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OPINIÃO

Anjo regenerador

Seis horas da tarde, parecia noite, o céu coberto por nuvens negras, a hora que a chuva começasse a cair o tempo ia invernar, um homem segue apressado pela estrada de chão batido em seu cavalo negro.

Passa pelo andarilho em ritmo acelerado, para logo à frente, olha para o andarilho, e diz:

– Suba na anca do negro e vamos acelerar para minha cabana viajante, senão a chuva te pega.

O andarilho mais que depressa sobe, pois sabe do perigo que corre em meio ao nada, e sem lugar para se abrigar.

O homem aperta o passo, e ao longe uma luz acesa em uma cabana, logo os dois apeiam do negro e entram correndo na humilde casa, pois a chuva já começa a cair.

O andarilho agradece ao Pai soberano pelo envio de um anjo protetor, que lhe deu carona e agora lhe oferece abrigo e comida.

Ao entrarem na cabana surge uma mulher alta, de pele morena, com uma lamparina na mão. E entrega aos dois homens pedaços de pano para que se enxuguem, pois, apesar de ser rápida a chegada, os dois se molharam.

A cabana é de chão batido, dois bancos de madeira, uma mesa que mais parece o tronco de uma árvore. E no canto esquerdo da tapera um fogão à lenha com um bule de café, e três panelas de ferro escuro.

O homem é alto e forte, aparenta ter aproximadamente uns trinta e poucos anos, aparência rude, semblante grave, mas quando abre a boca para conversar com o viajante tudo muda, e transparece o que realmente é.

Uma pessoa simples, de voz serena, e quando estende a mão para cumprimentar o andarilho, o viajante sente uma mão forte e calejada pela labuta do esforço diário.

Os dois sentam-se à mesa para comerem. A mulher coloca a lamparina próxima a eles, e ali os dois começam uma conversa, que há muito foi programado pelo arquiteto do universo.

A sombra da luz da lamparina mostra um par de asas, que somente é perceptível aos olhos dos grandes emissários enviados pelo Criador para a evolução das espécies e do alinhamento dos planetas.

A conversa flui como a chuva que cai do céu, sem pedir permissão a ninguém, e ali ficam dois mutantes celestes, que têm o corpo revestido na carne, mas uma alma liberta pelos séculos de evolução transmutativa interplanetária.

O significado daquela conversa já está escrito há séculos no livro da vida, mesmo que aqueles personagens pareçam estranhos, estão ligados por laços eternos, pois a missão de ambos é de crescimento e regeneração, filhos da luz, generais do exército da sabedoria quântica.

Seres que empunham a espada de luz e da evolução cósmica descendentes da semente da criação.

O homem diz em tom grave ao andarilho:

– Meu caro tem noites que acordo coberto de luz, fico entre a realidade e o imaginário, me perco dentro de mim mesmo. Mas tenho certeza de que tenho uma missão anterior a minha vinda a este plano, não sei em que ponto ouve uma ruptura, mas o pagamento de dívida sublime me da força para continuar minha missão.

O andarilho olha com espanto para o homem, um ser consciente de uma dívida advinda de algo que não fez, mas não quer deixar um rastro negro na sua jornada evolucional.

O anjo da regeneração cósmica continua a expor ao andarilho o sentido de sua existência na carne.

Caro anjo de luz, minha missão é organizar um exército de luz para formar um escudo galáctico quântico por ondas de pensamentos construtivos.

O andarilho pergunta do início de sua jornada neste plano.

O anjo, com feições de tristeza, conta como veio em carne:

– Meu caro, vim de uma relação amaldiçoada. Minha mãe ainda era muito jovem quando foi molestada por um tio, o fato gerou muito escândalo, pois o tio colocou a culpa nela. Como todos viviam debaixo de suas asas pelo fato dele ser o dono de tudo, ninguém quis colocá-lo em dúvida.

Todos ficaram contra ela, amaldiçoaram-na, apedrejaram, disseram muitas calúnias a seu respeito.

E ao final a colocaram para ir embora da fazenda. Foi muito difícil para ela, nem mesmo seus pais a apoiaram, pois tinham outros filhos e ficaram com medo de perder o lugar que moravam de favor.

Ela saiu pela estrada grávida e sozinha, andou por vários dias até perder suas forças.

E em um amanhecer gelado, ela dormia à beira da estrada coberta de orvalho e o sereno da madrugada. Foi quando veio um homem pela estrada, montado em um cavalo negro, e sobre a sua sombra pairavam asas que faziam sombra pela estrada.

