infinito dentro do ser humano para que possamos medir em meras e simples palavras. Há abismos que também separam gerações e transformam a luta pela vida e pela dignidade humana a mais necessária corrente que neste mundo podemos verificar.”

(Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado, graduado em Literatura e Linguística pela UFG, pós-graduado em Literatura Comparada pela UFG, mestre em Literatura e Linguística pela UFG, mestre em Geografia pela UFG, doutor em Geografia pela UFG - [email protected])

CONTINUA NA EDIÇÃO DE QUINTA-FEIRA

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