Home / Opinião

OPINIÃO

A grande enganação de Alexis Tsipras

Durante metade deste ano de 2015, toda a mídia internacional foi envolvida pelo noticiário vindo da Grécia, a propósito da dívida daquele país perante a União Europeia. Como se sabe, a criação dos Estados Unidos.

U.S.A, inspiraram  a nova Europa, pós esfacelamento da U.R.S.S., a perseguirem a criação de um novo modelo de grandeza, com a junção dos pequenos países, juntamente com os países mais poderosos, tais como o Reino Unido, a Alemanha e a França, a fim de enfrentarem os chamados grandes países do mundo oriental oriundos da desintegração do mundo comunista.

Para isso, engendraram uma soma de entidades de tamanho diferenciado, embora da mesma natureza. Na verdade, não haveria como colocar na mesma escala de grandezas Portugal, Espanha, sobretudo a pequenina Grécia, de tantos valores culturais, mas carente de recursos materiais Ao lado disso, fizeram tabula rasa das peculiaridades do padrão monetário de todos esses países, igualando, artificialmente, o novo padrão monetário de mais de vinte países, como se todos fossem formados de uma mesma estrutura.

Quando estive na Grécia, há alguns anos, após a criação do Mercado Comum Europeu, fiquei encantado com a aparente prosperidade de todos os países desse conglomerado de países, especialmente a Grécia, onde, a partir da meia-noite, todo o transporte urbano era posto  à disposição da população inteira, gratuitamente, como se o governo estivesse, todo ele, nadando em dinheiro, o que não era verdade. Tanto que, pouco tempo depois, viria a explosão do “crash”, com a decretação da insolvência da Grécia, como um todo, com graves consequências dessa insolvência e assim, a cogitar de exclusão da Grécia da União Europeia o que seria o esfacelamento  de todo o Mercado Comum Europeu, pondo por terra todo um trabalho meticulosamente elaborado, durante décadas por todos os países integralmente comprometidos naquela obra de macroeconomia. No meio de todo esse emaranhado político e econômico, a França, por seu presidente, François Hollande, resumiu sua perplexidade numa frase de efeito: “Não à austeridade  sem crescimento; não ao crescimento sem austeridade.” Certo é que Tsipras se elegeu acenando aos eleitores com promessas que ele, definitivamente, não teria condições de cumprir, como, exempli gratia, afrouxar as rédias da economia, num país  notoriamente perdulário. Como a realidade se mostrou nitidamente outra, Tsipras não teve outra alternativa senão rediscutir o tema com as autoridades monetárias internacionais. De todas  essas  tratativas engenhosas, surgiu um novo entendimento, selando um acordo novo, que não era o primitivo acordo, tampouco o acordo pretendido pelas autoridades dos países mais severos. Ficou-se, assim, num meio termo, no qual a Comunidade Européia pudesse aceitar sem reticências, nem objeções, as mais díspares propostas dos países integrantes da Comunidade Europeia.

Assim, Tsipras pôde quase realizar os 12 trabalhos de Hércules, sem grave  prejuízo para a Comunidade Europeia, fazendo, contudo, algumas concessões factíveis.

Na Grécia de Tsipras, dois Partidos disputavam a primazia do eleitorado grego: o Pasok e a Nova Democracia.  Porém, em 2014, após mais algumas medidas de austeridade, o governo de centro-direita Nova Democracia, convocou eleições. Tsipras e o Syriza derrotaram o ‘leão’dos partidos tradicionais. A Hidra e suas 9  das 19  cabeças representando os 19 países do Euro, preferiram o ‘Grexit’: Áustria, Bélgica, Letônia, Alemanha, Finlândia, Eslováquia, Eslovênia, Lituânia e Holanda. Como Hércules, Tsipras teve que ‘cortar’ as 9  cabeças da serpente. Cuidou, a seguir, da Corça dos pés de Bronze  Como a Corça que corria veloz, a crise nos bancos se deteriorou rapidamente. Em 5 meses, o total de depósitos caiu 18%. E mesmo com o controle de capitais, os bancos entraram em colapso. E prossegue, a matéria publicada em “O Globo”, página “Economia”: “Agora, receberão 425 bilhões  de dólares”, se já não tiverem recebido.