O cavaleiro pegou-a, e colocou em seu colo sobre a cela do espírito guia em forma de cavalo e a levou até sua morada, em uma caverna no alto da colina. E por ali ele a deixou. Aos poucos ela foi se recuperando, e acabou se apaixonando pelo coração bondoso de seu salvador.

Ele vivia para cuidar dela, pois sabia que não era pai daquele filho, mas era o guardião daquela alma.

Nasci e cresci com aquele ser rústico que tinha como única missão me proteger e cuidar para que eu crescesse uma pessoa do bem.

E assim foi. Com o passar dos anos ele me ensinou os segredos do universo, e me mostrou que na simplicidade da vida é que se encontram os maiores tesouros. E que as pequenas coisas que desprezamos são os maiores tesouros do universo. Minha mãe tinha uma admiração tão grande por aquele ser, que era maior do que ele representava para todo o universo.

E assim eu cresci, e quem passou a ser o guardião daqueles anjos de luz materializados em carne fui eu mesmo.

Depois de homem formado fui à busca dos meus avós, não foi fácil reconstruir os caminhos do destino.

Mas perseverei, minha jornada durou dois anos, três meses e sete dias, até que eu parei diante da porteira da fazenda onde minha mãe saiu para nunca mais voltar.

Apeei do meu cavalo, movido por um ódio sem limites, e andei até a casa que ela sempre me descreveu.

Ali chegando senti que há muito já havia estado ali em viagem astral.

Bati na porta do que um dia foi uma casa, agora só uma construção corroída pelo tempo terreno, onde tudo tem um tempo limite. Saiu um ser com forma humana. Ao me ver ele me disse:

– Entre, sempre esperei por você.

E não morrerei enquanto não tiver seu perdão, meu filho.

Deu-me pena daquele projeto existencial, que ainda andava quase rastejando e falava balbuciando.

– Filho não te peço perdão, pois nem eu mesmo me perdoo. Sou uma alma que vaga em um corpo que apodrece pouco a pouco.

Sei do meu erro, mas paguei muito caro por tudo que fiz.

Minha dívida transcende minha alma, e vago dentro de mim mesmo em busca do que perdi.

O anjo regenerador sente toda dor daquele ser, e sabe que mesmo o perdoando ele jamais se perdoará.

O homem pede que seu filho o escute.

O anjo abaixa a cabeça e faz um sinal que sim.

O homem então começa.

– Meu filho, após cometer o erro que custará muitas idas e vindas a planos inferiores, minha vida se transformou. Eu, que era o homem mais rico e bonito da região, e que tinha a missão que hoje é sua, caí em tentação com meu próprio sangue. Todos fingiam acreditar em mim, mas sabiam quem era sua mãe, e o fato de não terem feito nada os corroeu de remorso, no dia em que ela partiu sem levar nada e ainda grávida.

Aos poucos todos foram me deixando, e ninguém queria vir trabalhar aqui. Esta fazenda virou símbolo de maldição, o gado enfraquecia e morria, por mais que eu me esforçasse. Meu irmão não resistiu muito tempo, logo morreu corroído de remorso, e assim foi com o resto da família.

Quando ia até a cidade todos viravam as costas para mim, perdi o crédito, o respeito e, por fim, o amor próprio.

As terras outrora férteis se tornaram inférteis, a minha doença se estendeu a tudo que era meu ou que eu tocasse.

Nem mesmo o privilégio de morrer na carne foi me dado, por mais que eu tentasse tirar minha própria vida. Oh, por mais que eu tentasse.

Assim quis o destino, e sei que sua partida se tornará o descanso da minha alma.

Fui injusto, covarde, contei uma mentira que ninguém acreditou. Se aceitaram foi por comodismo e conveniência.

Mas estou aqui, arrependido e pronto a quitar meu débito, e por quantas vezes eu voltar, mesmo que a carne não saiba o porquê do sofrimento, a alma vai suportar.

Até que pelas ampulhetas do tempo espero a remissão da minha dívida.

O andarilho a tudo ouve, e sabe que aquilo é crescimento à custa de muita dor.

Mas a missão exige que aquele guerreiro passe por tudo aquilo por erros advindos de um passado mais distante que a própria existência humana.

E se teve que ser assim é que quanto maior a dor, mais forte se vem para jornada seguinte.

A conversa termina, o cavaleiro sai a passos lentos em direção da porteira que libertara sua alma.

E para trás deixa um ser que dá o último suspiro na carne.

E segue uma nova jornada, a qual terá que aproveitar ao máximo todo sofrimento que venha passar.

