“Os traços de modernidade na poesia goiana começam a aparecer a partir dos primeiros anos do século XX. João Accyolli é um dos primeiros nomes a se despontar com uma poesia inovadora e telúrica, de rara beleza, a evocar o Cerrado goiano de forma inusitada, em versos livres e carregados de belos sentimentos [...]
No poema ‘Assim é meu sertão’, Accyolli evoca a terra dadivosa dos goiases. E como um guardião do Cerrado vai abrindo pressuroso todos os significados e significantes desse termo: a terra encharcada e perfumada; as ramagens apodrecendo folhas antigas, paus-d’arcos, ipês, caraíbas, os timbós, as ramadas, cipós, árvores como os ingazeiros, compõem o cenário descrito pelo poeta em sua evocação.
É um canto de louvor ao Cerrado em todas as suas belezas, na afirmação pelo próprio título depois de tudo mostrar em beleza: ‘Assim é meu sertão’, ou seja, como se, mostrando, indicasse passo a passo as maravilhas brotadas do chão goiano.”
BENTO ALVES ARAÚJO JAYNE FLEURY CURADO(Prof. Dr. Fundador da ATLECA)
Poemas do escritor João Accyolli (João Batista Gonçalves Martins Accyolli Soares) Piracanjuba, antiga Pouso Alto /1912 . São Paulo/1990. Obras de arte de associados da AGAV e convidados.
ASSIM É MEU SERTÃO
A terra encharcada
Da água empoçada
Nas folhas secas e coivaras caídas
Desprende perfumes de mil essências cozidas
No laboratório
Das ramagens.
Paus-d’arcos amarelos e ingazeiros retortos
Levantam para o céu
A opulência do seu eu
Ostentando a nova geração de flores e frutos
Que a maravilha do clima sazonou
E a primavera cheirosa
Ofereceu.
E o viajante bisonho pasma ante a exuberância da paisagem
Exibida na arquitetura nativa:
Casas verdes
De moitas de timbó.
Mas a inclemência de agosto
Apresenta em seguida este cenário de mau gosto:
Árvores despidas,
Folhas caídas,
Rolando doidamente pelo chão.
Olhos d’águas sumindo nas bibocas
Sem a gente saber para onde vão...
E a terra ardendo e fogo, a terra quente,
Saturada de sol e de calor,
É toda uma fornalha incandescente
A arder no labirinto das chapadas
Sob a violência ululante
Das labaredas
Das queimadas...
GOIÂNIA MOSTRA SUA ARTE
As telas e escultura desta edição compõem a exposição coletiva de pinturas, desenhos, esculturas e gravuras de associados da AGAV - Associação Goiana de Artes Visuais e convidados pelo marchand Antonio da Mata a pedido da AGAV.
Data: Até dia 30/11/2015
Local: Centro Cultural Octo Marques
Endereço: Rua 4, nº 515 - Edifício Parthenon Center. Sobreloja - Setor Central. Goiânia - Goiás
“...Variedade de composições artísticas fazem parte deste momento. Uma festa de cores e formas em comemoração ao aniversário de Goiânia. A esperança de construir um ambiente harmônico e acolhedor no seio desta moderna metrópole é o que inspira os artistas unidos nesta grande exposição.”
NONATTO COELHO(Presidente da AGAV)
EXALTAÇÃO
O sol acorda para exaltar a terra
e a terra se levanta para exaltação do sol.
Manhã.
Na exuberância da vegetação,
dormem punhados de ideias escondidas.
Sertão
E o poeta, bêbado de sol, canta a imensidade de polarização
nessa manhã
de luz.
GOIÀS.
INDISCRIÇÃO
Minha linguagem é meio indireta mesmo,
sim senhor.
Minha linguagem é meio esquiva,
sim senhora.
Mas pode ser direta e certeira
como a flecha de boa pontaria.
Vejam:
aquele pretinho não tem o que comer!
CANCELA
Barulho molengo de gonzo rangendo.
(Cancela cerrada)
Uma cruz de duas tábuas rebatidas a prego
e ligando dois a dois, em diagonais,
os ângulos internos da porteira.
(Por aqui o capeta nunca há de passar...)
Pedaços de estanho incrustados no cerne bruto
dos moirões
onde se lê, gravado a bala, o nome sem música
de dois caboclos bambas no pinguelo.
(Aqui parou um poeta anônimo cansados de rimar:)
“Morena! Amor, meu coração é teu”.
Aqui zombou do mundo um mulato qualquer
entojado de viver:
“Morrê”
Momentos de caipora. Horas de candango-serei...
Fogos-fátuos na curva dos caminhos.
Gemidos lá longe de gonzos rangendo dentro do silêncio
preto da noite...
(Cancela aberta...)
Depois... o barulho molengo de rebordos de tábuas
pesadamente caindo de borco sobre a pança roliça
do pasmado...
(Cancela escancarada)
Perdura na desconfiança bisonha de quem passa
o eterno desatino de descobrir a razão de ser da
cruz plantada
junto a quase todas as porteiras,
abrindo sem parar os braços para o mundo...
(Tocaia! Cruzes! Tocaia!)
Não deixem nunca uma cancela aberta!
A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritora, acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã. Esta é a 195ª edição (desde 8/1/2012). [email protected]