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OPINIÃO

Simeão e Ana

Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Era justo e piedoso. Esperava a consolação de Israel, e o próprio Espírito Santo, que estava sobre ele, tinha-lhe revelado que ele não morreria antes de ver o Messias prometido. Impelido pelo Espírito, dirigiu-se ao Templo; e quando os pais levaram o menino Jesus para cumprirem as disposições da lei a respeito dele, Simeão o tomou nos braços e, agradecido, louvou a Deus, dizendo:

“Agora, Soberano Senhor pode, segundo tua palavra, deixar partir em paz teu servo, porque os meus olhos já contemplaram a salvação que preparaste em favor de todos os povos: a luz para iluminar as nações e glória para o teu povo de Israel”.

Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que ele falava a respeito do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, sua mãe:

“Eis que este menino será a causa de queda e soerguimento de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. E quanto a ti mesma, será ele uma espada que traspassará em plena luz os pensamentos íntimos de muitos corações”. (Evangelho de Lucas, cap. 2, vv. 25 a 35).

Havia também uma profetisa chamada Ana, filha de Fanuel, da Tribo de Aser. Estava ela com idade muito avançada. Tinha vivido sete anos com seu marido, com quem se casou na juventude. Depois, enviuvada, chegou até os oitenta e quatro anos. Ela não deixava o Templo, servia a Deus dia e noite em jejuns e orações. Como chegasse na mesma hora, louvou, deu graças a Deus e falou a respeito do menino a todos os que aguardavam a redenção de Israel. (Evangelho de Lucas, cap. 2, vv. 36 a 38).

Simeão, cujo nome significa em hebraico Deus ouviu, era um homem de Bem portador de acentuadas faculdades mediúnicas. Era justo, piedoso e acessível às boas influências espirituais. Orientado intuitivamente por bons espíritos, Simeão dirigiu-se ao Templo e ao encontrar Jesus, tomou-o nos braços e agradeceu a Deus pela misericórdia contemplar o Messias antes de sua desencarnação, conforme uma revelação, ocorrida durante suas preces fervorosas. Ele representou a fé e a esperança de um povo e de uma Humanidade necessitada de consolação, de paz, de amor e de um exemplo perfeito a ser seguido.

Embora não se tenha dados históricos concretos a respeito de Simeão, o “Evangelho de Nicodemos”, considerado apócrifo, denomina Simeão ‘grande sacerdote’. A tradição diz que ele era o célebre rabino Simeão, chefe do Sinédrio, filho de Hillel (70 a.C. a 10 d.C.) e pai de Gamaliel, mestre do apóstolo Paulo, também o considerando “bastante idoso”. No entanto, diante de tais informações, Simeão não deveria ter mais de 55 anos, talvez uma idade considerada avançada naquele tempo.

A providência divina, por intermédio de Simeão, alertou Maria para os futuros sofrimentos decorrentes da missão sublime de seu filho que, certamente, teria seu início alguns anos após a desencarnação de José. O Messias soergueria os justos, contestaria o orgulho, a ambição e a ignorância de muitos e despertaria comiseração, em seu calvário de luz, aos que o amavam e, por ele, a tudo renunciavam com alegria, fé e determinação. O símbolo da espada pode ter-se inspirado em Zacarias (12:10) e Ezequiel (14:17). Simeão foi o primeiro médium, depois de seus pais, a tocar o precioso menino. Por meio dele, José e Maria, mais uma vez, certificaram-se da responsabilidade assumida e da missão especial do filho tão amado.

O encontro de Simeão com o menino Jesus e seus pais ocorreu no Templo de Jerusalém, durante a prática das formalidades religiosas do judaísmo que consistia na consagração do primogênito e na purificação da mãe.

Os relatos de Flávio Josefo, historiador judeu, descrevem o Templo de Jerusalém em sua aparência:

“A face externa do Templo, de frente, pretendia, nada mais nada menos, surpreender o espírito e os olhos dos homens; pois era toda coberta de placas de ouro, de grande peso, que aos primeiros raios de sol, refletidos em sua parede, faziam, de tanto resplandecerem, as pessoas voltarem-se para o lado oposto, como se estivessem contemplando o próprio sol. O templo parecia aos que nunca o tinham visto, quando estavam ainda a uma boa distância, como uma montanha coberta de neve, pois as partes que não eram douradas eram incrivelmente brancas.”