E assim segue o cavaleiro o mesmo caminho que um dia seguiu aquela que lhe trouxe a vida.

No início foi angustiante, mas na jornada de volta as cicatrizes foram se fechando, pela prece daqueles que estão do outro lado.

À volta para casa foi o nascimento de um novo homem, que passou a ir à busca de sua missão dentro de si mesmo, guiado por forças angelicais.

Toda angústia e amargura de anos de existência se juntou à poeira da estrada, que se esvaiu com pequena brisa saída das asas de anjos protetores guias de sua missão terrena.

Nem o próprio andarilho tem consciência de sua missão quanto aquele ser que se ilumina sobre uma luz de uma lamparina.

A admiração é mútua, pois o anjo reconhece o andarilho e sabe a grandeza daquele ser que vaga por múltiplas dimensões em busca de exemplos que transcendem multiversos.

Gerando ondas positivas, e levando os exemplos de seres que foram exemplos de superação em jornadas tão simples e tão sem sentido.

Histórias que mudam vidas e criam caminhos alternativos, pois os exemplos arrastam e servem de inspiração a quem está perdido no universo íntimo, que julga e condena seres a sofrimentos mentais que a ciência humana trata como loucura.

Se nascemos como crianças e para que possamos crescer, não só em tamanho, mas também em conhecimento, nosso desenvolvimento vai depender dos mestres que nos guiarão no caminho do conhecimento humano na sua forma mais pura.

Pois na primeira idade é bem mais fácil corrigir ideologias dissonantes, e plantar sementes que possam dar bons frutos. Ensinando os novos seres que tomarão as rédeas do destino futuro com um novo olhar.

Para formarmos bons líderes devemos abrir as mentes em desenvolvimento de forma multidisciplinar para que uma nova ótica se estabeleça, e os seres não se sintam perdidos nos momentos de grandes tribulações.

O andarilho concorda com tudo que ouve daquele homem, as palavras parecem sair de sua própria boca, mas é assim e deve continuar assim, pois os dois vieram da mesma escola, e foram alunos dos mesmos mestres.

O andarilho, fazendo um gesto de positivo com o olhar e com a concordância mental, pede ao anjo regenerador que continue sua exposição sobre o assunto.

Assim o anjo continua.

– A vida desde o seu início obrigou os seres a se agruparem, para se defenderem dos inimigos naturais e humanos, e nesses grupos sempre se despontaram líderes naturais.

Seres com uma superioridade moral, mental, intelectual e física maior que a grande maioria que compunha o grupo.

Mas em um plano mais evoluído em termos de sociedade os sábios  quem guiam a grande massa, gerando assim uma grande onda de energia mental intelectiva, que cria um padrão moral e intelectual superior.

E foram estes seres que criaram a escola multiversal do conhecimento, seres esses que vibram em um padrão totalmente diferente do que conhecemos.

E que são enviados à terra para promover todos os tipos de mudança que farão com que nosso planeta vibre em consonância com as energias criadoras e multiplicadoras da mente original.

Caro andarilho, tenho uma missão. Mas não preciso ir em busca dos elementos multiplicadores. Todos chegam a mim, e aqui dou as coordenadas necessárias para continuidade da missão.

Preciso que seja assim, não quero julgar quem está em condições de seguir a jornada conosco ou não.

Mas minha missão continua, já espalhei meus olhos por toda essa esfera, e saiba que você segue o roteiro de sua missão.

E que um dia juntos iremos lembrar da regeneração deste planeta junto ao cosmo.

Sua busca nunca vai parar, você segue o fluxo contiínuo da própria vida.

Vá amigo.

E nunca esqueça sua missão regeneradora, crie os caminhos que se fizerem necessários para propagação da ideia original.

E a cada passo que der minha sombra estará ao teu lado te guiando e iluminando nessa jornada terrena.

Siga em paz.

O andarilho, com lágrimas nos olhos, ouve a tudo, no silêncio de sua alma, pois o locutor não precisou mover os lábios para renovar suas forças em sua missão terrena.

Assim o andarilho segue seu caminho, e pensando no grande general do exército da luz que veio a este plano dividir sua sabedoria com os emissários das correntes do tempo.

O grande general veio apenas comandar os arcanjos de luz, e se isolou naquele local esquecido por todos, para que possa orientar mentalmente aqueles que disseminam a boa nova.

E assim segue o andarilho pelas estradas da vida, tendo aquele ser como o norte de sua missão.

(Paulo César de Castro Gomes. , graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência universitária pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduando em Criminologia e Segurança Pública pela Universidade Federal de Goiás. (email. [email protected]))

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