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OPINIÃO

Para um acordo é preciso dialogar

Nos momentos em que parece difícil encontrar um ponto médio de entendimento, dialogar é preciso. Refiro-me ao exercício básico da democracia, aquele que, ainda que principiado por um conflito, deve, necessariamente, encaminhar-se para o comum acordo.

Infelizmente, por estarmos tão desacostumados com a troca de posicionamentos, sem aquela velha pretensão de termos posse de razão em plenitude, criamos outras estratégias, tais como vencer pelo grito ou pela imposição da força. Vence o lado mais forte, impondo-se implacavelmente sobre seu adversário. Tais como crianças recém-nascidas que, por ainda não saberem falar, choram a fim de alcançarem o suprimento de suas vontades, perdemos o jeito de dialogar.

Ou você está comigo, ou está contra mim. Ou absolutamente de acordo, ou inimigos mortais. Exemplos no mundo da política não faltam – note-se a troca de farpas entre uns e outros, algumas grosseiras, outras menos, inclusive aqui neste espaço. Ainda que o contexto político seja o nosso foco mais imediato, devemos admitir que se trata de um problema mais amplo, do arquétipo que engendrou o modo de ser da sociedade contemporânea, uma sociedade sem diálogo.

Haveria a necessidade de tantos partidos políticos, poderíamos nos perguntar? Talvez não. Em muitos casos, por detrás da militância partidária, em favor dos trabalhadores, da natureza, das famílias, ou do que quer que seja, há apenas a incapacidade de dialogar. Às vezes penso como seria uma sociedade como a que pensou Rousseau, na qual não haveriam partidos, apenas o diálogo em favor da Vontade Geral – que não é simplesmente a soma das vontades particulares, isto é, a vontade de todos, mas aquela que melhor representa o corpo soberano, na qual todos tomam parte, sem exceção; na qual, abdicando do que é trivial, todos, juntos, encontram a melhor escolha.

A política deveria ser assim. De tal modo que todos nos reconhecêssemos nela, tomando parte em suas discussões sem que, para isso, tenhamos que nos tornar inimigos. Mas o contexto não nos ajuda e muitas vezes preferimos nos colocar à margem das discussões.

Isto posto, confesso que um exemplo me chamou a atenção nesta semana e uso deste espaço para torná-lo público, parabenizando ambas as partes. Houve, no último dia 21, uma reunião entre a atual secretária de estado da educação, a Dra. Raquel Teixeira, e um grupo de professores e alunos do Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, do município de São Luis de Montes Belos, a oeste de Goiânia, uma das escolas que integram a lista das que seriam entregues à administração da polícia militar. Nesta ocasião, professores e alunos, após um mês de ocupação do colégio, tiveram a oportunidade de externar à secretária sua insatisfação com o processo de militarização. Ao que parece, foram realmente ouvidos, e não apenas escutados (como quando um som entra por uma orelha e sai pela outra) por Raquel Teixeira, que propôs que, caso conseguissem uma lista com as assinaturas de 80% dos pais, professores e alunos do colégio, o processo de militarização seria interrompido.

Vejam que belo exemplo do que pode ser obtido pelo diálogo. Caso a promessa seja cumprida por parte da Seduce, o Colégio Costa e Silva de São Luis não será repassado à polícia militar. Isso graças ao esforço de todos aqueles que abraçaram a política como autêntico modo de ser. Não há outro caminho para a construção de um mundo melhor.

Parabenizo a secretária, Dra. Raquel Teixeira, pela postura adotada e por estar aberta ao diálogo com a sociedade, aquela que é sempre a mais interessada em todas as decisões da administração pública. Aos professores, pais e alunos do Colégio Costa e Silva, do qual, desde o ensino médio, também me sinto parte, manifesto minha profunda admiração. Saibam que com este gesto vocês se tornaram incentivo para outros que, certamente, virão. Não podemos dar as costas para os rumos do estado em que vivemos. Lutar pelos nossos direitos não é mais que o nosso dever, sobretudo quando nos vemos como objeto de decisões arbitrárias e unilaterais. Nada que diga respeito ao povo pode ser decidido sem o seu pleno consentimento, sem que seja discutido amplamente, ouvindo-se todas as partes interessadas para se chegar a um consenso. Vocês, montebelenses de garra, são exemplo para todos os goianos.

(José Reinaldo F. Martins Filho, mestre em Filosofia (2014) e mestrando em Música, ambos pela UFG, doutorando em Ciências da Religião pela PUC-Goiás)

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