Home / Opinião

OPINIÃO

O futuro das bibliotecas

Quando se toca na necessidade de democratizar o espaço escolar imediatamente nos vem à mente o fenômeno que ocorre com as bibliotecas escolares. São poucas e, em geral, mal servidas. Há 15 milhões de alunos da educação básica que não têm acesso, no Brasil

Quando se toca na necessidade de democratizar o espaço escolar imediatamente nos vem à mente o fenômeno que ocorre com as bibliotecas escolares. São poucas e, em geral, mal servidas. Há 15 milhões de alunos da educação básica que não têm acesso, no Brasil, a qualquer tipo de biblioteca, mesmo as mais modestas que existem nas chamadas “salas de leitura”.

Muito se tem escrito a respeito disso. O educador Paulo Nathanael Pereira de Souza, que foi presidente do Conselho Federal de Educação, membro da Academia Paulista de Letras, tem ideias próprias a respeito do tema: “O Brasil detém uma das piores posições no ranking dos não leitores em todo o mundo. Dados oficiais informam que no país se lê pouco; a população de leitores, embora cresça em números absolutos, mantém-se estável em números relativos. Significa afirmar que, em 2011, o público leitor cresceu para 71,9 milhões, mas os livros não passaram de 3,1 exemplares por pessoa/por ano. Ou seja, no universo dos letrados não se consegue ler sequer quatro livros por ano. Não se criou o hábito da leitura.”

Há um movimento, em nosso país, no sentido de estimular as crianças, desde o pré-escolar, a gostar de leitura. Mais gosto do que hábito, pois este configuraria uma indesejável imposição.

Se os alunos se tornarem bons leitores, nas classes iniciais de alfabetização, cedo passarão a conviver com os livros, numa indispensável relação de cumplicidade.  Quando isso acontece já na puberdade os resultados não são os mesmos.  É claro que tudo depende das atitudes tomadas pelos professores do pré-escolar, aos quais se deve somar a contribuição necessária dos pais.  Vimos em Tóquio, numa visita feita à capital japonesa, o quanto a presença dos pais nesse processo é fundamental.  Em geral, antes de dormir, a criança japonesa pede a presença do pai ou da mãe ao seu lado, lendo algum livro, até que venha o sono.

Por isso é muito alto o índice de leitura do povo japonês.  O gosto pela leitura é adquirido desde cedo e os meios oficiais, por intermédio de inúmeras bibliotecas, faz a sua parte, com uma abundante e diversificada oferta.

Pesquisas recentes (Censo Escolar de 2013) mostram que 65% das escolas brasileiras não têm uma biblioteca regularmente constituída e 44% delas não conhecem laboratórios ou computadores.   Por aí se vê como é brutal o esforço para se alcançar a necessária qualidade do ensino, mesmo quando já existem, no sistema, benfeitorias como a Nuvem de Livros, que hoje alcança o número de  2,5 milhões de acessos, ao preço simbólico de 3,49 reais por semana.

No lançamento da quinta “Olimpíada do Saber”, nas instalações da Unisuam, em Bonsucesso, tivemos o ensejo de fazer algumas observações sobre o atual estágio do ensino médio em nosso país.  Defendemos a adequada formação dos professores e a sua correta remuneração, o que infelizmente não está ocorrendo.  Todos sabemos que é preciso investir, mas o que  se ouve é a existência de sérias dificuldades para que isso ocorra.  Devemos chegar a 6,1% do PIB, o que pode acontecer, mas o ideal seria que os recursos para educação fossem até 10% do Produto Interno Bruto.  Como subir esses números se a divulgação oficial denuncia que foram cortados 7 bilhões de reais dos recursos do MEC, numa brutal contenção?

(Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de Letras, da Academia de Letras de Brasília e presidente do Ciee/RJ)