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OPINIÃO

Jos’éliton: tal pai, tal filho

Nada como a força das ilusões. São como avalanches que levam tudo de roldão. Assim são as crianças com a ilusão de seus brinquedos. Assim são os adultos com a ilusão de suas paixões. O pior é quando as paixões e as ilusões se multiplicam ganhando adeptos no seio da multidão. Como nos velhos tempos, no cenário político atual estão de volta as paixões partidárias a reacender as ilusões do poder. Em vez de canções e hinos patrióticos, ouvem-se gritos, apitos, buzinas, foguetórios que ferem os ouvidos mais sensíveis e arrebentam a acústica dos auditórios, com a voz estridente dos locutores políticos.

Essas as impressões ruidosas que invadiram o pátio da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura no último dia 24 de setembro, com a solenidade brilhantíssima da filiação apaixonadíssima do jovem vice-governador José Éliton Júnior ao PSDB, na linha Marconi-Aécio, tão voluptuosa como uma tempestade avassaladora unindo as ondas do mar aos ventos do sertão, numa volúpia de paixões (dos homens por suas próprias imagens, como das crianças por suas aventuras).

Foi um festival de cores, de faixas, de siglas, de nomes em relevo desde os painéis municipais aos estandartes estaduais e federais, todos tendo como auréola seus deuses e sob a chapa dos pés, os demônios da oposição. Os discursos, se não fossem inflamados, não atingiriam o clímax dos oradores e não arrebatariam a atenção dos ouvintes, que precisam de emoções fortes para temperar suas ideias fracas, tudo isso materializado e misturado mais tarde num tradicional panelão goiano de arroz-com-pequi.

Emílio Vieira 1

Nas fotos expostas no painel eletrônico de um imenso auditório, refletiam-se os olhares luminosos dos paladinos do PSDB: Fernando Henrique, com o olhar voltado da esquerda para a direita. José Serra, com o olhar voltado da direita para a esquerda. Geraldo Alckmin, com os olhos esticados para um ponto distante. Aécio Neves, com o olhar espalhado para os quatro cantos. Marconi Perillo com o olhar flutuante e José Éliton com o rosto e o olhar concentrados no futuro. A depender da troca dos olhares, as linhas radiais apontavam para perspectivas múltiplas: difícil saber ainda qual era o ponto focal.

Fiquei pensando no que aconteceria depois de tanto barulho quando voltasse a reinar o silêncio na consciência dos cidadãos, depois de esvaziado o salão do espetáculo, depois de fechadas as porteiras do parque, depois de silenciadas as declarações de amor entre os protagonistas da cena (chamando-se companheiros, como se diz na união estável), levando a efeito uma peça teatral no palco da representação política. Fiquei imaginando, por outro lado, os efeitos da possível réplica em outros palcos, em outras arenas, onde outras paixões voluptuosas estariam mobilizando outras massas humanas competindo pela mesma bandeira a ser conquistada nas próximas eleições ao governo do Estado.

É sem dúvida no silêncio das noites que se preparam as ações dos dias subsequentes. É no recuo das tropas que se arquitetam as estratégias do combate. Na segurança dos líderes, que se alimentam os sonhos dos seus sequazes, que por sua vez sustentam a crença dos heróis nas vitórias. Tudo agora como antes, como sempre, como nos velhos tempos, em que os jovens de outrora, as crianças de antanho, brincávamos de mudar o mundo, que no fundo era o quintal de nossa infância sonhadora.

Conheci o vice-governador ainda jovem na sua adolescência cheia de arroubos, afeito aos debates ideológicos e aos embates políticos, por vezes em confronto com a cautelosa prudência de seu pai então prefeito de Posse, cenário de inesgotáveis paixões políticas. Com seu perfil futurista, o Júnior de Eltinho, ainda em Posse, já fazia seu périplo de translação em torno da rotação do mundo, com a velocidade das ideias e a simultaneidade das ações típicas de um aviador que já sobrevoava as nuvens antes de pisar em terra firme. É assim que vivem os sonhadores capazes de compartilhar seus sonhos com os espectadores que os aplaudem.

Mas o que seria do político se não fosse a ilusão do poder? E o que é o poder político, se não um mandato provisório que vem do povo para em seu nome ser exercido? Há no fundo um sonho que acalanta o político, como o ideal que sustenta o herói, cujo self está projetado no sonho coletivo. No estado democrático de direito, o papel do político é essencial como intérprete do sonho do povo. Na construção de um projeto social todos dependem uns dos outros: o povo do político que o representa, o político do povo que o elege.

Tal filho, tal pai

Hoje o pai (refiro-me ao pai do vice-governador) tem o filho que gerou em sua oficina de sonhos, como o guru que guia seus passos atuais, projeção do seu lado revolucionário, que poderia ter sido e que não foi. O nosso brilhante Joséliton – assim chamado na classe escolar pela nossa saudosa professora italiana, Soror Maria Crocefissa, em Posse – também desde jovem queria ser reformador do mundo, lutando à moda dos ideólogos franceses, pelos ideais de libertè, egalitè, fraternitè. Proferia inflamados discursos combatendo a corrupção já reinante àquela época e apontando os caminhos redentores das reformas sociais.

Por volta de 1962, um juiz de direito da comarca de Posse (que Deus o tenha) desfechou algumas coronhadas de revólver no então estudante José Éliton de Figueredo, que andava discursando contra a prática de grilagem no município de Posse, envolvendo pessoas ligadas ao magistrado. O fato ganhou repercussões e o juiz acabou sofrendo um inquérito policial militar sendo afinal “justiçado” como uma aposentadoria pela Revolução militar de 1964.

José Éliton (pai) formou-se em Direito, casou-se em Rio Verde (das abóboras), girou mundo e voltou para reformar Posse: aí começou seu duro estágio de administrador numa cidade que parece inadministrável. Mesmo assim transformou a velha Posse numa urbe moderna, no período de sua administração (1983-1988). Doutor Eltinho (assim chamado na intimidade) procedeu a uma reforma urbanística nos anos 80, retomando um plano de reurbanização implantado nos anos 70 por seu antecessor, Joaquim Pereira da Costa Sobrinho.

Então o prefeito inovador preparou a cidade de Posse para o futuro, que chegou velozmente pela rodovia federal Brasília-Fortaleza. Conduziu a administração municipal introduzindo um modelo racional e objetivo de gestão pública. Antecipou critérios técnicos e legais que mais tarde viriam a ser instrumentalizados na lei de responsabilidade fiscal. A Posse moderna de hoje, inclusive com amplas praças e áreas públicas institucionais, não existiria sem a planejada administração do doutor Eltinho (apesar das intrigas da oposição).

Na terra dos coronéis, tradicionalmente investidos no poder executivo, faltava em Posse, um outro coronel, ou mesmo um mediador, como síntese dos opostos, talvez o próprio doutor José Éliton Júnior, já agora como vice-governador de Goiás, para encerrar um ciclo de dissensões internas em Posse, para que assim volte a retomar sua escalada de progresso e eleger, como antes, seus representantes regionais.

José Éliton (filho) é hoje festejado inovador na gestão pública estadual, ao lado do governador Marconi Perillo, que o chamou à sua sucessão, trazendo-o para o PSDB. As iniciativas arrojadas no campo das inovações tecnológicas e a gestão pública conduzida de forma dialogada com todas as frentes organizacionais que envolvem o interesse do Estado, marcam o estilo pós-moderno do vice-governador, cuja imagem já está projetada na mídia como ator principal de nossa novela política.

Se compararmos as ideias tecnocráticas do Joséliton (pai) no passado, com as ideias inovadoras do Joséliton (filho) no futuro que chegou, como por exemplo, da visão municipalista do histórico prefeito de Posse que já antecipava as propostas atuais que resultam no pacto federativo defendido pelos municípios, mesmo sem querer entrar no mérito das questões atuais e sem querer fazer proselitismo (desculpem o trocadilho), há que se concluir que um novo processo dialético se instaura em Posse, em que entram o pai e o filho em busca da síntese que vem do espírito santo, iluminando a mente dos possenses, posseiros, possíveis e impossíveis. Então Posse poderá recuperar seu passado glorioso de históricos deputados e vice-governadores. Síntese que levará à eleição de Joséliton (filho) a governador de Goiás e Joséliton (pai) a prefeito de Posse, assim queira ele submeter-se a novo calvário para salvar seu povo.

(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa. E-mail: [email protected])

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