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OPINIÃO

Durante a ditadura militar a corrupção nadou de braçada

“Afirmações falsas de tanto serem repetidas acabam sendo aceitas como verdadeiras.”

Dissemina-se nas redes sociais que os generais presidentes do Brasil (Castelo Branco, Costa e Silva, Médice, Geisel e Figueiredo), morreram pobres. E os factóides geralmente terminam assim: “(...), os cinco generais-presidentes até podem ter cometido erros, mas não se meteram em negócios escusos, não enriqueceram nem receberam benesses de empreiteiras beneficiadas durante seus governos. Sequer criaram institutos destinados a preservar seus documentos ou agenciar contratos para consultorias e palestras regiamente remuneradas.”

Primeiro, generais não morrem pobres, seria muita ingenuidade nossa acharmos que autoridades de alto escalão morrem pobres.

O general Geisel, por exemplo, era magnata do ramo petroquímico, manteve sua influência sobre o exército brasileiro até a década de 80, além de colocar seus dois irmãos (Henrique e Orlando Geisel), menos capacitados, também para serem generais, este último conseguindo ser ministro do exército por influência do irmão famoso.

O general Médice assumiu a presidência do Brasil em 1969, considerado um dos governos mais duros e sanguinários era de família muito rica no Rio Grande do Sul.

E por aí vai.

Mas a minha intenção com esse modesto artigo é mostrar aos pacientes leitores que a época dura da ditadura fora repleta de corrupção.

Para as pessoas que pensam que nos anos de chumbo houve pouca ou nenhuma corrupção, lembrem-se que naquela época os militares censuravam as matérias jornalísticas, como qualquer outro tipo de mídia, permitindo somente divulgações favoráveis ao governo. Por isso, muitas vezes, nossa dificuldade em encontrar fatos relacionados à corrupção. E naqueles tempos não adiantava apelar para o Ministério Pùblico, Judiciário, e Congresso, porque todos esses estavam subordinados à força do governo federal. Naquela época, nosso ícone, juiz federal Sérgio Moro, rapidinho faria a passagem para o além, caso não se adequasse ao sistema, isso seria certo como dois e dois são quatro.

O jornalista e economista José Carlos de Assis publicou três livros: “A chave do tesouro”, “Os mandarins da república” e “A dupla face da corrupção”, relatando vários casos de corrupção na administração pública durante os anos de chumbo.

A título de exemplo, o golpe contra o presidente civil João Goulart fora financiado por grandes empresários que depois se esbaldaram de favores do governo militar.

Ressalta-se que vários aparelhos repressivos do Estado também eram financiados por empresários corruptos que depois usufruíam de sua proteção e prestígio.

Os militares também tinham forte participação no jogo do bicho no Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, o que fomentou e solidificou o crime organizado.

Pois bem, esses são só alguns exemplos de como as coisas funcionavam naqueles tempos.

Por fim, termino fazendo menção a uma entrevista feita com o promotor de combate à corrupção na Suécia, Dr. Gunnar Stetler. Perguntaram a ele o que faz da Suécia um dos países menos corruptos do mundo (dois casos nos últimos 30 anos). Gunnar disse que são três fatores: a transparência dos atos do poder, o alto grau de instrução da população e a igualdade social.

(Roosevelt Santos Paiva é advogado militante, procurador municipal concursado em Aparecida de Goiânia, vice-presidente da subseção da OAB/GO em Aparecida de Goiânia)

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