Home / Opinião

OPINIÃO

Que o país causador da desestabilização da paz

A região do Oriente Médio sempre foi palco de grandes conflitos, em virtude de agressões imperialistas, desde os mais remotos tempos; lutas religiosas e, modernamente, por causa da desmedida ambição das grandes potências pela exploração do petróleo, que se enriquecem, enquanto os países explorados permanecem na pobreza.

A Síria, que outrora abrangia o Líbano e toda a Palestina, sempre foi alvo de invasões estrangeiras (domínio do Egito faraônico; subjugação grega das conquistas de Alexandre; Império Romano; guerreiros “cristãos” das cruzadas; Império Otomano imposto pela Turquia com seus tirânicos sultões, e, finalmente, a força dominante das potências ocidentais vitoriosas na segunda guerra mundial, especialmente a França, que se credenciou com o estranho título de “mandato” para exercer domínio no pedaço, e, posteriormente, depois de muitas escaramuças e até bombardeios, acabou reconhecendo a autonomia do povo sírio.

Os Estados Unidos que sempre pretenderam ser o “xerife” do mundo, embora considerados como a segunda besta do Apocalipse na versão da religiosa adventista Helen White (livro Conflito dos Séculos), arrasaram o Japão com bombas atômicas a título de apressar o final da segunda grande guerra; criaram a cobra Bin Laden para fazer terrorismo contra a dominação soviética no Afeganistão, depois tiveram que matá-la por causa da tragédia das torres gêmeas; invadiram duas vezes o Iraque e assassinaram Saddam Hussein, cujo governo era um mal necessário para a estabilização da região do golfo pérsico, e, finalmente, incentivaram a chamada “primavera árabe”, com o intuito de, em nome de falsa implantação de democracia, derrubarem os governos inconvenientes do Egito, Líbia e Tunísia. Por que não estenderam o tal movimento primaveril para destronar os monarcas hereditários da Arábia Saudita, onde existem grandes desmandos?

Recentemente, o “Tio Sam” descobriu que o litoral do Mediterrâneo na Síria é rico em petróleo, mas como a sua exploração foi prometida para antiga aliada Rússia, passou então a estimular e até mesmo armar a rebelião interna, já de longa duração com um elevadíssimo número de vítimas, provocando o maior êxodo de refugiados de toda a longa história da nação, que inquieta a Europa, em busca da paz. Além disso, como consequência do enfraquecimento do governo sírio, hordas bárbaras locais e outras advindas do Iraque totalmente desarticulado pelas guerras ianques, juntando-se com voluntários da província rebelde russa da Chechênia e de outras localidades, criaram o famigerado “estado islâmico”, um extremado grupo de fanáticos religiosos, que vem praticando as maiores atrocidades, cuja fúria não tem limites, haja vista os atentados contra a cidade histórica de Palmira – um patrimônio  cultural da humanidade- e os recentes contra França.

Em face de terem os Estados Unidos e a Inglaterra desestabilizado o equilíbrio geopolítico do Oriente Médio, deveriam receber o maior número de refugiados e não a Alemanha e outros países europeus jamais comprometidos com a causa da tragédia.

O imigrante árabe, a exemplo do que aconteceu no Brasil, sempre foi benvindo e muito colaborou com nosso progresso econômico e cultural, desde o século passado, muitos deles eram verdadeiros refugiados da discriminação religiosa imposta pela tirania do domínio turco. O filho do cristão não conseguia ingresso nas escolas públicas e ainda muito jovem era chamado para o serviço militar e, se não perdesse a vida em guerra, voltaria para casa, após lavagem cerebral, com ideias contrárias à cultura familiar.

Procedente da cidade litorânea de Lataquia, meu avô materno, Jose Jorge Badra, ainda adolescente, aportou ao Brasil, na primeira década do século XX. Veio encontrar seu cunhado, Jad Salomão, que se tornou comerciante de tecidos nos primeiros tempos da cidade goiana de Goiandira, quando ali chegou a estrada de ferro em 1911. Jad era pessoa culta, estudou na Rússia, em educandários da igreja católica ortodoxa, e se tornou professor nas escolas particulares cristãs da Síria e na cidade de Trípoli, no Líbano.

Outro cunhado seu, Elias Jorge, fundou a primeira agremiação espírita de Goiandira (Centro Espírita Jardim de Luz) e doou muitos terrenos para obras públicas, inclusive construção do hospital e perfuração de poço artesiano para abastecimento de água.

Muitos sírios vieram para a nova cidade. Eram chamados de turcos, porque seus documentos tinham a chancela da Turquia e também este era um país conhecido mundialmente na época. Certa feita, um imigrante chamado Bourhan Helou, mais tarde residente no bairro de Campinas, onde mantinha um operoso escritório de contabilidade – grande fonte de empregos e verdadeira academia prática para os aprendizes de ciência contábil – resolveu convocar os moradores de Goiandira para esclarecer que os chamados turcos não eram turcos, aliás eram até fugitivos do domínio turco. Depois de muita explicação, parece que tudo ficou na mesma, eis que um popular presente gritou: “Morram os turcos de lá e vivam os turcos daqui.”

Integrante de ilustre família da colônia árabe paulista, veio para Goiandira Jorge Abrahão Hadad, cujo flho Simão Jorge Adad, nascido na importante cidade síria de Homms, desenvolveu atividades comerciais durante longos anos, no largo da Igreja do Rosário em Catalão (local da tradicional festa das congadas), onde trabalhava com tecidos, armarinhos e pedras preciosas, dispensando aos fregueses um acolhimento cheio de muita ternura e atenção.

Com suas mãos habilidosas e mesmo a olhos nus avaliava a qualidade dos diamantes e vislumbrava a coloração e qualidade do brilho a surgir na lapidação.

Aquela figura humana, de saudosa memória, é bem retratada pela filha Norma Simão Adad Mirandola, numa bela ode inserida no seu livro “Poemas Escolhidos” onde uma minuciosa descrição de tudo a demonstrar a identificação do ser humano com o objeto precioso jamais compromete o lirismo poético.

Segundo Leon Denis – o verdadeiro poeta da doutrina espírita – o espírito em seu milenar ciclo evolutivo, “repousou nas pedras, respirou nos vegetais, sonhou no animal e despertou no homem”. Criado como ser humano dede o início, mas passando por todos os reinos da natureza, o homem traz em si a impregnação dos vários estágios de sua jornada evolutiva.

Na expressão hiperbólica da letra musical da conhecida “Disparada”, o autor afirma que “na boiada já foi boi”, isto é, conhece profundamente o assunto. Poder-se-ia dizer, por analogia, que a finíssima pessoa do ilustre comerciante Simão Adad era uma verdadeira pedra preciosa, cuja luz incolor refletia o colorido de todos os matizes, como acontece no seu encontro com os cristais.

E esse colorido de variadas nuances, que brotou de si, reflete a numerosa prole resultante do casamento com D. Madiha, sendo Norma uma das filhas, que é mesmo norma modelar de escritora, poetisa, professora, educadora, mãe e dedicada esposa.

(Vivaldo Jorge de Araújo, ex-professor de História e Língua Portuguesa do Lyceu de Goiânia, escritor e agente aposentado do Ministério Público goiano)

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias