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OPINIÃO

2015: o ano Vila Nova

Meu nome é José da Silva, meus amigos me chamam de Zé, de Zé Vila Nova ou Zé Esperança, sou esperança porque sou Vila e sou Vila por ter esperança.

O ano de 2015 começou ruim, da pior maneira possível, tentava esquecer, mas todos os meus amigos faziam questão de me lembrar que o Vila Nova, razão das minhas alegrias, estava na segunda divisão do futebol no Estado.

"Está acabado" dizia uns, "vai fechar" dizia outros. "Que humilhação", dizia os rivais que faziam piadas, até parece que tinham algo para comemorar. Fingia não importar, mas me importava, muito.

Sim, humilhação, no início do ano eu sabia que seria um ano longo e repleto de humilhações.

Na verdade, entendo todas as piadas, todas as chacotas por parte dos rivais, mas nunca entenderei a forma jocosa com que parte da imprensa trata os momentos difíceis do Vila e dos times goianos, visto que vivem por conta deles, do sucesso deles.

Sim, tinha medo. Abandonaram o Vila, gente que se fez de vilanovense e deixou o clube na pior situação possível. Aí apareceram outras pessoas prometendo arrumar tudo, logo pensei 'será que podemos confiar?', mas não tinha escolha, era acreditar, era ter esperança e eu... Zé Esperança acreditei.

Começou o Campeonato Goiano, aquela coisa sem graça e sem vida, pois não tinha o Tigrão, que colore essa cidade e dá vida a nosso futebol. Percebia a "semgraceza" do campeonato, ninguém comentava nas esquinas e nos bares, parecia que nem futebol existia mais em nosso Estado.

Um dia me perguntaram "Zé, viu o jogo?" - mas que jogo meu Deus, o Vila jogou amistoso e não fiquei sabendo? ... sim, isso é ser vilanovense.

Mas no dia 21 de fevereiro começou a guinada, a primeira página da nova história do meu Vila Nova, eu estava lá em Ipameri... em Anápolis, Itaberaí, Morrinhos, Iporá, e onde precisar, pois eu, Zé Vila Nova sou torcedor do Tigrão, e você sabe né?! Nós nunca abandonamos.

Tínhamos sim a obrigação de sair com o título, ficou difícil, quando perdemos para o Anápolis na segunda rodada da fase final... aí continuamos, pois nós vilanovenses não desistimos, eu mesmo continuei acreditando. Na penúltima rodada o time tinha que ganhar com boa vantagem de gols, abrimos 2, tudo alegria, aí tomamos um maldito gol, mas tudo deu certo, fizemos mais um e na última rodada, 6 x 0 e caneco na mão.

Falei que não comemoraria Divisão de Acesso, mas quer saber? Comemorei muito.

Mas os rivais, sabem como é né? "bater em bêbado é fácil"... "se orgulham disso?"... "quero ver no Brasileiro."

Sim, eu, pobre torcedor sabia que no fundo era verdade, sabia do desafio. Aquela diretoria desacreditada continuou trabalhando e nós torcedores, acreditamos cada vez mais e nos enchemos de esperança para o maior desafio do ano.

Tudo começou com jogo em casa em 17 de maio e, em casa sempre estou presente, mas estive também em Fortaleza, em Marabá, Aracaju, Salgueiro, Cuiabá, Juazeiro do Norte, Natal, João Pessoa e Arapiraca, pronto primeira fase concluída, mas continuei e rumei para São Paulo, Pelotas e Londrina. Fui a todos, mas não só "fui", fui senti e vivi cada momento, me decepcionei, me alegrei, xinguei juízes e jogadores, sorri, me "arrupiei" em diversos momentos e confesso, chorei.

Mas claro, é o Vila e sabemos, no Vila nada é fácil, nunca. Se for, não é Vila Nova.

Quartas de final, jogo aqui em casa, que lotamos é claro, tínhamos que vencer, jogo contra a Portuguesa de Desportos... a bola teimava em não entrar e o medo rondava a torcida, aí eu, Zé Vila Nova, o Zé Esperança comecei a gritar e apoiar, com mais 23.121 apaixonados, aí não demorou e a torcida, sim a torcida, fez o gol que nos deu a vantagem no jogo de volta. Em São Paulo, quando todos esperavam um jogo difícil, o Vila logo no início fez dois gols, mesmo com o desenrolar do jogo, chegamos ao objetivo traçado no início do ano, subir para a Série B.

Claro, uma carreata parou a cidade quando os jogadores chegaram ao aeroporto. Mas, eu pensei, tal como todo colorado: por que não querer mais?

Sim, os rivais que tagarelavam no início do ano sumiram e a cidade ficou cada dia mais vermelha.  Faltava um passo para a final, aliás, dois, em Pelotas 0 x 0. No Serra Dourada tudo caminhava para mais um 0 x 0 e eu pensava 'pênaltis até que seria legal', maldita hora que pensei isso, o jogo foi para os pênaltis e aí meu amigo... que sofrimento monstruoso, mas enfim passamos, estávamos na final de um torneio nacional depois de 19 anos.

Rivais cadê vocês? Não, não os via mais nas praças, ruas e bares... as piadas deram lugar ao silêncio, deles aliás, porque nós colorados fizemos barulho, muito barulho. Fomos os chatos e insuportáveis de sempre.

Partimos para Londrina, recepção respeitosa e 1 x 0 contra nós.

Jogo de volta, como de praxe não dormi desde 3 dias antes, fiquei inquieto, ouvia "calma Zé", não, definitivamente quem me falava isso não sabe o que é ser vilanovense.

Fui para a entrada do estádio recepcionar o time, quando vi a bola já estava pra rolar.

De uma coisa eu tinha certeza 'pênaltis nunca mais'. A empreitada era difícil, tínhamos que reverter o resultado, a torcida apoiou, apesar dos ingressos caros, lotamos o estádio... 40.914 torcedores, só o Vila Nova faz isso por essas bandas. Para piorar, no início do jogo gol do Londrina... um amigo me olhou e disse "agora ficou difícil Zé, não dá mais", quando fui responder que ainda tinha esperança... goool do Tigrão e com o apoio da torcida, virou o jogo ainda no primeiro tempo... eu tinha certeza, aliás esperança que faríamos mais um e seríamos campeões. Na segunda etapa o Vila pressionou, era fácil ver o medo, na verdade pavor no rosto de cada jogador do Londrina, a torcida cantava cada vez mais alto e o medo deles era cada vez mais aparente... aí, com a torcida ajudando ninguém segura o Tigrão, fizemos mais um e no fim, mais um... 4 x 1 e título pro time do povo, da maior e mais apaixonada torcida do Centro Oeste.

Gritei muito, com meu grito foi embora anos e anos de humilhação, fiquei sem voz, mas com a alma lavada e com o coração abastecido de esperança, ainda mais esperança não só no meu time, não só no Vila Nova, mas na vida.

"Isso tudo Zé?" Me perguntaram, e respondi, não, realmente não é isso tudo, é mais, é muito mais... é Vila Nova Futebol Clube, para nós nada é fácil, mas é verdadeiro e intenso.

Um amigo ainda me perguntou "Zé, então o Vila teve um ano igual uma fênix, ressurgiu das cinzas?"

Não meu amigo, jamais, essa tal de fênix não existe, é um bicho fictício, igual uns que cospem fogo aí, o Vila é o Tigre, forte e imponente, não igual um pássaro frágil, o Vila é um Tigre, que jamais foge à luta, que busca forças onde as pessoas pensam que não existe, é um Tigre, que jamais se dá por derrotado, é o Tigrão da Vila.

Se no início do ano me pedissem para escrever o roteiro de um ano perfeito, eu não teria a capacidade de criar algo tão fantástico como o destino criou.

Sou o Zé Vila Nova, o Zé Esperança, o Zé, o João, o Pedro, a Maria, a Josefa, sou o torcedor, sou a torcida vilanovense.

Makchwell Coimbra Narcizo Professor na Faculdade de Educação/UFG. Historiador, graduado em História pela UFG, Mestre em História pela UFG, Doutorando em História pela UFU. Um Zé vilanovense

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