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OPINIÃO

O carona e o cavalo penhorado

Sonhos não merecem crédito. São fatos extravagantes que nos visitam durante o sono, sem que a gente fique sabendo porque. São mistérios que invadem nossa intimidade , digo, nossa tranquilidade, às vezes deixando o sonhador preocupado. Este aconteceu  comigo.

Você sabe interpretá-los? Tem esse dom? Pois então destrinche este que vou lhe narrar. Embora  com imprecisão porque os sonhos nem sempre acontecem com absoluta clareza. Sonhos sem conclusão, sem desfecho, sem arremate final. Mas aí esta a competência do intérprete – quase divina- para terminar o que ficou inconcluso, competência para ver o quê não foi mostrado ao sonhador, de ouvir o que não foi dito. Assim, é muita responsabilidade pesando sobre o intérprete. Sonhos assim me assaltam frequentemente. Gostaria de registrá-los todos, mas nem sempre isso é possível. Creio que em algum momento desses escritos já contei algum. Às vezes quero contá-los em casa, na esperança de que me ajudem a entendê-los . Mas nem sempre encontro ouvidos disponíveis. Quando o dia amanhecer e eu acordo, ai já não me lembro  de mais nada. Teria que ter despertado mais cedo quando o sonho ainda está vivo na memória. Mas o quê estou querendo contar lembro-me dele por inteiro, isso porque acordei logo em seguida e  fiquei pensando sobre o quê poderia significar. De minha parte confesso que não cheguei a nenhuma conclusão. Por isso estou pedindo que você o interprete para mim, por favor. Bem, chega de conversa e vamos ao sonho. Foi assim. Fui de carro até uma cidade grande. Era eu mesmo, não tenho duvida. Digo isso porque você pode pensar que era outra pessoa a cidade parecia Anápolis e ficava no rumo de Brasília. O carro parecia um fusca, era pequeno e não muito velho. Um amigo, talvez advogado, me acompanhava. Quando chegávamos em Anápolis comecei a procurar uns papeis, como se fosse um processo que deveria apresentar a alguém como um juiz, digamos. Encontrei os papeis que estavam em meio a muitos outros já velhos, sujos e amarrotados. No banco de trás do lado direito um estranho carona, nada mais nada menos que um jegue – sim, um jumento, sentado, todo comportado! (Pode?). olhei – o e quase me assustei.Quase... Em seguida pedi ao colega que fosse comigo mostrar os papeis ao juiz.

Rapidamente a memória recuou no tempo cerca de 43 anos, quando eu era advogado da previdência social, no Maranhão. (veja só, de Anápolis saltamos para o Maranhão!).

Mais ou menos em 1960, fazia viagens a serviço do patrão que então se chamava IAPC – que significa Instituto de Aposentadoria de Pensões dos Comerciários, na condição de causídico (não entende?), causídico quer dizer advogado, para fazer a cobrança de sua divida ativa e representá-lo em juízo. Cada advogado tinha sua área de atuação. A minha compreendia várias cidades da chamada “baixada maranhense”, ou seja , São Vicente Ferrer, São João Batista, São Bento , Pinheiro, Santa Helena e Cajapió. Bem, como advogado do IAPC ajuizei em Pinheiro uma ação de execução contra um contribuinte faltoso e voltei para São Luiz, deixando o processo em andamento. Tudo era difícil e demorado. Passado algum tempo o agente do IAPC em Pinheiro , José Berniz, me comunicou: Gabriel tem um cavalo penhorado aqui, e o juiz me nomeou depositário do mesmo. Que devo fazer?

Como é que vou alimentá-lo ? Não tenho verba para isso.

Fiquei meio embaraçado com o fato que pela primeira vez me acontecia.

Mais encontrei a resposta que o José Berniz buscava. Consultei meu chefe e passei –a ao Berniz. Criou –se uma averba especifica para comprar alimento para o quadrúpede que algum tempo depois foi arrematado. Não sei se o preço apurado com a arrematação bastou para pagar o alimento que comeu.

Esse o sonho, prezado intérprete. Assim que acordei meu pensamento voou direto para o fato passado a mais de 40 anos. E por que àquela hora da madrugada?

Passado já cerca de vinte anos.

Não precisa me explicar...

(Gabriel Ribeiro Soares Filho, advogado, sócio da Associação Goiana de Imprensa)

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