O Templo de Jerusalém representava um centro de fé aos que o visitavam. Enquanto seguiam pelo caminho, e, especialmente, quando estavam subindo o monte Sião em direção a Jerusalém, os peregrinos cantavam o “Cântico das Subidas, salmos 120-134: “Fiquei feliz quando me disseram: ‘vamos à casa do Senhor!”

Ana, cujo nome significa misericórdia, era uma profetisa, ou seja, possuía a faculdade mediúnica da presciência, do conhecimento futuro. Ana descendia da tribo de Aser, o oitavo filho de Jacó, nascido de Zilpa, serva de Lia, veja em Gênese, capítulo trinta, versículo treze.

A região destinada aos descendentes de Aser ficava no litoral da Palestina desde o monte Carmelo até Sidom, era próspera e abrigava a mais numerosa tribo de israelita, na contagem no Sinai. No tempo de Jesus, Aser era uma tribo quase desconhecida porque não deu a nação qualquer herói ou juiz, no entanto, Ana que era filha de Fanuel, até então desconhecida, descendia, como seu pai, dessa tribo. Mais uma vez, a vida de Jesus vincula-se à simplicidade e ao anonimato dos que sabem servir e esperar, em constante oração, disciplinas física e mental.

É improvável que a venerável Ana residisse no interior do Templo porquanto não era permitido pela Lei.

Os profetas no tempo de Jesus eram considerados os enviados de Deus com a missão de instruir a Humanidade e de lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual. Entre os hebreus havia duas espécies de profetas: os nebiim, que eram os profetas, cuja missão era a de instruir os homens no conhecimento religioso, e os rôim ou hôzim, isto é, aqueles que tinham o dom da presciência. Ana revelou e divulgou a todos que ansiavam a vinda do Messias. José e Maria mais uma vez ficaram agradecidos por mais esta manifestação da misericórdia divina destinada ao fortalecimento de fé, em suas missões. Depois disto, possivelmente retornaram a Belém, visando o retorno a Nazaré, o que não ocorreu, devido a perseguição de Herodes.

Assim que se aproximaram do Templo, em Jerusalém, José e Maria viram uma série de átrios. Os átrios eram locais destinados a diversas atividades religiosas. O átrio mais exterior era o dos gentios, que eram todos os indivíduos que professam religiões politeístas, no qual todos poderiam entrar, mas além do qual os gentios não podiam ir. Nele, os mercadores que vendiam pombos e cordeiros para os sacrifícios tinham suas tendas, e os cambistas, suas mesas. O lugar parecia um mercado efervescente do que uma parte do Templo.

Depois existia o átrio das mulheres, onde os judeus poderiam entrar, mas além do qual as mulheres não podiam passar. Nesse átrio José e Maria encontravam a profetiza ou a médium, chamada Ana.

José e Maria também teriam visto o átrio dos israelitas, além do qual nenhum leigo devia se aventurar.

Finalmente, havia o átrio dos sacerdotes, com o grande altar e, ao fundo, o Lugar Sagrado e o Santo dos Santos, onde ninguém podia entrar, exceto o Sumo Sacerdote, e somente uma vez por ano, no Dia do Sacrifício.

É possível que Ana, por ser uma mulher judia, oficialmente pertencesse a classe dos profetas que tinham o dom da presciência, mas deveria ser uma instrutora respeitável nos círculos mais íntimos. Os seus exemplos de dedicação, de fé e de amor, desde a juventude, ressaltam sua nobreza espiritual, uma maturidade profunda, própria de quem superou todas as ilusões do mundo material, identificando e abraçando a sua real missão.

(Emídio Silva Falcão Brasileiro, autor da obra A Caminho do Deserto - www.cultura.trd.br)

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