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OPINIÃO

Humberto Crispim Borges: longa vida, obra singular

O goiano é Humberto com H; o potiguar é Umberto.

Homônimos na prosódia, militares ambos. E igual devoção à literatura. Humberto Crispim Borges, o nosso coestaduano, é afirmação de grande escritor como biógrafo e historiador e maior ainda como ficcionista. O outro produziu literatura de boa qualidade mas não incursionou pelo mundo ficcional.

Umberto Peregrino – cujo nome inteiro é Umberto Peregrino Seabra Fagundes – é autor de excelentes estudos sobre Euclides da Cunha e sobre vários outros vultos literários e históricos. Entre suas produções se sobressaem Imagens do Tocantins e da Amazônia, Os sertões como história militar, Tenentismo em debate e outros assuntos, Pedro Cobra e outros acontecidos, A guerra do Paraguai na obra de Machado de Assis, História de não contar, Crônica do Bairro do Catete: História, Vivências; Crônica de uma cidade chamada Natal, Literatura de Cordel em Discussão. E mais pelo menos uma dezena de outros livros.

Quando estudante, eu via o seu nome com muita frequência na imprensa brasileira como presidente de um órgão muito importante e muito querido na época de Getúlio Vargas: o Serviço de Alimentação da Previdência Social, cuja sigla – Saps – todo mundo enunciava, porquanto se tratava de extraordinário restaurante popular a servir milhões de brasileiros em todas as capitais brasileiras. Estudantes e operários se alimentavam diariamente no SAPS a um preço extremamente módico, quase simbólico.

Foi um grande homem o general-escritor Umberto Peregrino.

Dos maiores nomes da literatura goiana é Humberto Crispim Borges, falecido há oito dias – dia 8 último, aos 97 anos de idade. Foi fecunda a sua atividade de escritor. Contista excelente: Chico Trinta, O vale das imbaúbas, Cacho de Tucum, Do Padre Souza ao Rio Tejo, Cadeira de Balanço, Chico Melancolia, Fogos no céu, Brinco de Rainha, O sequestro, Deus cura, o doutor manda a conta e outros.

Foi bom historiador: História de Anápolis, Vultos Bonfinenses, História de Silvânia, Generais goianos, O pacificador do Norte, Gerações em Marcha: Crispim, Borges, Costa e Silva.

Fez ótimas biografias: Moisés Santana: Vida e Obra; e Americano do Brasil, também Vida e Obra, Reminiscências do Verde-Oliva é delicioso livro em que se misturam memorialismo e ficção.

Membro da Academia Goiana de Letras por mais de 40 anos (cadeira n° 4), demonstrou seu amor pela entidade com o excelente Retrato da Academia Goiana de Letras, obra de mestre.

Como militar foi paradigma de democrata.

Humberto Crispim Borges: 97 anos de vida exemplar. E de admirável operosidade intelectual.

Guardo dele, além de muitas outras recordações agradáveis, esta lembrança que vale uma eterna gratidão: ao tempo em que militares golpistas intentavam a cassação do meu mandato de deputado estadual, ele, servindo no 10° BC, sem que eu tivesse disso o menor conhecimento à época, fazia a minha defesa, o que certamente foi irresgatável contribuição para que somente anos depois, com o totalitarismo do AI-5, me fosse roubada a metade do meu mandato e me fosse imposta por 10 anos a suspensão dos meus direitos políticos.

Além de excelente escritor, Humberto Crispim Borges foi grande figura humana.

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas & sextas-feiras - E-mail: [email protected])

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