O Javali de Erimanto – Segue, a reportagem: “Como o personagem que destruia as redondezas, hoje, pobreza e desemprego são mazelas gregas.” E prossegue, a reportagem: “Metade dos jovens até (os) 25 anos está desempregada. O país tem o maior índice de pobreza e risco de exclusão social da Zona do Euro, 35.7%.

As cavalarias de Águias. Prossegue, a minudente reportagem. Corrupção e sonegação são tão antigas como a sujeira nos currais do rei Áugias , que há 30 anos não eram limpos. A Grécia está no 69.a lugar entre os 175 países no Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional.”

Cuida, a seguir, de “As Aves do Lago Estinfale”. Daí, a reportagem: “Assim como Hércules matou as aves  de rapina. Tsipras terá de ‘matar’ a rebelião no partido Syriza. Parlamentares contrários à austeridade devem abandonar o partido. E talvez o ‘Premier’ tenha de buscar aliados  na oposição (Reportagem publicada em ‘O Globo’, pág. ‘Economia’, edição de 14.07.2015, pág. 18.).”

A reportagem trata, a seguir, de “O Touro de Creta”. E explica: “Tsipras tentou até o último minuto evitar que o socorro (obtido) fosse monitorado pelo FMI. Mas não conseguiu remover essa exigência dos europeus. Agora, terá de ‘domar’ esse controle externo, como Hércules fez com o Touro de Creta.”

Cuida, a seguir, de ‘Os Cavalos de Diomedes’ - “Assim como esses Cavalos de Diomedes, os Gregos provavelmente vão ‘vomitar fumaça e fogo’ à exigência de reforma na Previdência. O governo gasta 10,8% do PIB com aposentadorias. E metade  das famílias depende dessas aposentadorias para viver.”

Trata, em seguida, aludida reportagem, de ‘O Canto de Hipólita’ –  Imprescindível reencontrar o crescimento econômico, mas será tão difícil como capturar o Cinturão Mágico da Rainha das Amazonas. O PIB encolheu 26% entre 2008 e 2013. Sem poder mexer no câmbio, e diante do forte ajuste, será difícil sair da crise.

Vem, a seguir, o Tema ‘Os Bois  de Gerião. Monstro de três Corpos. Gerião foi morto por Hércules. Tsipras  tem um trio  de  credores (FMI, União Européia e Banco Central Europeu) e uma dívida de 432 milhões  de Euros. Mas, em vez de ‘matar’ a ‘troika’, terá de promover um duro ajuste fiscal.

Enfoca, após, o Tema de ‘Os Pomos de Ouro de Hespérides’. Diz, a reportagem aludida: “Atlas pegou os pomos de ouro, enquanto Hércules suportou o peso do mundo. Tsipra lida com um cenário complexo. Só a Turquia separa a Grécia do terror do Estado Islâmico em Síria e Iraque. A Rússia busca uma aproximação.

O tópico seguinte é o Cérbero - Eis um registro sintético sobre a matéria. “A última e mais árdua tarefa: ‘Assim como Hércules teve de retirar Cérbero, o cão de três cabeças, guardião das portas do Inferno, sem usar armas, Tsipras teve de aceitar, desarmado, a austeridade da Alemanha, e enfrentará o ‘Inferno da recessão’.”

Eis como a literatura jornalística fez uma sábia comparação entre a mitologia grega e o drama vivido pela Grécia hodierna.

Creio, porém, que o pior já passou, pois Tsipras, o grande prestigiador, mostrou como é possível dar nó em pingo d’agua.

(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35 – E-mail [email protected])

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias