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OPINIÃO

O centenário de Celestino Filho

A Academia Goiana de Letras dedicou a sua sessão de ontem à evocação do centenário de nascimento de Pedro Celestino da Silva Filho – nome parlamentar e de escritor Celestino Filho. Foi ele, por meio século – 1957-1996 –, o ocupante da cadeira 23 do sodalício. Presidiu-o no biênio 1959-1961.

Indicado pela Presidência da Casa para palestrante sobre o homenageado, senti-me à vontade para esse desempenho, eis que contemporâneo de Celestino durante a maior parte da sua vida. Professor no Grupo Escolar Coronel Pedro Nunes e na Escola Normal de Morrinhos, eloquente orador nas solenidades escolares, era ele das figuras mais conhecidas e admiradas da comunidade morrinhense.  Além disso, um dos maiores craques do América Futebol Clube, agremiação esportiva maior da cidade, cujos confrontos com os times dos municípios vizinhos – Buriti Alegre principalmente, pois tinha dois grandes representantes, o Botafogo e o Buri Esporte – e com clubes da capital, atraiam grande e vibrante público ao campo de futebol da Praça da Liberdade (hoje Praça Rui Barbosa). Grande centro-médio (nomenclatura da época; hoje um dos volantes), muito técnico, forte fisicamente, Celestino tinha também a qualidade da liderança do time.

Pelo seu valor intelectual, Celestino Filho veio a se tornar deputado estadual por três legislaturas (1951- 1963), com brilhante atuação, eis que foi várias vezes líder de bancada e presidente da Assembleia Legislativa. Em seguida elegeu-se por duas vezes deputado federal. A ditadura implantada no país em 1964 cassou o mandato dele em 13 de março de 1969 (o mesmo ato cassatório de que fui vítima). Foi mais uma das iníquas aplicações do AI-5, em que se incluiu suspensão de direitos políticos por 10 anos.

Celestino Filho foi também das mais sofredoras vítimas de outra das iniquidades que marcaram histórica e infelizmente o sistema e o regime impostos ao Brasil pelo Golpe de 64: a perda da vida do seu filho Paulo de Tarso, ainda muito jovem, no começo da década de 1970. Preso misteriosamente no dia em que desembarcara em Brasília, vindo de Paris, onde passara vários meses, Paulo entrou na lista dos desaparecidos políticos. Sabe-se que foi morto pela repressão ditatorial mas não se tem mínima informação da forma como ocorreu a sua execução. Dolorosa e dramática foi a peregrinação do seu pai em busca de informações. Celestino Filho, durante vários anos, buscou inteirar-se do destino do filho, jamais obtendo qualquer notícia.

Esse sofrimento, tão cruciante, tão doloroso, abalou terrivelmente a saúde de Celestino Filho. Quando faleceu, em Goiânia, a 8 de agosto de 1996, estava em uma cadeira de rodas, impossibilitado de mínima locomoção. Padecendo de diabetes, sua angústia foi de tal dimensão que o fez triste da metade da década de 1970 à data de sua morte.

Como escritor Celestino Filho foi sobretudo bom poeta. De poesia são suas principais obras: Rabiscos, Motivos Sertanejos e Rosas atômicas. O escritor e professor goiano Bento Fleury diz do filho de Corumbaíba que se tornou morrinhense de coração: “O poeto Pedro Celestino da Silva Filho, também dedicado as lides políticas, foi um cantor do sertão goiano e dos costumes da gente cerradeira e roceira.” E acrescenta: “Erudito sua obra é vasta e se define como um homem ocupado com o seu tempo e com seu meio.”

(Eurico Barbosa é escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às terças & sextas-feiras. E-mail: [email protected])

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