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OPINIÃO

Frutos nativos começam a ganhar espaço

O Brasil sempre foi muito rico em frutos nativos, apresentando uma diversidade impar no mundo, mas ainda não despertou interesse de ordem comercial em escala a toda essa variedade gigantesca.

Na Amazônia, os caboclos descobriram muito cedo a importância do cupuaçu, açaí, bacuri, buriti, graviola, pupunha, araçá, tucumã, entre tantos outros, em seu cardápio cotidiano. Além de nutritivos e energéticos, são saborosos e de fácil preparo. E fonte de renda para os nativos.

O cidadão urbano regional ribeirinho não demorou muito a incorporar esses frutos exóticos em sua mesa. Sua transformação em picolés, sorvetes e sucos nas cidades amazônicas, sobretudo Manaus e Belém, ampliou o mercado consumidor e assim tornaram-se comercialmente mais rentáveis.

Noutras regiões brasileiras sobressaem, o açaí, pelo seu composto afrodisíaco assim considerado, e o cupuaçu chegaram primeiro que os demais frutos nativos e se firmaram no mercado de consumo de Brasília, Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, entre outras cidades de menor porte. Hoje, suco e sorvetes de açaí e cupuaçu já são encontrados em lojas de conveniência ou grandes redes de supermercados dos Estados Unidos e da Europa.

Tenho uma estória para contar, que não é de pescador, acerca dos sorvetes do Pará. Numa ida de uma comitiva goiana, liderada pelo então governador Ary Valadão, a Belém, para inaugurar uma unidade do BEG, depois da siesta do almoço e em pleno calor tropical, Jerominho Rodrigues, jornalista da velha guarda e sempre com seu humor genial, chegou a este repórter e perguntou: – Oh, Wandell, você que é filho da re- gião, o que se faz nesta cidade nesta hora e com tanto calor?

Respondi de pronto que a melhor pedida era tomar sorvete de frutas tropicais no Tip Top. Para quê, ele e os demais companheiros, caíram na risada. Desafiei-os que se não gostassem, eu pagaria toda a despesa, inclusive do táxi. Nem precisou. Os glutões goianos encheram a pança de tanto sorvete de cupuaçu, açaí e outros mais de uma imensa relação. Claro, eles pagaram a conta. E, agora, quem riu fui eu. O velho conceito prevaleceu de quem “ri por último, ri melhor”.

Brincadeira à parte, na realidade, faltava como ainda falta um marketing para esses e outros produtos da região amazônica.

A castanha do Pará sempre constituiu numa riqueza e em alimento de alto valor nutritivo aos ribeirinhos. Segundo Jarbas Passarinho, ex-ministro do Trabalho no regime militar um dos maiores estudiosos da região, cinco castanhas correspondem ao valor proteico de um bife. Por isso, os nativos são bem nutridos em termos protéicos. E uma fonte de energia surpreendente. O canoeiro rema grande parte do dia em sua lida porque dispõe da castanha e do açaí como alimentos.

O produto constitui ainda fonte de renda para essa população pobre, a exemplo do cupuaçu, do açaí e demais frutos nativos da Amazônia.

No Centro-Oeste, nossa flora é de uma riqueza imensurável, mas como no Norte do Brasil, muitos na ânsia do dinheiro rápido, destruíram grande parte desse manancial.

Hoje, os frutos do cerrado apresentam alta rentabilidade mediante a crescente procura a partir dos campos.

A culinária goiana, onde o pequi no arroz é marca registrada pelo seu sabor e aroma, é um atrativo tanto das pessoas do lugar quanto dos que nos visitam, oriundos de outros estados e inclusive do exterior.

Os fazendeiros que antes ignoravam os frutos nativos e às espécies medicinais em abundância, agora correm atrás do prejuízo, graças a trabalhos de conscientização desenvolvidos pelos extensionistas da Emater e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

Estas instituições possuem catálogos com extensa relação dessas espécies, que contribuem na cura do câncer, cólicas intestinais, gripes ou tosses comuns.

Acatando o despertar dos consumidores urbanos pelas frutas e plantas medicinais dos Cerrados e da Amazônia do Brasil, pesquisadores vêm desenvolvendo esforços por sua preservação e até expansão de seu cultivo.

Nutricionistas se batem no maior conhecimento científico desses frutos, avaliando cada vez mais sua importância na culinária e na nutrição alimentar. A variedade de sabores é inigualável.

Instituição como a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás criou Comissão para tratar de forma abrangente do assunto. E outras instituições se aliam à Faeg e somam esforços em prol dessa riqueza latente, o que demonstra que os resultados tendem a ser altamente positivos, sobretudo na mudança da cultura preservacionista, que também é fonte de renda. O produtor, muitas vezes responsabilizado pelo desaparecimento das espécies nativas, passa a ser e qualificado para uma nova atividade altamente promissora, a exemplo da soja, do algodão ou da pecuária.

Afinal, ele é a saída única para a produção de alimentos, abastecimento e que contribui fortemente para maior peso da balança de pagamentos, fonte de renda e geração de empregos. Mas, sem dúvida, tem que se adequar aos novos tempos, onde a questão ambiental começa a ser levada em conta pelos consumidores do mundo todo.

(Wandell Seixas, jornalista voltado para a agropecuária e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)

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