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OPINIÃO

Uma breve visita ao passado

Fui citado em reportagem do jornal Diário da Manhã, assinada pelo jornalista Marcus Vinícius Felipe, que tratava dos desafetos colecionados pelo governador Marconi Perillo ao longo de sua trajetória que o tornou o maior líder político de Goiás. Iniciada em 1999, no primeiro ano de sua gestão, foi apenas dois anos antes da minha passagem pela Prefeitura de Anápolis, ocorrida em 2001. A citação e a equiparação a outros nomes também relacionados como desafetos ou prejudicados, política ou até pessoalmente, por Marconi me obrigou naturalmente a uma reflexão.

A primeira delas é quanto aos desdobramentos deste embate um tanto quanto desigual por trata-se de um governador contra um prefeito. Se política e juridicamente ainda pago um preço desproporcional ao cenário engendrado da época, pessoalmente compartilho que nada carrego comigo. Os traumas, incômodos e demais sentimentos ruins que me nutriram por um tempo naqueles anos, hoje, se foram. É preciso compreender a dinâmica da vida, seus percalços e seus aprendizados. E uma queda é uma lição mais poderosa que um sucesso, que pouco ensina, a bem da verdade.

Já muito tive a chance de apresentar as minhas versões sobre o ocorrido. Já me expliquei, já fui alvo de novos ataques por conta da revelação de fatos desconsiderados à época, mas tudo isto já passou. Quem sabe, um dia, não haja espaço para memórias acerca disto? Se não houver, tudo estará bem resolvido como está. Portanto, o momento não é um embate de versões, afinal, tudo a cada dia fica mais distante e a vida se renova, tanto pessoal quanto publicamente.

O que gostaria de ressaltar sobre a reportagem e sobre o governador de Goiás, Marconi Perillo, passa além de impressões pessoais. Por força dos fatos históricos recentes, fui incluído neste rol de políticos que tiveram reveses envolvendo Perillo. Sinto-me desconfortável por algumas comparações, o que verdadeiramente ocorre na lista ofertada com tamanho brilhantismo pelo autor.

No entanto, grande parte deles são vítimas e algozes. Estão há décadas vivenciando o jogo político e todas as suas vicissitudes. Fazem trocas, barganhas, batem tanto quanto apanham. Não se trata de ser melhor ou pior que qualquer outra personalidade política, mas de simplesmente ocupar um espaço histórico diferente de origem. Afinal, não sou político e não fui. Candidatei-me e me tornei agente político por força da necessidade do rito para tornar-se o que fui: prefeito da cidade que me presenteou com tantos bons frutos e cuja vontade era retribuir com trabalho e dando a minha contribuição.

Sobre a figura de Marconi Perillo, como disse e já demonstrei recentemente, meu passado está soterrado, espalhado no pó do tempo. Não posso confundir desejos ou dissabores pessoais com a minha capacidade de compreender sua atuação para além de mim. E Marconi Perillo tem realizado muito por Goiás, com erros e acertos, tem colocado o Estado em uma posição de destaque que talvez jamais tenha obtido. E esta verdade que reconheço deve ser superior à minha decepção nas suas relações políticas dos idos de 2001.

É possível que hoje Marconi Perillo não agisse com a truculência política que o fez há quase 15 anos. Com o tempo, ganhou mais poder ainda, mas também mais sutileza e mais inteligência na sua forma de agir. Talvez um dia, ele próprio tenha um momento íntimo de reflexão sobre o que fez não somente comigo e com a cidade de Anápolis naquele momento, mas também com outras personalidades da política. Que este dia chegue, mas que enquanto isto ele siga na sua missão pública e pessoal. Eu e todos os citados e os não comentados na reportagem fazemos o mesmo: seguimos a nossa.

(Ernani de Paula, empresário,

ex-prefeito de Anápolis)

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