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OPINIÃO

O incrível jogo do terror

Uma pessoa conhecida mostra no facebook estranheza do brasileiro em se comover com a morte de 137 pessoas no atentado a Paris. E a indiferença com a morte de brasileiros no seu dia-dia. Particularmente, faço a diferença. O crime comum a gente não vê, salvo raras exceções, a pessoa matando a outra e a comoção é limitada. Caso contrário, o choque tende a ser marcante também e para o resto da vida.

Eu era criança em Araguatins. Uma pessoa cometeu um delito. O tenente Wagner, veja bem, nunca esqueci o nome do oficial da Polícia Militar, conseguiu chegar a tempo antes da fuga do cidadão pelo rio Araguaia. O tenente deu voz de prisão. A pessoa estava na tolda de um barco –a -motor e não queria se entregar. Fez o gesto de atirar e o tenente revidou e o cara caiu morto na hora. Nunca esqueci e retomo o assunto como se tivesse acontecido à minha vista, agora.

Retornando a Israel na condição de turista, o guia informava sobre a passagem de Jesus por Jerusalém e uma das pessoas do grupo achou por lamentar num tom de ironia a morte de palestinos por judeus. A resposta veio fulminante: “Aqui morre menos gente do que os assassinatos nos morros do Rio de Janeiro”. É verdade. Ocorre que a mídia faz um escarcéu danado, expondo a nação judaica à linha defensiva.

Esquecem, também, que os hebreus sofrem ataques terroristas praticados pelo Hamas, Jirad islâmica e Hezbollah. Estes lançam inclusive mísseis e se abrigam nos hospitais ou maternidades sabendo que o exército israelense atacará, por uma questão de segurança. Mas, a repercussão será negativa para Israel. É terrível o jogo do terror, que pratica seus crimes conscientes do que faz.

No caso do Brasil, na realidade, o brasileiro vai se acostumando as ações dos bandidos e seus crimes tornam-se banais e a mídia deixa de enfocá-los em manchetes ou chamadas mais insistentes nas emissoras de rádio e televisão. As exceções ficam por conta de alguns programas apelativos, onde sobressaem Marcelo Resende, na Rede Record, e Luiz Datena, na Band.

Mas, na mídia global os acontecimentos dantescos também repercutem. O caso do incêndio da discoteca de Santa María, no Rio Grande do Sul, que matou 194 pessoas e feriu outras 680 até hoje é lembrado. O desastre de avião habitualmente ganha manchetes quando envolve pessoas importantes. O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, candidato a presidente da República, sofreu acidente aéreo em 13 de agosto do ano passado. Sua morte causou comoção em todo o País. O Fernandão, ex-jogador do Goiás e do Internacional, vitimado por um acidente aéreo em Aruanã, na beira do Araguaia, também provocou comoção.

No passado, os atentados ocorriam mais em instalações militares ou contra políticos ou pessoas influentes. Na atualidade, as pessoas roubam e matam por tostões. Mas, esses crimes estão se tornando comuns e a mídia no máximo faz algum registro.

No caso do terror, que tem a natureza política, ideológica e religiosa, atenta-se contra alvos simbólicos. É o caso das Torres Gêmeas, símbolo do capitalismo americano. A repercussão nos canais de televisão, emissoras de rádio, sistema on line, jornais e revistas é sentida na hora.

E, por falar em americano, depois que se tornou potência após a 2ª Guerra Mundial, os Estados Unidos têm metido o bedelho onde não é chamado. É o caso do conflito do Vietnã, onde as tropas americanas foram escorraçadas nos idos de 60. O envolvimento também no Iraque, derrubando um aliado, Saddam Hussein. Depois, o Afeganistão.

É por causa da queda de Hussein que foram criadas diferentes células, inclusive a do Estado Islâmico (EI). O terror está gradualmente sendo implantado nos diferentes continentes. Agora, o terrorista do EI degola não apenas soldados capturados, mas também jornalistas e cinegrafistas que estão mostrando ao mundo, em seus veículos, as nuances de uma guerra. Seus membros violentam mulheres, mesmo crianças, num ato sujo sem noção e que estraçalham essas jovens pelo resto de suas vidas.

O mundo custará se esquecer do dia 11 de setembro 2001, quando foi surpreendido com os ataques terroristas nos Estados Unidos, a maior potência militar do planeta.

A Al Qaeda praticou ataque também em Madri, destruindo uma estação de trem e metrô, em 2004.

Doze pessoas ligadas ao jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, foram vítimas do terrorismo no dia 7 de janeiro deste ano. O Airbus A321M operado por uma empresa russa caiu este mês pouco após decolar do balneário de Sharm Al-Sheikh, no Mar Vermelho, a caminho de São Petersburgo. No total, 224 pessoas morreram. O EI reivindicou o ataque.

São atos de verdadeiros kamikazes que com uma bomba no cinto de seus corpos invadem os locais de seus objetivos, cometem assassinatos em série ou detonam seus explosivos e promovem os incríveis desastres sem piedade.

Segundo o jornal El País, de Madri, quase 2.000 cidadãos franceses viajaram para a Síria ou o Iraque – muitos via Barcelona ou Madri – e 500 já empunham as armas.

Os aspirantes ao combate aumentaram 212% só este ano. E o dado mais preocupante: entre 200 e 300 retornaram da Síria e do Iraque. O medo de um novo grande atentado estava no ar. O procurador da República François Molins chegou a falar da iminência de um 11 de setembro à francesa. E ele veio agora em ataques simultâneos em Paris, patrocinados pelo EI, vitimando mais de quinhentas pessoas.

A Al Qaeda inclusive usa o lema: “Vocês querem a vida e nós queremos a morte”. Isso tudo é fruto do fanatismo que pode ser praticado em qualquer lugar, sem fronteira, sistemas políticos, ideologia nem religiões. Bin Laden, líder do grupo, foi capturado numa ação cinematográfica pelos Estados Unidos.

O Estado Islâmico, contudo, o substituiu e os alvos mortais chegarão quando menos se espera, sem previsão de local, se contra jovens se divertindo, se contra famílias orando nos templos, fazendo compra nos supermercados ou nos shoppings, nos aeroportos, nos estádios e as pessoas totalmente desarmadas. É a insanidade a toda prova postas em prática que não convence ninguém de bom senso.

(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-GO, ex-bolsista em cooperativismo agrícola pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste e assessor de Imprensa da Emater)

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